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319 titles
- DirectorPablo TraperoStarsJorge RománMimí ArdúDarío LevyA young locksmith is forced to leave his home and family to join the Buenos Aires police force."É quase uma sina dos países da América Latina: os filmes de começo de carreira são quase sempre os melhores. Foi assim com Pablo Trapero, cujo "El Bonaerense" foi um dos sinais do surgimento de uma geração formidável de diretores argentinos. O filme acompanha o jovem Zapa, que, depois de se envolver por acaso numa situação criminal, é mandado para Buenos Aires, onde se torna policial. Já para entrar para a polícia, a verdade é comprometida. O pequeno deslize é o início de uma observação profunda sobre corrupção: não como crime premeditado praticado por gente má (como em "Tropa de Elite"), mas como um deslizar em que camaradagem, coleguismo e hábito se misturam insidiosamente. Filme precioso do cineasta que hoje faz coproduções de sucesso maiores, competentes e um tanto óbvias (Elefante Branco, Abutres)." (* Inácio Araujo *)
- DirectorDaniel BarnzStarsJennifer AnistonAdriana BarrazaAnna KendrickThe acerbic, hilarious Claire Bennett becomes fascinated by the suicide of a woman in her chronic pain support group. As she uncovers the details of Nina's suicide and develops a poignant relationship with Nina's husband, she also grapples with her own, very raw personal tragedy.''A primeira pergunta é: como a América consegue sobreviver a terapias de grupo de apoio como a que abre "Cake - Uma Razão para Viver"? Em todo caso, uma das clientes do grupo prefere o suicídio a continuar com as reuniões. Claire (Jennifer Aniston), outra cliente, acaba pulando fora - ou sendo ejetada por colocar questões um tanto inquietantes. Claire tem o rosto marcado por cicatrizes, e eis um sinal bem lançado pelo filme: por que essas cicatrizes? Saberemos a razão ao longo do filme, não de imediato - e eis outro ponto a favor: permitir ao espectador que tome contato com a história aos poucos. Talvez os problemas comecem aí: quando mergulhamos na história notamos que não há tanto assim a saber. Claire sofreu um grave acidente, separou-se do marido, só se relaciona com a empregada mexicana boazinha, vive à custa de remédios, sofre de depressão profunda e com as dores físicas do acidente. Entre os méritos do diretor Daniel Barnz acrescente-se a maneira sintética e eficaz como mostra que Claire é uma morta-viva: sempre anda de carro com o banco recostado. Ela olha para cima, nunca para o mundo. Não vê outra paisagem que não copas de árvores. Como em O Vampiro de Dreyer. E um diretor que reencontra Dreyer merece atenção. Fazer milagres é outro departamento. À parte os achados felizes, o filme se arrasta, marcado apenas por algumas aparições surpreendentes, mas sem desdobramento. No mais, à falta de relações sociais, Claire limita-se a conviver com o fantasma da moça que se matou. Na vida real mantém relações com o marido da moça e o filhinho do casal. Estes carregam o mesmo problema de Claire: como sobreviver após perdas terríveis? A aproximação entre eles gera um grupo de apoio informal, nem mais nem menos eficaz do que um grupo que tivesse uma terapeuta de ofício: trata-se de levar a vida como é possível, em busca de um sinal (um bolo, por exemplo) que sirva como razão para tocar adiante. É mais ou menos isso. Não muito, mas com certa desenvoltura.'' (* Inácio Araujo *)
72* Globo - DirectorAnthony ChenStarsYann Yann YeoTian Wen ChenAngeli BayaniIn 90s Singapore, the friendship between Filipino nursemaid Teresa and her young charge Jiale makes waves in a family, while the Asian recession hits the region.''A conquista da Caméra d'Or por Anthony Chen, 31, no Festival de Cannes de 2013 não é um daqueles méritos que se apagam com a memória das competições. O prêmio, concedido a um trabalho de estreante exibido numa das seleções do festival francês, conferiu merecida distinção ao singular trabalho do diretor cingapuriano em "Quando Meus Pais Não Estão em Casa". Como sugere o título, o filme narra, em parte, as aventuras de um garoto na ausência da família. Mesmo que o endiabrado Jialer lembre muito o Antoine Doinel de Os Incompreendidos, de Truffaut, e outras crianças do cinema, o longa de Chen não fica só na evocação da infância, tendência de primeiros longas de jovens diretores. Num primeiro momento assistimos aos distúrbios domésticos provocados pela insubordinação do pequeno Jiale, mas logo entra em cena uma personagem que descentraliza a trama e abre perspectivas além do drama infantil. A chegada de Terry, empregada de origem filipina, explicita outros desarranjos domésticos e expõe temas como a exploração social e os efeitos da crise econômica. Ambas questões apagam a distância exótica que poderia ter um filme vindo de Cingapura e torna seu relato bem familiar ao nosso cotidiano. O parentesco com o elogiado Casa Grande é evidente e estimula uma comparação do modo como dois jovens diretores solucionam problemas comuns de representar e transmitir mensagens. A escolha de "Quando Meus Pais Não Estão em Casa" concentra-se menos no discurso sociológico e mais nos afetos. Uma primeira face do filme aponta a distância dos pais, a ausência deles e o poder repressivo que ambos impõem no trato com o garoto. A empregada, no entanto, não consegue reproduzir a hierarquia entre adulto e criança nem assume de imediato o papel de mãe substituta. Sua relação com o menino começa com disputas e abusos, um padrão que transpõe a exploração para a escala de um miniditador. À medida em que o trato entre Terry e Jiale deixa de ser só de subordinação, o filme capta outros efeitos da convivência física entre patrões e empregados nos olhares da mãe, expressão de repelência à intrusa. Outro tema relevante do filme é a crise financeira. As demissões todos os dias no escritório da mãe e a situação de desemprego do pai ampliam o drama para além da zona doméstica e complementam o registro de desintegração de uma ordem imposta. Se tudo no filme tem uma aparência micro, banal, o efeito que ele provoca, ao contrário, é amplo e de longa duração." (Cassio Starling Carlos)
2013 Palma de Cannes - DirectorBenoît JacquotStarsBenoît PoelvoordeCharlotte GainsbourgChiara MastroianniA tax inspector, his new bride and her sister become entwined in a love triangle.''Bons filmes são os que, em geral, contam uma história original, capaz de surpreender e entusiasmar o público. Mas bons também podem ser aqueles cujo prazer vem da habilidade com que manejam temas conhecidos. "3 Corações" é um exemplo. Como experiente alquimista, o diretor francês Benoît Jacquot combina elementos conhecidos de melodramas clássicos. Tarde Demais para Esquecer, por exemplo, inspira o tema do casal que se conhece ao acaso e se perde também ao acaso. O menos célebre A Esquina do Pecado extraía emoções do reencontro tardio. Jacquot transpõe essas situações para o interior da França contemporânea, mas rebaixa os excessos do sentimentalismo do melodrama com um distanciamento irônico, um poder de observação mais interessado na lógica do que no transbordamento das emoções. A situação envolve Marc, fiscal de impostos quarentão que perde o último trem na hora de voltar para casa em Paris ao encerrar uma semana de trabalho numa pequena cidade do interior. Num bar, ele é atraído pela entrada de Sylvie. Logo estabelece com ela um jogo de sedução que só se cumpriria na sexta-feira seguinte, num reencontro marcado no romântico cenário parisiense. Compromissos de trabalho provocam seu atraso e a promessa amorosa termina em frustração para ambos. Tempos depois, Marc conhece e se apaixona por Sophie, que ele não sabe ser irmã de Sylvie e não demora até ser traído pelo destino. Se a trama não traz nada tão diferente do que estamos cansados de ver em novelas, a força que o filme alcança depende do modo como Jacquot suspende e adia os encontros, acelera os acontecimentos para sugerir um destino que foge ao controle. Inspirado em filmes como As Duas Inglesas e o Amor ou A Mulher do Lado, ambos de François Truffaut, que examinou como poucos a imperfeição dos triângulos amorosos, Jacquot se interessa pela desordem provocada pelo retorno do sentimento reprimido. Para alcançar esse resultado, "3 Corações" depende primordialmente de um elenco capaz de equilibrar contenção e desorientação por meio quase só de olhares. A combinação de Charlotte Gainsbourg (como Sylvie) e Chiara Mastroianni (Sophie) como irmãs não se baseia na semelhança física, mas na tonalidade da atuação de ambas, o que permite acentuar o efeito de sobreposição de suas personagens. Apesar de ter um papel mais decorativo, Catherine Deneuve faz funcionar a ideia de vínculo familiar ao contracenar com Chiara, sua filha. Mas é Benoît Poelvoorde, o protagonista, a escolha mais feliz, pois a imagem do ator belga não se confunde com a de galã e essa distância do ideal dispara uma simpatia imediata pelo personagem de homem comum incapaz de se manter no rumo." (Cassio Starling Carlos)
''Triângulos amorosos servem para alimentar muitos filmes. Este, de Benoît Jacquot, não preza pela originalidade. Quarentão se apaixona por uma mulher, perde contato com ela e, tempos depois, se envolve com outra, sem saber que esta é irmã da antiga paixão. Jacquot não é François Truffaut, (1932-1984), mestre do tema, mas conduz muito bem a trama e extrai grandes atuações dos sedutores Benoît Peolvoorde, Charlotte Gainsbourg e Chiara Mastroianni.'' (Thalçes de Menezes)
2014 Lion Veneza - DirectorMatthew WeinerStarsOwen WilsonZach GalifianakisAmy PoehlerTwo childhood best friends, one a superficial womanizer and the other a barely functioning bipolar, embark on a road trip back to their hometown after one of them learns his estranged father has died.''Aguardada estreia na direção de longas-metragens de Matthew Weiner, criador da brilhante série de TV Mad Men, "Para o que Der e Vier" foi um fracasso de público e crítica nos Estados Unidos. O resultado, porém, está longe de ser um desastre completo. Desconjuntado? Sim. Dispersivo? Também. Mas com alguma personalidade e muita alma. É provável que parte da frustração com o filme surja junto com a alta expectativa criada pela assinatura de Weiner. Mas outra parte pode ser creditada ao fato de "Para o que Der e Vier" ser um objeto inclassificável. No primeiro terço da projeção, parece que estamos vendo uma clássica stoner comedy, uma comédia de amigos chapados de maconha. Os protagonistas são Ben Baker (Zach Galifianakis), adulto infantilizado que passa o dia fumando maconha no sofá de casa, e seu amigo Steve Dallas (Owen Wilson), superficial homem do tempo de uma estação local de TV. Eles vivem uma relação simbiótica: Steve sustenta o amigo de infância, e Ben lhe dá o conforto emocional que ele não encontra nas relações com as mulheres. Galifianakis repete o papel de maluco adorável que celebrizou em Se Beber, Não Case!, e Owen Wilson reprisa o malandro sedutor de Penetras Bons de Bico e outros tantos filmes. Quando tudo parece programado para mais uma comédia nessa linha, o filme dá sua primeira virada - e, no segundo terço, se torna uma comédia dramática familiar com um pouco de romance. Ben recebe a notícia da morte do pai, reencontra a irmã gananciosa (Amy Poehler) e descobre que herdou uma fazenda e ficou milionário. De quebra, conhece sua madrasta jovem, linda e meio hippie (Laura Ramsey), por quem Steve se apaixona. E, quando estamos nos acostumando ao romance, mais uma virada - e, no terço final, o filme se torna um pesado drama psiquiátrico. Ben percebe que não é apenas um esquisitão simpático, mas um esquizofrênico que precisa de tratamento. Parece que Weiner tentou encaixar em um longa de duas horas o arco dramático de um personagem em uma temporada inteira de série. Desse descompasso, nasce um filme desajeitado, cheio de arestas, mas com a beleza da imprevisibilidade e algo relevante a dizer sobre inadequação - o que é mais que certos filmes "redondinhos" costumam oferecer." (Ricardo Calil)
- DirectorNuri Bilge CeylanStarsHaluk BilginerMelisa SözenDemet AkbagA hotel owner and landlord in a remote Turkish village deals with conflicts within his family and a tenant behind on his rent.''Em "Sono de Inverno", do turco Nuri Bilge Ceylan, um menino atira uma pedra na janela de um carro. O motorista desse carro vai atrás do menino e consegue alcançá-lo. Evento corriqueiro, pensamos inicialmente. O menino é levado ao pai, e este se mostra tenso. Aos poucos o enredo vai se revelando. O carro levava Aydin (Haluk Bilginer), escritor, ex-ator, dono de um hotel na Anatólia (Turquia). Ele também é proprietário de várias casas na região, e o motorista, Hidayet (Ayberk Pekcan), é quem cuida, na prática, de seus negócios. Ou seja, para poder escrever ou se dedicar ao ócio, Aydin delega seus poderes a gente de sua confiança, ficando confortavelmente alheio aos problemas das pessoas que dependem de sua tolerância. O pai do menino que atirou a pedra, Ismail (Nejat Isler), saiu recentemente da prisão, está desempregado e há meses não paga o aluguel. Deve para Aydin, proprietário de sua casa. O irmão de Ismail, Hamdi (Serhat Mustafa Kiliç), procura amaciar a relação entre Aydin e Ismail. A partir da pedra no vidro surge uma história complexa, que se desenrola aos poucos, em mais de três horas. O filme trata de coisas irreconciliáveis, como também da história de Aydin, sua irmã Necla (Demet Akbag) e sua mulher, Nihal (Melisa Sözen). Há, por certo, uma confusão nas prioridades de Aydin. Quer ajudar uma jovem que nem conhece, mas não pensa naqueles que padecem sob suas asas, sendo prejudicados dia a dia por sua indiferença. Para completar, ele trata com desprezo o projeto de caridade que Nihal organiza com carinho. Esses impasses nos levarão a momentos em que os detalhes ganham corpo, em que as palavras não ditas, ou ditas de maneira atravessada, transformam pequenas crises (sociais ou conjugais) em situações incontornáveis. E o início não nos abandona mais, levando-nos a pensar sobre o que representa aquela pedra. Uma mágoa profunda, passada de pai para filho, de subjugados contra aqueles que os subjugam? O desejo de resolver, com um acidente provocado, anos e anos de injustiça social? O certo é que não estamos diante de um filme qualquer. Premiado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2014, "Winter Sleep" mostra a complexidade do mundo, dos sentimentos e da vida em sociedade, evitando as facilidades e o oportunismo de quem levanta bandeiras automaticamente. É a confirmação da maturidade de Ceylan, após um terceiro longa razoável e derivativo, Distante, os fracos Climas e Três Macacos e a recuperação com o belo Era Uma Vez na Anatólia." (Sergio Alpendre)
2014 Palma de ouro / 2015 César - DirectorTerence DaviesStarsRachel WeiszTom HiddlestonAnn MitchellThe wife of a British Judge is caught in a self-destructive love affair with a Royal Air Force pilot.''Filme tipicamente inglês, com uma tensa história de paixão proibida. Depois da Segunda Guerra, a mulher de um juiz se envolve com um piloto um tanto traumatizado pelas batalhas. O caso é descoberto e tudo se complica. Poderia ser um drama romântico dentro dos padrões habituais do gênero, mas o filme tem dois grandes trunfos para garantir mais interesse: a beleza de Rachel Weisz e o carisma e talento de Tom Hiddleston. Conhecido como o Loki dos filmes do Thor e dos Vingadores, ele é um ator excepcional.'' (Thales de Menezes)
70*212 Globo - DirectorJason FriedbergAaron SeltzerStarsAlex AshbaughDale PavinskiLili MirojnickA spoof on The Fast and the Furious (2001) and the following F&F movies. An undercover cop joins a gang of criminal street racers to get close to the LA crime kingpin.''Em 1980, três insanos realizam o demolidor Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu, longa que satirizava, entre outras coisas, o filme catástrofe, moda durante os anos 1970. Nos anos seguintes, muitas sátiras do tipo foram feitas, com destaque para Top Secret e Corra que a Polícia Vem Aí. Mas algo se perdeu. A insanidade genial do original de 1980 jamais foi reprisada. Chegamos então a "Super Velozes, Mega Furiosos", sétimo longa de Jason Friedberg e Aaron Seltzer, os maiores responsáveis pelo subgênero atualmente. Desta vez, o humor rasteiro é direcionado à franquia de filmes Velozes e Furiosos, que chegou recentemente à sétima encarnação. Mesmo quem nunca viu um filme da série deve saber por alto o que se passa em sua trama: jovens se reúnem clandestinamente para apostar corridas com seus automóveis envenenados. Num ambiente em que a mulher é sempre enfeite, esses jovens disputam amores e a supremacia da velocidade. Os clichês são todos satirizados: o branquelo rico e bonitinho, os tatuados de caras feias, as mulheres fogosas, a participação especial de um rapper, a disputa homoerótica pela amizade do vilão, etc. O fato é que os blockbusters zombados nesse tipo de filme são mais engraçados, involuntariamente, do que suas sátiras."(Sergio Alpendre)
- DirectorAlex Ross PerryStarsJason SchwartzmanElisabeth MossJonathan PryceWhen a self-obsessed novelist (Jason Schwartzman) has problems with his novel and his girlfriend (Elisabeth Moss), he seeks refuge in his mentor's cottage where the peace and quiet allow him to focus on his favorite subject - himself.''Na reta final de Mad Men, a atriz Elisabeth Moss, intérprete da publicitária Peggy Olson em seu trabalho de mais destaque até hoje, estreia no Brasil o longa independente "Cala a Boca, Philip", ao lado de Jason Schwartzman e Jonathan Pryce. Na série da TV, sua personagem passou de secretária a chefe de uma equipe, teve um caso com um colega que resultou numa gravidez indesejada e, agora, entra aos trancos e barrancos em um universo dominado por homens gentis e cafajestes, avessos a novos comportamentos, com exceção aos que trazem mais dinheiro ou mais poder. Ou sexo. Até o último dia 3, na Broadway, Moss protagonizava a peça The Heidi Chronicles, ao lado de Jason Biggs (de Orange Is the New Black, uma revelação no teatro), com plateias lotadas e pelo menos um monólogo da atriz que deixava o público ou imóvel ou aos prantos. Era uma cena em que a feminista Heidi, que apostou na carreira e, no processo, perdeu o grande amor de sua vida. E se vê, aos 40, sozinha e invejosa das amigas mais convencionais. Em uma palestra para uma turma de estudantes, diz que não entende mais o feminismo. Não era para sermos mais unidas? O feminismo não vai emplacar como prometia porque as mulheres, afinal, se odeiam Elisabeth Moss se mostra uma atriz cada vez mais interessante. Aos 32 anos, com 25 de carreira (começou aos sete no telefilme Bar Girls), já passou por outra série de sucesso e prestígio, West Wing: nos Bastidores do Poder, e, mais recentemente, pela ótima minissérie Top of the Lake. Na vida pessoal, casou-se com e se divorciou do comediante Fred Armisen, ex-integrante do Saturday Night Live. E virou cientologista, o culto de que fazem parte Tom Cruise e John Travolta. No cinema, já foi dirigida por Walter Salles em Na Estrada e fez o muito bom e muito esquisito Complicações do Amor. Agora é a principal personagem feminina deste "Cala a boca, Philip", um pseudo-Woody Allen, com um personagem principal egocentrado, deprimido e verborrágico. Philip é um escritor, com um primeiro romance best-seller, que sofre para escrever o segundo livro. Moss é sua namorada, com quem vive em Nova York, uma cabeleireira e artista plástica descolada e independente, com pouca paciência para os dramas do parceiro. Até que ele conhece um escritor bem mais velho e consagrado, um de seus ídolos (papel de Jonathan Pryce), que oferece a ele uma casa na praia, onde vai ter a calma necessária para produzir. Mas, lá, Philip conhece a filha maluquete do escritor e se envolve romanticamente. O filme é interessante, tem bons diálogos, boas piadas, situações inusitadas. Mostra um cineasta a caminho de boas realizações. E mais uma prova do talento camaleônico de Moss. Que, espero, tenha inspirado o criador de Mad Men, Matthew Weiner, a escrever um final épico para Peggy Olson, uma das melhores personagens de uma das melhores séries da TV atual." (Teté Ribeiro)
- DirectorRoy AnderssonStarsHolger AnderssonNils WestblomViktor GyllenbergSam and Jonathan, a pair of hapless novelty salesmen, embark on a tour of the human condition in reality and fantasy that unfold in a series of absurdist episodes.''O público que escolhe filmes só pelo título pode nem querer chegar perto de algo chamado "Um Pombo Pousou num Galho Refletindo Sobre a Existência" (tradução literal do título em sueco). Quem prefere se guiar por premiações importantes talvez encontre no filme do sueco Roy Andersson, vencedor do Festival de Veneza de 2014, estímulo para infinitas elucubrações. O filme encerra uma trilogia composta por Canções do Segundo Andar e Vocês, os Vivos, em que o diretor sueco propõe um estilo radical para retratar situações cotidianas e experiências banais, expondo a universalidade delas. No caso de "Um Pombo...", Andersson lança seu olhar peculiar sobre a morte, extraindo dela humor em vez de medo ou tristeza. Como nos outros filmes da trilogia, este também se compõe de esquetes curtos e sem a estrutura convencional da narrativa de cinema. Um prólogo descreve três mortes anônimas, nas quais se enfatiza o aspecto absurdo e sem sentido quanto costuma ser o restante da vida. A sucessão de quadros nos 100 minutos do filme obedece ao princípio de ausência de trama e, por consequência, de esvaziamento do drama. Apenas a reaparição de dois personagens beckettianos, uma dupla de vendedores de bugigangas, sugere algum fio de continuidade entre as situações. O papel deles, no entanto, é mais o de reiterar que tudo se repete sem levar a nada. As cenas são filmadas regularmente em planos fixos, como num quadro, com os atores à distância, sem closes que os individualizem ou nos aproxime do que sentem. O mesmo ocorre nos cenários e figurinos, em cores e tons apagados, e na maquiagem, que deixa os personagens aparentando defuntos. Essa elaboração visual induz à associação com os conceitos de morte, enquanto as cenas representam situações em que os vivos mais se assemelham a zumbis. Aqui, a duração curta dos esquetes e a elaboração visual derivam da experiência de Andersson como diretor de filmes publicitários. Quando transposta para o cinema, essa hipervalorização da imagem costuma nos deixar desatentos do que os filmes pretendem significar. Mas o cinema de Andersson escapa dessa distorção e tira proveito dela ao resumir a essência humana à caricatura. Em "Um Pombo...", no entanto, essa redução ao estereótipo esbarra no limite da proposta. Num primeiro momento, começamos rindo da nossa desgraça. À medida que a surpresa se apaga, tanto absurdo torna-se previsível e passamos a assistir ao filme quase com desinteresse." (Cassio Starling Carlos)
2014 Lion Veneza - DirectorGeorge CukorStarsMarilyn MonroeYves MontandTony RandallWhen billionaire Jean-Marc Clement learns that he is to be satirized in an off-Broadway revue, he passes himself off as an actor playing him in order to get closer to the beautiful star of the show, Amanda Dell."É difícil encontrar história mais banal que a de "Adorável Pecadora". Ali, Yves Montand é o arquimilionário que, ao ver Marilyn Monroe, uma atriz, se apaixona. Seria fácil para um milionário aproximar-se da garota. Mas ele não quer ser amado pelo seu dinheiro, mas sim pelo que é - aquela xaropada toda. Como, então, estarmos diante de um filme absolutamente fascinante? É claro que Marilyn ajuda um monte. E que estar de caso com Montand não atrapalhava. Há, também, a direção fantástica de George Cukor, o melhor diretor de atrizes da Hollywood clássica. Mas existe algo que faz parte do cinema e tantos relutam em notar: a história é apenas um dos aspectos de um filme, não o central. É próprio do cinema absorver o banal da trama e, sobre gestos, movimentos e entonações, erigir o fabuloso. É bem o caso aqui." (* Inácio Araujo *)
33*1961 Oscar / 18*1961 Globo - DirectorTom McCarthyStarsAdam SandlerMelonie DiazSteve BuscemiA cobbler, bored of his everyday life, stumbles upon a magical heirloom that allows him to become other people and see the world in a different way.''Inverter a ordem, trocar posições e registrar os desarranjos que isso pode provocar são recursos que fazem rir daquilo que fica fora do lugar. "Trocando os Pés" reproduz a fórmula depurada em clássicos, como Quanto Mais Quente Melhor, ou em variações, como Trocando as Bolas, sem conseguir sabor diferenciado. Em busca da eficiência na bilheteria, o roteiro junta um pouco de sonho de evasão para garantir um par de horas longe da vida e dos problemas. Na comédia doce-amarga, Adam Sandler faz o papel de Adam Sandler, ou seja, um sujeito aparvalhado, colocado numa situação em que tudo pode dar errado. Sandler interpreta Max, um sapateiro nova-iorquino que um dia descobre que a máquina da loja ganhou poderes extraordinários. A premissa combina uma situação de conto de fadas com as possibilidades de filme de super-herói. Basta calçar um par diferente de sapatos para ter acesso a mundos antes inacessíveis. Tirar dos pés os tênis surrados e colocar calçados bacanas provoca, no fim das contas, o mesmo efeito de vestir a roupa do Superman e do Homem-Aranha. Max pode ficar com a mulher dos seus sonhos, por exemplo, que namora o cara rico da vizinhança e mal dá conta de sua presença. O indivíduo pacato e entediado pela rotina de um trabalho sem graça também vai viver situações de aventura e e se safar sem arranhões. Como ele é um sujeito de bom coração, poderá permitir à mãe reviver momentos de muita emoção quando reencarnar o pai num jantar de reencontro. A tarefa mais arriscada, no entanto, será desmontar o esquema armado por uma exploradora para tomar posse da área de pequenos comércios onde fica a sapataria. Essa mistura de elementos de denúncia à especulação imobiliária que descaracteriza as regiões tradicionais de Nova York serve para dar um toque de seriedade à comédia, mas só está ali para esticar as possibilidades rocambolescas. Com seus superpoderes, Sandler pode ser ora um capanga mal-encarado, ora um senhor bondoso exposto à ferocidade financeira, jogar com as aparências para combater a injustiça. No final, basta tirar os sapatos para voltar ao sossego. Mais ou menos o que a maioria quer quando entra na fila da bilheteria. Melhor ainda se a combinação usar apenas mais do mesmo." (Cassio Starling Carlos)
- DirectorRussell CroweStarsRussell CroweOlga KurylenkoJai CourtneyAn Australian man travels to Turkey after the Battle of Gallipoli to try to locate his three missing sons.''Estrelas de cinema cada vez se contentam menos com o prestígio diante das câmeras e em desfilar no tapete vermelho. Todo ano aumenta o número de atores de prestígio que decidem passar à direção.
Com raros e honrosos casos, como Paul Newman outrora e Tommy Lee Jones nos últimos tempos, a maioria busca apenas mais espaço para fazer tudo o que não pode quando está sob o comando de outro diretor. "Pecados de Guerra", primeiro longa de ficção dirigido por Russell Crowe, reúne o pior desse tipo de produção. O próprio Crowe protagoniza a enfadonha trama sobre um fazendeiro australiano que parte para a Turquia ao fim da Primeira Guerra. O intrépido personagem quer resgatar os restos mortais de seus três filhos, vítimas junto a outros milhares de jovens na carnificina da batalha de Gallipoli. Em sua jornada de herói, ele tem de superar os maus modos dos turcos e a postura colonialista dos militares britânicos. Os cenários são exóticos, os figurinos, desenhados com apuro; os militares loiros de olhos azuis e pele bronzeada exibem o físico sem camisa e em uniformes apertadinhos. Para que todos esses fatores de prestígio sejam admirados, a fotografia banha cada milímetro da tela com uma luz que impõe uma beleza pronta e inconfundível. Crowe, no entanto, disfarça sua pança protuberante em ângulos calculados e distantes que impedem seus fãs de desconsiderá-lo um cinquentão descuidado. Assim como seu físico, sua direção mais para balofa impede que "Pecados de Guerra" se aproxime de seu horizonte estético, os épicos do britânico David Lean filmados em locações exóticas. O que se vê na tela é mais um catálogo de imagens saturadas de beleza publicitária, alinhavadas com overdose de sentimentalismo e pouca ou nenhuma noção de que cinema é para profissionais." (Cassio Starling Carlos) - DirectorAndré TéchinéStarsGuillaume CanetCatherine DeneuveAdèle HaenelAgnès Le Roux, a young independent woman, returns to Nice in 1976 to have a new start in her life after a failed marriage. All while falling in love with an older lawyer.''Reconstituir um caso real, um crime rumoroso, de modo a ressaltar o aspecto ficcional da história, perdida ao se transformar em notícia. Se a proposta não chega a ser inovadora, a segurança com que o veterano diretor francês André Téchiné a conduz em "O Homem que Elas Amavam Demais" alcança um resultado incomum. O cineasta toma como base o desaparecimento de Agnès Le Roux, jovem filha da proprietária de um cassino na Riviera Francesa, ocorrido em meados dos anos 1970 e até hoje sem solução. O título "O Homem que Elas Amavam Demais" combina a incontornável matriz Truffaut do cinema francês com um mistério de inspiração hitckcockiana. Téchiné, contudo, recusa a opção do pastiche para retrabalhar os motivos que dão sustento a seu cinema há décadas com pequenas variações. Do mesmo modo que em A Moça do Trem, também baseado num crime que alimentou por um tempo a crônica policial, o diretor se interessa menos pelos fatos e mais em percorrer as gradações que culminam na situação criminal. Em vez de uma narrativa policialesca preocupada em investigar, reconstruir para no fim determinar um culpado, "O Homem que Elas Amavam Demais" prefere se deter nos jogos de poder sem pretender decifrar os subterrâneos da psicologia. Como em O Lugar do Crime e em Os Ladrões, os personagens de Téchiné cedem à atração pela marginalidade, percebem o risco como uma alternativa ao tédio ou ao excesso de normalidade. Catherine Deneuve reaparece como atriz-fetiche do cineasta, mas desta vez não é ela que segue os impulsos e mergulha no lado selvagem. No papel da aristocrática Renée Le Roux, a estrela francesa interpreta a mãe contrariada pela filha movida pela paixão. Mais que prestígio, Deneuve empresta sua maturidade ao filme e oferece um contraste à natureza impulsiva de Agnès, interpretada por Adèle Haenel, vista há pouco em Amor à Primeira Briga, dirigido por Thomas Cailley. O personagem-título ganha consistência na aparência ambivalente de Maurice Agnelet (Guillaume Canet), cujo ar de bom moço, o cordeiro a que seu sobrenome alude, esconde a astúcia de um advogado que não demonstra reconhecer limites. Em torno dele, as mulheres gravitam movidas por interesses afetivos, materiais ou passionais. Téchiné, no entanto, prefere esvaziar o personagem de qualquer charme, o que garante que ele se mantenha opaco e misterioso. Se o estilo distanciado do cineasta pode frustrar quem busca uma ficção policial convencional, ele permite capturar numa forma depurada os movimentos de atração e repulsão, deixando na sombra as explicações e a moral que as acompanham." (Cassio Starling Carlos)
- DirectorXiaoling ZhuStarsXiang ChuifenShi GuangjinWu Shenming''Estreia no longa-metragem de Xiaoling Zhu, diretora chinesa radicada há 20 anos na França, "A Menina dos Campos de Arroz" é o primeiro filme falado em dong, língua minoritária do Sul da China considerada extremamente complexa. Rodado com atores não profissionais e com equipe técnica francesa, o filme é uma crônica próxima do documentário, ritmada pela sucessão das estações do ano, que põe em evidência uma família cuja identidade cultural está ameaçada pela modernidade. O povo dong viveu durante muito tempo em autarquia, isolado nas montanhas, e só começou a ter contato com certo "progresso" nas últimas duas décadas. Tem tradições ancestrais como o cultivo de arroz em terraços na montanha, a refinada arquitetura em madeira, o canto - que são mostradas por Zhu com olhar quase etnográfico. A Qiu (Yang Yinqiu) é uma garota de 12 anos que divide seu tempo entre a escola e o trabalho nos arrozais da família. Com a morte da avó, seus pais, que trabalham em grandes obras de construção civil numa grande cidade, retornam ao vilarejo natal cada vez mais despovoado por conta do êxodo rural. A Qiu, que sonha em ser escritora, conduz a narrativa comentando os acontecimentos e discorrendo sobre si mesma e seus desejos de emancipação. Saturada de temas - o confronto entre tradição e modernidade, o êxodo rural, a relação do homem com o trabalho, os combates entre búfalos, os dramas de A Qiu -, a proposta da diretora acaba se revelando ambiciosa demais. Ela parece hesitar entre as múltiplas possibilidades oferecidas pela ficção e a urgência de documentar um mundo e um modo de vida em vias de desaparecimento. Não aprofunda tema algum e cai no didatismo, algo acentuado pela voz narrativa da menina, que muitas vezes interfere no que mostra a imagem. O aspecto mais interessante é justamente a imagem, que destaca o que a paisagem tem de mais solene e suntuoso. O apuro formal da fotografia é decisivo para capturar a atenção do espectador."(Alexandre Agabiti Fernandez)
- DirectorAtom EgoyanStarsRyan ReynoldsScott SpeedmanRosario DawsonEight years after the disappearance of Cassandra, some disturbing incidents seem to indicate that she's still alive. Police, parents and Cassandra herself, will try to unravel the mystery of her disappearance.''É difícil ficar indiferente aos filmes do canadense Atom Egoyan. Eles podem variar o gênero, mas permanece uma preocupação de evitar a coisa fácil, palatável para o público. Sua obra mais complexa e impactante é O Doce Amanhã, história agridoce sobre como um grave acidente de ônibus muda a vida de uma cidadezinha. Este "À Procura" foge das artimanhas do gênero do drama policial, que Egoyan visitou antes em O Preço da Traição, com Julianne Moore e um resultado não tão bom quanto o que ele consegue agora. Oito anos depois do desaparecimento de sua filha, um homem acredita que ela está viva e investiga por conta própria novas pistas. Esse resumo do roteiro é enganoso. Egoyan injeta densidade a seus personagens e transforma a investigação em um jogo de verdades e mentiras perturbador. E arranca a melhor atuação da carreira de Ryan Reynolds.'' (Thales de Menezes)
''Depois da vaia que tomou no Festival de Cannes, no ano passado, quando apresentou o irregular "À Procura", o diretor canadense de origem armênia Atom Egoyan se arrisca com mais um suspense: "Remember" fez sua estreia mundial nesta quinta, em Veneza. Mas ao contrário do que se deu na França, a imprensa na mostra italiana aplaudiu bastante esse thriller geriátrico sobre o Holocausto. Christopher Plummer interpreta Zev, um octogenário sobrevivente de campo de concentração que resolve empreender uma vingança contra o oficial nazista que exterminou sua família. Pesa contra Zev uma demência senil moderada, que por vezes o faz se esquecer do propósito de sua missão. É um filme sobre memória, mas sobretudo sobre trauma, diz Egoyan à Folha. Era importante tratar do tema do nazismo nos dias de hoje: as testemunhas daquele tempo já estão velhas e frágeis. E para os mais jovens, todo aquele absurdo parece improvável. O elenco traz também o americano Martin Landau e o suíço Bruno Ganz (que interpretou Hitler em A Queda): já estou um pouco cheio de fazer filmes sobre o tema, brincou. Plummer, cuja performance foi bastante elogiada no Lido, não veio a Veneza, mas foi ovacionado assim que seu rosto apareceu via Skype na entrevista coletiva que se seguiu à projeção do filme. Esse personagem não foi fácil. Sempre interpreto gente com autoridade, ou até com alguma realeza, mas esse era um tipo comum, introvertido, alguém que não tem outro objetivo senão essa missão, disse o prolífico ator de 85 anos, que só foi ganhar seu único Oscar em 2010, por "Toda Forma de Amor". Já a coprodução México -Venezuela Desde Allá levou a realidade das ruas de Caracas para o Lido. Dirigido pelo estreante em longas Lorenzo Vigas, é a segunda das duas obras latino-americanas na competição; a outra foi a argentina El Clan, de Pablo Trapero. O drama trata de um sujeito de meia-idade com evidente dificuldades em se aproximar dos outros: mantém o hábito de pagar para que jovens pobres se dispam na sua frente, sem incorrer em qualquer contato físico. Cruza o seu caminho um adolescente em busca de afeto, personagem que também se encontra em outro espectro social: é um delinquente que perambula pelas ruas de Caracas. É mais um filme sobre carências emocionais do que sobre homossexualidade, afirma o diretor venezuelano. Vivemos num país em que se grita, se canta, se toca muito. Explorar a vida de alguém com essa barreira era interessante." (Guilherme Genestrertri)
2014 Palma de Cannes / 2015 Lion Veneza - DirectorSusanne BierStarsNikolaj Coster-WaldauNikolaj Lie KaasUlrich ThomsenA conscientious police officer who investigates a violent case of domestic dispute in the squalid apartment of a drug addict has to make the most contemptible decision in his life. Just how far would a parent go to get a second chance?''Se o cinema de Susanne Bier nunca foi digno de maior empolgação, sua ligação com a maior picaretagem da história do cinema, o Dogma 95, a partir de Corações Livres, não ajudou em nada. Os filmes seguintes repetiam algumas características do tão nefasto movimento, sobretudo o péssimo uso da câmera na mão, recurso que, quando bem empregado, pode surtir um bom efeito, mas nos filmes do Dogma é geralmente pensado para irritar ou enjoar o espectador. Algo do Dogma está presente em "Segunda Chance", seu longa mais recente a chegar às telas brasileiras. Mas desta vez a coisa se sustenta bem. Seja pela força dos atores, por um roteiro melhor construído que o habitual ou por uma saudável imprevisibilidade, o drama nos envolve até o fim. Conhecemos dois casais. Um deles parece perfeito, como num comercial de margarina: Andreas, o protagonista (Nikolaj Coster-Waldau, ator que interpretou o vilão em Mulheres ao Ataque) é detetive de polícia. Sua mulher é mãe atenciosa e eles têm estabilidade financeira (vê-se pela casa onde moram). O bebê desse casal é que parece ter algum problema de saúde. Chora demais e só se acalma com longos passeios (mesmo no frio, durante a madrugada, o que é estranho). O outro casal parece todo equivocado. O homem passou um tempo na cadeia e não consegue se livrar do vício em drogas pesadas. A mulher aceita uma posição submissa, apanha desse homem e fica impossibilitada de cuidar direito do bebê do casal, pois seu marido a obriga a se drogar com ele. Até aí o roteiro parece esquemático demais, e nossa impressão é de estar vendo mais uma obra simplória sustentada pelo status suspeito de filme de arte europeu, do tipo que é enobrecido por espectadores ocasionais, mas empobrece o cinema. A trama começa a se revelar melhor quando o detetive do primeiro casal faz uma busca na casa do segundo e vê o bebê deles todo borrado das próprias fezes, morrendo de frio. Melhor não adiantar o que acontece depois. Os esquematismos vão se escondendo sobre a gravidade dos acontecimentos e as ações de cada personagem tiram nosso chão. A única pessoa sóbria da história é o parceiro alcoólatra do protagonista, e isso percebe-se já na primeira meia hora de projeção. A direção de Bier alterna momentos de sobriedade com picos de tensão, dominando bem o ritmo. Não é um filme especial, mas é o melhor momento da carreira da diretora." (Sergio Alpendre)
- DirectorRawson Marshall ThurberStarsJason SudeikisJennifer AnistonEmma RobertsA veteran pot dealer creates a fake family as part of his plan to move a huge shipment of weed into the U.S. from Mexico.''Está cada vez mais difícil encontrar uma comédia boa no cinema americano que fuja do filão das paródias dos filmes famosos. Por isso este Família do Bagulho acaba sendo recebido com simpatia. É uma comédia de situação, daquelas em que as piadas nascem de uma sucessão de eventos desastrados ou absurdos. Jason Sudeikis, egresso do humorístico de TV Saturday Night Live, é um traficante que vai pegar drogas no México usando um trailer e uma família falsa para não despertar suspeitas. Ele recruta dois filhos adolescentes -um garotão ingênuo e uma menina de rua boca suja. A mãe é uma stripper (Jennifer Aniston, muito engraçada, cada vez mais fazendo o público esquecer da Rachel de Friends). Entre confusões e apuros, uma família de verdade pode estar nascendo no quarteto. Diversão bacana." (Thales de Menezes)
- DirectorTatjana TuranskyjStarsJulia HummerRP KahlSusanne BredehöftTOP GIRL is the second part of the women and work trilogy by the writer-director Tatjana Turanskyj. Helena, 29, a single mother with an 11-year-old daughter, is a moderately successful actress who earns a living as an escort in the sex industry. Her relationship with her own mother, a singing teacher, is tense, and she is also increasingly annoyed with her job. Snapshots from the brittle contemporary biography of a working woman, part 2: Helena at work, decked out in latex, batting her eyelashes and brandishing sex toys. Helena finally comes up with a new sexual service: when the hunt is over, the women have been brought down and the men crow in triumph, there she stands, beautiful, severe and implacable. Like an absolute ruler.''Top Girl ou A Deformação Profissional", da alemã Tatjana Turanskyj, tem apenas 94 minutos de duração, mas parece durar uma semana. Poucas vezes se viu um filme tão curto e tão tedioso. Basicamente, são 94 minutos de quase nada. Existe um fiapo de história: Helena (Julia Hummer) é uma ex-atriz de TV, famosa no passado por uma série adolescente, que agora ganha a vida como garota de programa. O filme acompanha a moça em suas andanças: ela se veste de Mulher Gato para satisfazer um cliente, simula ser faxineira na fantasia sexual de outro, vira "dominatrix", e por aí vai. Mas nem as cenas de sexo, filmadas burocraticamente, conseguem tirar o espectador do estupor. Ver a TV Câmara é mais excitante. Alguém pode argumentar que a intenção da diretora era justamente mostrar a melancolia da rotina de Helena e a monotonia que o sexo adquiriu em sua vida, mas é perfeitamente possível fazer isso de maneira mais original e interessante. Resumindo: uma vida chata não precisa ser mostrada de forma chata. A diretora, Tatjana Turanskyj, trabalha com arte performática. E, por vezes, Top Girl lembra mais uma performance que um filme. Helena tem uma filha pequena e briga com a mãe, uma professora de música. As duas personagens não têm função alguma na história e estão ali só de decoração. Helena começa a se interessar por um cliente, mas ele não parece interessado em nada mais do que uma hora de prazer pago. Helena passa a se questionar: será esse seu destino? Ela quer mais, e o filme culmina numa sequência longa e absolutamente constrangedora, uma metáfora da dominação machista e do sexismo, em que mulheres são, literalmente, caçadas por homens armados. Não dá para ser mais óbvio que isso." (Andre Barcinski)
- DirectorCameron CroweStarsBradley CooperRachel McAdamsEmma StoneA celebrated military contractor returns to the site of his greatest career triumphs and reconnects with a long-ago love while unexpectedly falling for the hard-charging Air Force watchdog assigned to him.''O diretor americano Cameron Crowe, 54, é muito bom conduzindo atores. "Sob o Mesmo Céu", seu oitavo longa, seria apenas uma historinha de amor se seus protagonistas não demonstrassem uma grande carga emocional. Crowe arrancou as melhores interpretações das carreiras de alguns nomes importantes. Logo em seu primeiro filme, Digam o Que Quiserem, dirigiu um jovem John Cusack que nunca mais mostrou a mesma intensidade em outro longa. "Sob o Mesmo Céu" reúne três dos nomes que mais apareceram em filmes nas últimas temporadas: Bradley Cooper, Rachel McAdams e Emma Stone, além da participação de Bill Murray. Cooper é um militar americano que teve carreira brilhante e, agora em declínio, tenta voltar aos trilhos ao se transferir para o Havaí. Ele tenta esquecer a ex-mulher (personagem de Rachel) e vai se envolver com uma colega de base (Emma, uma presença cada vez mais radiante e intensa a cada filme). Crowe, também reconhecido como roteirista, passa bem longe de clichês. Consegue dar um ritmo adequado às idas e vindas do trio numa ciranda agradável, equilibrando as agruras da separação com o encantamento de uma nova paixão. Se Emma Stone já aparece como uma das melhores de sua geração, Rachel McAdams ainda está presa à representação naturalista. A grande quantidade de trabalhos ainda não se transformou em qualidade, mas neste filme ela dá sinais de que pode render mais. Para Cooper, uma produção romântica agridoce como esta vem a calhar. Ele mostra um lado bem diferente de sua forte interpretação de matador implacável no recente Sniper Americano. Crowe, que vinha de um deslize, o bobinho Compramos um Zoológico, voltou à boa forma." (Thales de Menezes)
- DirectorKristina GrozevaPetar ValchanovStarsMargita GoshevaIvan BarnevIvan SavovIn a small Bulgarian town Nadezhda, a young teacher, is looking for the robber in her class so she can teach him a lesson about right and wrong. But when she gets in debt to loan sharks, can she find the right way out herself?''O que se conhece, no Brasil, do cinema da Bulgária? Os cinéfilos mais dedicados talvez conheçam alguns filmes de Christo Christov, o maior dos cineastas búlgaros, e pouco mais. Pois é desse país do leste europeu, na antiga Cortina de Ferro, que vem o interessante "A Lição", de Kristina Grozeva e Petar Valchanov, premiado no Festival de San Sebastián, na Espanha, em 2014. Inspirada numa notícia de jornal, a trama é bem simples, passa por questões sociais e tem parte do elenco formado por amadores. Por isso já foi associada ao neorrealismo italiano. Certamente esse importante movimento cinematográfico concebido por Zavattini é uma referência, mas o filme não abdica de uma forte relação com o mundo atual, numa linha que passa pelos irmãos Dardenne e pelo recente cinema romeno. Uma professora descobre que o dinheiro do lanche de uma aluna foi roubado. Num breve processo inquisitório, ela passa então a procurar o culpado, de preferência provocando a sua confissão. Desencadeia assim uma baita tensão na sala de aula. No lar, a coisa também está tensa. O marido é alcoólatra, eles têm dívidas e uma filha pequena para criar. Pedem empréstimos para poder pagar outros empréstimos, criando uma bola de neve incontrolável. Ao desagradável episódio da sala de aula soma-se um drama exasperante sobre a fragilidade de nossa situação num mundo movido principalmente pelo dinheiro. Na construção que privilegia a inflexão dos atores, há espaço para vilões de ocasião (tratados de forma exagerada, como a nova namorada do pai e principalmente o agiota) e para alguns equívocos de julgamento." (Sergio Alpendre)
- DirectorBrett MorgenStarsKurt CobainWendy O'ConnorDon CobainAn authorized documentary on the late musician Kurt Cobain, from his early days in Aberdeen, Washington to his success and downfall with the grunge band Nirvana.*****
"Kurt Cobain: Montage of Heck", de Brett Morgen, foi feito a partir de material inédito de fotos e filmes da família Cobain, mostrando a juventude de Kurt e cenas íntimas dele com a mulher, Courtney Love, e a filha, Frances. Só de conhecer a família de Kurt dá para perceber que as coisas não vão acabar bem. A mãe, Wendy, tem um ar insano e parece falar com raiva sobre o filho; o pai, Don, admite que foi ausente. O casal se separou quando Kurt tinha nove anos, e o menino passou um tempão pulando de casa em casa, morando com parentes e sendo expulso de todos os lugares por mau comportamento e violência. O Montage of Heck do título é uma fita cassete gravada por Kurt em 1988, em que ele mixa trechos de músicas com depoimentos sobre sua vida. A fita foi a base para animações que narram passagens de sua vida. O efeito é fantasmagórico, como se ouvíssemos um morto recapitulando sua vida. O filme usa também cadernos de anotações e desenhos de Kurt, e os rabiscos mostram um cara inseguro, ambicioso e com muita, mas muita raiva do mundo. As cenas mais impactantes exibem a intimidade do casal Kurt e Courtney, claramente chapados de heroína, brincando com Frances, ainda bebê. A impressão é de que um desastre pode acontecer a qualquer momento. E essas são as cenas aprovadas por Courtney, o que leva a imaginar como seriam as imagens que ela não quis exibir. O filme retrata a formação do Nirvana, o sucesso fulminante da banda e o efeito disso na cabeça frágil de Kurt. Quando ele me mostrou [as demos de Nevermind], eu disse: Filho, é bom apertar o cinto, porque você não está preparado para isso, diz a mãe, Wendy, como se antecipasse as consequências que a fama traria para o filho. Krist Novoselic, parceiro de Kurt no Nirvana, diz se arrepender de não ter visto os sinais de que algo não estava legal com o amigo, que acabou se matando em 1994: Eu devera ter dito algo!. Mas a entrevista mais reveladora é a da viúva. Ela conta que a tentativa de suicídio de Kurt em Roma, quando engoliu mais de 60 comprimidos tranquilizantes, ocorreu porque achava que ela tivesse um amante. Eu pensei em trair o Kurt, mas não o fiz. Mas ele parecia ter um sexto sentido e pressentiu a traição, diz ela. Um mês depois, Kurt atirou contra a própria cabeça." (Andre Barsinski)
''Não era tarefa fácil fazer um filme sobre Kurt Cobain, líder de uma das bandas de rock mais bem-sucedidas dos últimos tempos: Nirvana. A rebeldia do músico, seu vício em heroína e sua tendência ao autoboicote e ao suicídio tendem a descambar para o sensacionalismo, quando não para o moralismo mais rasteiro. Alguns momentos do filme esbarram nisso, e a experiência de vê-lo na íntegra só é agradável quando a música fica no primeiro plano. É discutível a ideia de dramatizar partes da vida do músico por meio da animação. O uso constante de seus escritos chega a cansar, e algumas imagens caseiras de Kurt com a namorada, a cantora e atriz Courtney Love, são desagradáveis como qualquer invasão da intimidade alheia. Para piorar, o didatismo na cronologia artística é praticamente abandonado em favor dos escândalos. Por causa dessa estrutura, a duração do filme - mais de duas horas - revela-se insuficiente para quem deseja entender o preço do sucesso e de uma família disfuncional na cabeça de um jovem inseguro." (Sergio Alpendre) - DirectorMaxime GovareNoémie SaglioStarsPio MarmaïFranck GastambideAdriane GradzielJeremie wakes up alongside a pretty woman. But it's the first time for Jeremie, normally he prefers his future husband Antoine. It's a funny story of a "Comming In"''Beijei uma Garota" inverte o sentido de boa parte das comédias sobre questões de gênero: em vez do hétero que se descobre homossexual, temos aqui um gay que se apaixona por uma garota. Jérémie transa com a sueca Adna em uma noite de bebedeira e não consegue tirá-la da cabeça. O conflito se estabelece porque ele está prestes a se casar com Antoine, após anos de relação. Jérémie entra em parafuso e passa a levar uma vida dupla, sem contar de Adna para Antoine e vice-versa - movendo o filme da comédia de costumes para a de erros. A inversão no sentido da orientação sexual do protagonista não é a única que o filme promove. O sócio de Jérémie, machão que gosta de transas com modelos, apaixona-se pela funcionária menos atraente do escritório. Já os pais de Jérémie apoiam o filho gay e desprezam a filha hétero por suas opções convencionais: casar-se com o sexo oposto e tornar-se mãe. Em tempos de correção política, há alguma provocação na proposta de "Beijei uma Garota" - e ao menos uma cena de nudez masculina, que pode ser considerada uma ousadia. Mas a faísca libertária se apaga com o fôlego curto do humor e sobretudo com a trivialidade da direção. Os pais de Jérémie, em seu sadismo com a filha, respondem pelos únicos momentos originais de comicidade. E os diretores do filme adotam em sua forma o convencionalismo que tentam combater, limitando-se a seguir os moldes da comédia romântica hollywoodiana. Não deve ser fácil a vida de cineastas franceses que tentam fazer comédias ligeiras, porque eles carregam o peso de séculos de densidade intelectual. Mas a resposta deveria passar mais pela leveza do que pela banalidade. Mesmo a língua joga contra nessas horas. Em francês, cenas românticas são mais românticas, frases profundas soam mais profundas e filmes banais, mais banais." (Ricardo Calil)
- DirectorOlivier NakacheÉric ToledanoStarsOmar SyCharlotte GainsbourgTahar RahimSenegalese Samba has worked 10 years in France. He's arrested and befriends the woman helping him with legal matters as volunteer after a burnout at work. He's released after being told to leave France. Chemistry?''O sucesso planetário de "Intocáveis" tornou a dupla de diretores franceses Olivier Nakache e Eric Toledano uma aposta certa. A expectativa de repetição de sucesso no filme seguinte era inevitável. "Samba" contorna os efeitos da expectativa com um tratamento que evita a mera repetição da fórmula bem-sucedida. No papel-título temos o mesmo Omar Sy como representação de uma outra França, uma grande minoria de excluídos, negros e árabes, de origem colonial e que foi buscar refúgio na metrópole. De modo intencional e depurado, "Samba" aborda com franqueza a xenofobia e a intolerância e seus efeitos imprevisíveis tanto na Europa como em toda parte. Sy interpreta Samba Cissé, um imigrante clandestino senegalês às voltas com as dificuldades de conseguir trabalho regular e conquistar o direito legal de residência. Quando é preso e está ameaçado de expulsão, Samba conhece Alice (Charlotte Gainsbourg), uma executiva em crise que faz trabalhos voluntários numa associação de apoio a clandestinos. O trio de astros franceses se completa com Tahar Rahim, outro personagem étnico que se finge de brasileiro para seduzir mulheres. Sem deixar de lado as peripécias que funcionavam como o motor do humor em Intocáveis, ''Samba'' dosa o cômico e o elemento romântico com o realismo social que é tradição no cinema francês. De O Ódio a Garotas, essa tendência vem servindo para retratar o destino funesto de excluídos e, em particular, de imigrantes jovens e seu não-lugar na França contemporânea. São filmes, portanto, da tradição crítica do cinema francês. A abordagem de um tema grave tem sido invariavelmente dramática ou em tom de denúncia. A principal vantagem de "Samba" é conseguir inverter a equação. Mesmo que a caricatura continue a ser o principal recurso e isso provoque incômodo num público exigente, é por meio dela que o filme produz uma energia popular capaz de atrair quem não se interessaria por filmes de temática social. Seu alvo não se confunde com o do cinema francês sofisticado, mas em geral elitista. O estado das coisas que expõe pode parecer a uns mero verniz engajado. Mas sua evolução evidente consiste em não mascarar as contradições." (Cassio Carlos Starling)
2015 César - DirectorGilles Paquet-BrennerStarsCharlize TheronNicholas HoultChristina HendricksLibby Day was only eight years old when her family was brutally murdered in their rural Kansas farmhouse. Almost thirty years later, she reluctantly agrees to revisit the crime and uncovers the wrenching truths that led up to that tragic night.''Em "Lugares Escuros", a pequena Libby sobreviveu a um massacre que vitimou sua mãe e suas duas irmãs. Ela testemunhou, confusa, incriminando o irmão Ben (Tye Sheridan quando novo, Corey Stoll quando adulto aprisionado). O trauma vai ficar para a vida toda. O tempo passou, e a pequena Libby se transformou em Charlize Theron. Mas uma Charlize destituída de sex appeal, com os cabelos frequentemente escondidos por um insistente boné. Ao menos não reprisa seu papel em Monster, a bomba que a fez ganhar o Oscar. Adulta, vivendo de cheques que pessoas mandam para aplacar a crise de consciência burguesa, Libby resolve responder a carta de Lyle (Nicholas Hoult), um jovem soturno que integra um clube bizarro, com gente empenhada em elucidar casos não solucionados, ou mal solucionados. Claro está que esse encontro vai motivar o desenterro do passado traumático e um novo contato com o irmão, que está no xilindró. E nesse passado traumático (e agora retomado) estão Runner, o pai beberrão e traficante; Diondra (Chloë Grace Moretz), a garota interessada em rituais satânicos; Krissi Cates, menina de 12 anos que diz ter sido tocada por Ben; e Trey Teepano, espécie de protetor de Diondra. Alguns filmes sobrevivem enquanto há algum mistério. E com as explicações chegam os problemas. É o caso de "Lugares Escuros", produzido por Charlize Theron, dirigido pelo francês Gilles Paquet-Brenner (de A Chave de Sarah) e baseado em livro de Gillian Flynn (de Garota Exemplar). Não que o filme estivesse uma maravilha antes de as soluções dos mistérios surgirem. Alguns clichês na apresentação dos personagens já incomodavam, bem como a interpretação monótona de Charlize e as caretas de Grace Moretz. Por outro lado, é boa a caracterização de Ben, tanto na adolescência quanto no cárcere. Um tipo soturno, que parece sempre culpado de alguma coisa. O reencontro de Libby com o pai mostra certa força na direção. Pena que tudo se esvai nos últimos minutos." (Sergio Alpendre)
''Passou meio batido nos cinemas essa história baseada em livro de Gillian Flynn, autora de outro bestseller vom melhor carreira no cinema, Garota Exemplar. Uma injustiça, porque a trama segura bem o mistério e Charlize Theron mais uma vez se dedica a mostrar que é bem mais do que uma mulher deslumbrante. Ela desempenha bem o papel de uma mulher que, quando criança, sobrevive ao ataque de um assassino que mata sua mãe e duas irmãs. Adulta, uma associação que investiga crimes não resolvidos se aproxima dela e faz com que todos os seus traumas aflorem. O filme constrói um clima angustiante." (Thales de Menezes) - DirectorVíctor EriceStarsOmero AntonuttiSonsoles ArangurenIcíar BollaínA woman reflects on her childhood relationship with her father, attempting to understand the depths of his despair and the truth of his myths."Digamos, para simplificar, que no filme "El Sur" existe uma menina e seu pai. E também o norte e o sul. Da Espanha, sim. O norte é onde ela vive, onde está também seu pai. O sul... bem... O sul é o lugar do mistério. Não se trata apenas de algo geográfico. Trata-se dessas palavras, dessas expressões que, vistas ou ouvidas na boca do pai, tornam-se mitos pessoais. Como traduzir isso em imagens? E como conciliá-las com a descoberta do mundo? É essa a mágica do cineasta Víctor Erice, autor espanhol de raros filmes, cada um mais fascinante, belo e talentoso do que outro. Pela voz da protagonista Estrella sentimos o mistério de existir, de experimentar o mundo, de crescer, de viver suas contradições. Pois lá no sul há uma outra vida, adulta, ainda indecifrável. Seria injusto, ao falar desse filme invulgar, omitir a presença forte de Omero Antonutti, como o pai, ou a luz de José Luis Alcaine.'' (* Inácio Araujo *)
1983 Palma de Cannes - DirectorMini KertiStarsAlice BragaVladimir BrichtaPedro BrícioBased on the writings of João do Rio, tells the tale of a pickpocket who assumes various identities to steal from the aristocracy in early-20th-century Rio de Janeiro.''Em sua estreia como diretora de filmes de ficção - depois de longa experiência na publicidade, e dois documentários -, a carioca Mini Kerti acertou em cheio ao escolher uma história fascinante: o relato das picarescas aventuras de um elegante ladrão de casaca que se tornou lendário no Rio de Janeiro do comecinho do século passado. O filme é uma adaptação livre de Memórias de Um Rato de Hotel, publicado originalmente em 1912. O protagonista é o misterioso dr. Antonio (Vladimir Brichta) - cujo verdadeiro nome era Arthur Antunes Maciel, de família gaúcha -, que se hospedava em hotéis de luxo com identidades falsas para roubar os hóspedes sem violência, usando apenas classe e astúcia. Num desses hotéis, conhece Eva - casada com Jorge, um empresário endinheirado - e se apaixona por ela. Como era de se esperar, o amor tem um impacto decisivo em seu destino, assim como no do filme. A partir do encontro dos amantes, o roteiro dá muita ênfase ao romance e deixa em segundo plano o arsenal de artifícios do vigarista para perpetrar seus golpes, assim como seu cinismo. O personagem perde seus matizes e o interesse pela história se esvai. A destacar, além da boa interpretação de Vladimir Brichta - que compõe um personagem convincente -, a impecável reconstituição de época, baseada na precisa direção de arte de Kiti Duarte. É pouco em se tratando de uma história que oferece muito potencial." (Alexandre Agabiti Fernandez)
- DirectorMarc LawrenceStarsHugh GrantWhit BaldwinVanessa WascheAn Oscar-winning writer in a slump leaves Hollywood to teach screenwriting at a college on the East Coast, where he falls for a single mom taking classes there."Virando a Página" é o quarto e melhor filme escrito e dirigido por Marc Lawrence (roteirista de Miss Simpatia e outros sucessos) e o quarto com o inglês Hugh Grant como ator principal. Nos três primeiros, Grant contracenou, respectivamente, com Sandra Bullock (em Amor à Segunda Vista), Drew Barrymore (em Letra e Música, com o qual "Virando a Página" tem algumas similaridades) e Sarah Jessica Parker (em Cadê os Morgan?). A direção de Lawrence, contudo, não consegue ultrapassar as armadilhas de seus próprios roteiros, resultando em filmes típicos de roteirista - irregulares e flácidos. "Virando a Página" também é irregular, mas os acertos desta vez levam grande vantagem. Grant interpreta Keith Michaels, roteirista que não encontra mais chance em Hollywood e vai a uma cidade da costa leste para substituir um professor numa universidade. Ele é o que na música chamamos de one hit wonder, ou seja, aquele que alcançou grande sucesso uma vez, mas nunca mais conseguiu repetir a experiência, acumulando roteiros fracassados e encontrando as portas de trabalho devidamente fechadas. Como professor, Keith é um fracasso ainda maior. Não tem a menor ideia do que deve fazer em aula, mas como precisa do emprego, trata de aprender na marra. Sua situação melhora, por um lado, quando conhece Holly (Marisa Tomei), uma aluna experiente que vai ajudá-lo a desenvolver uma didática com os alunos. E piora por outro, porque ele se envolve com uma das alunas, Karen (Bella Heathcote), menor de idade que procura em amantes mais velhos um substituto para o pai ausente. Estamos então no terreno tipicamente americano da segunda chance, e Keith terá a oportunidade de reescrever sua vida. No elenco, a bem-vinda presença de J.K. Simmons (vencedor do Oscar por Whiplash), como o diretor da universidade, e Allison Janney (de A Espiã Que Sabia de Menos), como uma conceituada e poderosa professora com quem Keith tem atritos constantes." (Sergio Alpendre)
- DirectorBahman GhobadiStarsBehrouz VossoughiMonica BellucciYilmaz ErdoganKurdish-Iranian poet Sahel has just been released from a thirty-year prison sentence in Iran. Now the one thing keeping him going is the thought of finding his wife, who thinks him dead for over twenty years.''Um letreiro na abertura de "O Último Poema do Rinoceronte" anuncia tratar-se da história do poeta iraniano-curdo Sahel Kamangar, "que ficou 27 anos nas prisões da República Islâmica do Irã, enquanto sua família foi informada de que tinha morrido. A informação impositiva nos coloca no estado de ânimo de adesão imediata a um relato de injustiça, de abuso de direitos humanos. Uma reação calculada, pois o filme é dedicado ao estudante Sane Jaleh e ao poeta e ativista Farzad Kamangar, mortos pelo regime iraniano, e a todos os políticos prisioneiros ainda mantidos reféns no Irã. Bahman Ghobadi, diretor iraniano de origem curda, no entanto, não esgota o interesse pelo drama de Sahel Kamangar com o recurso tradicional e simplório do cinema político de conquistar emoção à custa da chantagem moral. A história é apresentada por meio de flashbacks, nos quais sabemos os detalhes da tragédia pessoal do poeta, separado da família e da mulher, também presa por cinco anos e submetida a torturas e abusos sexuais. O filme adota mesmo as convenções do melodrama ao sugerir que a condenação foi menos motivada pelo teor dos escritos do poeta do que pela cobiça de um motorista, apaixonado pela mulher dele. Ao mudar de status com a revolução, o empregado usou o novo poder para executar uma vingança pessoal. Essas facilidades, no entanto, são equilibradas com as escolhas formais feitas por Ghobadi para expressar a restrição, a coerção e o controle imposto pelo regime. O modo como filma os corpos e as faces ou a percepção do mundo que alguém passa a ter depois de décadas encarcerado traduz a experiência muito mais do que a imposição de uma mensagem. Se o aspecto sorumbático e pesado incomoda, a opção ganha significado quando contrastada com a alegria e a vontade de liberação que alimentavam o delicioso Ninguém Sabe dos Gatos Persas, feito pelo diretor em 2009. As esperanças de renovação foram desfeitas, o regime se fechou e o cinema de Ghobadi manteve-se fiel aos rumos da realidade." (Cassio Starling Carlos)
- DirectorPhilippe de BrocaStarsJean-Paul BelmondoUrsula AndressMaria PacômeThe farcical adventures of an unhappy, sometimes suicidal, billionaire Arthur Lempereur in Hong Kong and the Himalayas.''Philippe de Broca é um cineasta para rever. Fez carreira na França com um cinema comercial não raro muito digno e com comédias com as quais até hoje se pode rir. Suas "Fabulosas Aventuras de um Playboy" têm como ponto de partida um milionário fracassado, a fim de se suicidar. Para tanto, providencia um seguro de vida e alguém que contrate um assassino. Estava tudo resolvido para ele (Jean-Paul Belmondo), até que topa com a bela Ursula Andress. Tudo dá certo entre eles. Mas o assassino já está contratado e não quer nem saber. Dito assim, parece pouco. Mas a comédia é levada com cenas de humor e aventura muito bem-sucedidas, já para não falar que Ursula está um estouro. Por fim, o ponto de partida é Julio Verne: não podia ser melhor.'' (* Inácio Araujo *)
- DirectorAnne FletcherStarsReese WitherspoonSofía VergaraMatthew Del NegroAn uptight and by-the-book cop (Reese Witherspoon) tries to protect the outgoing widow (Sofia Vergara) of a drug boss as they race through Texas pursued by crooked cops and murderous gunmen.''Baseada na velha receita da dupla cuja principal característica é a defasagem física, como o Gordo e o Magro, "Belas e Perseguidas", comédia que mistura os registros do road movie e da sitcom, reúne a policial Cooper (Reese Witherspoon) e a peruete Daniella Riva (Sofía Vergara), que acaba de ficar viúva de um poderoso traficante. Obstinada, mas insegura e desajeitada, Cooper recebe a missão de escoltar Daniella até o Texas, onde esta deve prestar depoimento contra um traficante. Daniella é o oposto da franzina, "feia" e masculinizada policial: alta, esguia e fundamenta sua feminidade no excesso, com seios siliconados e roupas curtíssimas. É o clichê da latina exuberante, da mulher troféu. A dupla cai na estrada e logo descobre estar na mira de sinistros pistoleiros e da própria polícia. Elas acabam se aliando para saírem ilesas da enrascada. Apesar da série de confusões em que as duas se metem, o roteiro não é capaz de surpreender com reviravoltas, tramas secundárias ou um pouco de irreverência. O humor bate na mesma tecla: as diferenças físicas e de comportamento entre as duas. Cooper aguenta dezenas de piadinhas sobre sua pequena estatura, enquanto Daniella tenta ser engraçada empurrando sua mala de viagem na beira da estrada usando saltos imensos. A tagarelice de Cooper parece um tique nervoso, não acrescenta nada em termos de humor. Já Daniella atravessa o filme fazendo sempre os mesmos trejeitos, pouco importando a situação. Preguiçoso, apoiado em obviedades e repleto de gracinhas sexistas, esse humor não vai a lugar algum, só aborrece. É curioso constatar que Reese Witherspoon seja coprodutora de um filme que vilipendia a imagem da mulher por intermédio de sua empresa, a Pacific Standard, que fundou para supostamente "apoiar filmes com bons papéis femininos"." (Alexandre Agabiti Fernandez)
- DirectorAlan RickmanStarsKate WinsletAlan RickmanStanley TucciTwo talented landscape artists become romantically entangled while building a garden in King Louis XIV's palace at Versailles.''As turbulências de uma paixão secreta e fora dos padrões e a quebra da ordem provocada por um movimento de criatividade são temas que o filme "Um Pouco de Caos" trata de ilustrar. O uso deste verbo é o mais apropriado, pois o segundo longa dirigido pelo ator britânico Alan Rickman tem a aparência de um álbum de belas imagens feitas para veicular sua mensagem contra o convencionalismo. O embelezamento traduz a época e os ideais da corte francesa de Luis 14, na qual "Um Pouco de Caos" projeta sua trama centrada na construção de um novo e exuberante jardim em Versalhes. Em torno do projeto, a rigidez do nobre responsável pela obra primeiro o bloqueia. Mas, depois, ele se encanta pela fantasia e pelo improviso trazidos por Madame de Barra, jardineira e bela viúva. Para triunfar tanto na obra quanto no amor, o par terá de enfrentar as artimanhas de uma condessa enciumada e um sistema de valores formalizado com base em hierarquias e simulações. Estamos aqui em meio a um típico filme de época, com seus figurinos rebuscados, direção de arte deslumbrante e enredo que contrapõe sentimentos nobres a ações vulgares, corações puros e decadentismo voraz. Nesse sentido, o filme poderia soar oco em sua contradição de valorizar a causa da rebeldia com um visual e uma narrativa mais que obedientes às convenções. A direção de Rickman, contudo, segue o padrão decorativo desse tipo de produção sem abandonar aquilo que mais entende: o trabalho dos atores. Da estrela Kate Winslet e do talentoso ator belga Matthias Schoenaerts ao mínimo gesto de um extra, todos os desempenhos agregam significação aos personagens, tornando-os mais que volumes dentro de belas roupas. Desse modo, "Um Pouco de Caos" consegue ir além da ilustração ao buscar representar também o espírito do antigo regime, sua obsessão por ordem e harmonia e sua visão do mundo como um baile de máscaras que jamais chegaria ao fim." (Cassio Starling Carlos)
- DirectorCécile TelermanStarsJulie DepardieuEmmanuelle BéartPatrick BruelTwo sisters, their families, and sometimes complicated lives.''As primeiras cenas do filme "Os Olhos Amarelos dos Crocodilos" revelam: estamos diante de um folhetim, algo que o cinema francês raramente soube fazer. Parece novela da Janete Clair. Duas irmãs são diferentes em tudo, desde crianças. No prólogo, a pequena Joséphine, mais conhecida como Jo (Julie Depardieu), está retraída, esconde-se quando o pai tira foto, enquanto Iris (Emmanuelle Béart) é exibida. Depois, vemos as irmãs com mais de 40 anos. Jo tornou-se um fracasso. Estuda, estuda, e não tem dinheiro para nada. Tem um marido desempregado (que logo será ex-marido) e duas filhas: uma carinhosa, outra ingrata e exibida como a tia. Iris, por sua vez, é casada com um advogado de sucesso, Philippe (Patrick Bruel). Vive uma vida fútil, com a cumplicidade da mãe (Edith Scob), viúva sem caráter que se casou com Marcel (Jacques Weber), um rico empresário. O filme tem pequenos problemas. Logo no início, Jo é mostrada com a torre de Montparnasse por trás, vista da janela da cozinha. Antes, vemos o marido na sala, e a torre Eiffel atrás dele. OK, estamos em Paris. Mas durante os créditos a cidade já é revelada. Por que a redundância? Em outro momento, Jo vai ao cinema com Luca (Quim Gutiérrez), que conheceu na biblioteca. Eles veem Contos da Lua Vaga, obra-prima de Kenji Mizoguchi, mas a escolha parece ter sido essa só porque estudam a Idade Média. Felizmente, as coisas logo entram nos eixos, e a estrutura melodramática revela-se muito bem construída, com roteiro da diretora Cécile Telerman e da estreante Charlotte De Champfleury, baseado em best-seller de Katherine Pancol. Daí o preconceito, que talvez explique a má recepção da crítica internacional. Mas melodrama, folhetim e best-seller são categorizações que não deveriam carregar juízo de valor. Filmes fenomenais já foram feitos dentro desses registros, e o que importa, no caso, é o específico cinematográfico. Ou seja: nesse caso, o crítico que observar o comportamento da câmera, a montagem, as atuações ou a estrutura narrativa tem mais chance de gostar do filme do que aquele que se pautar só pela história ou sua origem. Diante da tela, devemos ser como queria o crítico francês Michel Mourlet, monstros de inocência (para não nos condicionarmos por preconceitos) e rigor (na análise do específico cinematográfico). Telerman exibe uma mise-en-scène correta, por vezes elegante, e usa elipses surpreendentes para um filme comercial. Além disso, contornou muito bem os riscos da adaptação, no limiar entre o sensível e o piegas. Com um elenco muito bem escolhido e a coragem de abraçar as possibilidades mais melodramáticas da trama, podemos dizer que, em seu terceiro longa, a diretora conseguiu um feito e tanto." (Sergio Alpendre)
''O ator inglês Alan Rickman é um diretor relutante. Depois de um bom drama contemporâneo em The Winter Guest, no qual dirigiu a amiga Emma Thompson, só neste ano ele assinou seu segundo filme, este belíssimo "Um Pouco de Caos". Desta vez, escalou outra amiga, Kate Winslet (os três trabalharam juntos em "Razão e Sensibilidade", de 1995). Ela é a paisagista Sabine, contratada pelo rei francês Luís 14 para desenhar e montar uma parte dos jardins de Versalles. Durante a tarefa, terá um envolvimento romântico com o chefe da empreitada (Matthias Schoenaertas) e fará amizade com o rei (interpretado por Rickman), que se revelará mais humano do que aparenta. A beleza plástica impressiona, mas o roteiro poderia ser mais inventivo. O melhor do filme é ensinar de forma bem didática como funcionava uma corte francesa." (Thales de Menezes) - DirectorRose BoschStarsJean RenoAnna GalienaChloé JouannetLea, Adrian, and their little brother Theo, born deaf, go on holiday in Provence with their grandfather, Paul "Oliveron" they never met because of a family quarrel. Unfortunately, it is not the holidays they dreamed, especially after their father announced that he was leaving the house. In less than 24 hours, it is the clash of generations between the teens and their grandfather.''A ideia ainda muito difundida que identifica o cinema francês a filmes de autor ou a temas engajados costuma ignorar a parcela de longas populares, feitos só para entreter, que a França, como todo o mundo, produz aos montes. "Meu Verão na Provença" pertence a esse gênero e busca um público semelhante ao de A Família Bélier, com pequenos conflitos familiares que podem ser superados pela força do amor. O título também captura o imaginário turístico, no qual a Provença projeta os sonhos de uma região idílica, de uma natureza não remodelada para consumo, onde a autenticidade predomina também nos sabores e nos costumes. Se em filmes americanos essa região do sudeste da França costuma ser tratada como destino romântico, local de suspensão da rotina e onde os sonhos podem se realizar, por que o cinema francês não teria o direito de explorar um clichê tão nacional? É o que "Meu Verão na Provença" propõe, incluindo no pacote o conceito de filme de férias. Os dois adolescentes que, ao lado do irmão surdo-mudo, viajam com a avó estão provisoriamente afastados da crise que pôs seus pais à beira de uma separação. Ao chegarem ao destino encontram o avô ranzinza e têm de se adequar a um sujeito provinciano e antimoderno. O filme concentra em parte esse aprendizado dos afetos, as dificuldades em decifrar as camadas que alguns criam para se proteger. A diretora e roteirista Rose Bosch opta, porém, por uma representação chapada: personagens não passam de tipos, como num capítulo de Malhação. Há o jovem garanhão, a garota sexy e sonhadora, o bonitão mau-caráter, maduros que já foram jovens, libertários e maconheiros e nenhuma espessura além desse catálogo de atitudes. A indigência dos diálogos e o humor rasteiro são outros motivos que podem levar ao arrependimento de quem se sentir atraído por este made in France pronto para consumo global." (Cassio Starling Carlos)
- DirectorTsai Ming-liangStarsKang-sheng LeeDenis LavantTsai Ming-liang returns with this latest entry in his Walker series, in which his monk acquires an unexpected acolyte in the form of Denis Lavant as he makes his way through the streets of a sun-dappled Marseille.''O close do ator francês Denis Lavant quase imóvel ao longo de mais de oito minutos na abertura do média-metragem "Jornada ao Oeste" anuncia o que se deve esperar do último trabalho, talvez derradeiro, do malaio Tsai Ming-liang. Nessa imagem do rosto capturado, ouve-se um rumor do mar e veem-se mínimos movimentos do ator, mas o que se sente de modo mais incisivo é o tempo, intensificado pela longa duração do plano. Minutos depois veremos novamente a face de Lavant posta numa composição em que as linhas do perfil se confundem com as de uma montanha. O rosto surge reintegrado à natureza, devolvido à originalidade. Entre as sequências, a figura de um monge budista em um passo lentíssimo reafirma o conceito do filme. Trata-se de romper com a velocidade do cotidiano e levar o espectador a experimentar as múltiplas durações daquilo que denominamos, de modo excessivamente uniforme, tempo. O filme radicaliza um procedimento que ritmava Cães Errantes, longa anterior de Tsai. A predominância de cenas em que se suspende a ação para privilegiar a contemplação é recurso que singulariza a filmografia do diretor. Com este filme, releitura da miséria material e afetiva contemporânea com evidente referência ao cinema do italiano Michelangelo Antonioni, Tsai obteve projeção como autor em festivais internacionais e atraiu a atenção da cinefilia que valoriza a invenção. Na contramão de um cinema que se acelera na medida em que abandona toda vocação estética e filosófica, Tsai chega com "Jornada ao Oeste" a um manifesto que se confunde com um beco sem saída. Tsai simboliza a irredutibilidade de seu cinema à uniformidade por meio da mínima mobilidade dos atores contraposta à velocidade e à atenção distraída dos passantes. Contemplamos, às vezes boquiabertos, outras bocejantes, o rigor formal como o diretor filma os passos do monge, interpretado por Lee Kang-sheng, protagonista de todos os filmes do cineasta. Tanta originalidade, no entanto, consome-se na autorreferência e tende a atrair só o público cujo gozo se confunde com a autossatisfação." (Cassio Starling Carlos)
- DirectorWes OrshoskiStarsGaye AdvertFred ArmisenRoger ArmstrongA history of the influential English punk band The Damned from their inception in 1976 through to 2015."Poucas bandas se sabotaram tanto. Quando o sucesso parecia próximo, acontecia um desentendimento As duas bandas mais conhecidas do punk britânico são The Clash e Sex Pistols. Mas existiu uma banda que era tão boa quanto essas, chegou antes das duas e lançou não só o primeiro compacto do punk inglês quanto o primeiro LP: The Damned. Por que, então, Clash e Sex Pistols são celebrados até hoje, enquanto o Damned toca em lugares pequenos e não recebe um enésimo da atenção? Assistindo ao documentário "The Damned: Don't You Wish That We Were Dead", de Wes Orshoski, o espectador tem a resposta: porque poucas bandas sabotaram tanto a própria carreira. O filme será exibido nesta quinta - confira, ao lado, outras atrações deste feriado). Toda vez que o sucesso parecia próximo, acontecia uma briga ou desentendimento entre os integrantes do grupo. O Damned surgiu em 1976 e era formado por Dave Vanian (vocais), Brian James (guitarra), Captain Sensible (baixo) e Rat Scabies (bateria). Os dois últimos se conheceram lavando os banheiros de um teatro onde trabalhavam. No mesmo ano, o grupo lançou o primeiro compacto do punk inglês, New Rose e, em 1977, o primeiro LP de uma banda punk britânica, Damned Damned Damned. O disco é um clássico e prometia um futuro brilhante para a banda, mas Brian James brigou com os amigos e saiu depois do segundo LP. Foi a primeira de muitas brigas. Sem Brian, o principal compositor do grupo, Captain Sensible virou guitarrista e o Damned passou a ampliar seus horizontes musicais. O disco Machine Gun Etiquette, de 1979, já trazia teclados e uma sonoridade mais pop e acessível. Os discos seguintes, The Black Album e Strawberries, tinham elementos do que viria a se chamado de rock "gótico", com letras misteriosas e um som mais soturno, bem ao estilo do cantor Dave Vanian, considerado um dos precursores do visual "dark", sempre vestido de negro e maquiagem. O filme de Orshoski conta em detalhes a história da banda e tem excelentes cenas de arquivo, mas as brigas entre os integrantes eram tão recorrentes que, por vezes, o documentário se torna chato e repetitivo. O que a música do Damned nunca foi." (Andre Barcinski)
- DirectorJake SchreierStarsNat WolffCara DelevingneAustin AbramsAfter an all-night adventure, Quentin's lifelong crush, Margo, disappears, leaving behind clues that Quentin and his friends follow on the journey of a lifetime.''Cidades de Papel'' são cidades inventadas por cartógrafos e inseridas em seus mapas para que eles não sejam falsificados. Se alguém reproduz um mapa com uma localidade fictícia, fica mais fácil reconhecer um plagiador. No livro e no filme "Cidades de Papel", essa é a metáfora adotada para criticar a falsidade de um mundo baseado nas aparências. John Green, autor do livro, talvez não tenha o fôlego reflexivo para dar conta da complexidade da metáfora. Por outro lado, como já havia provado em A Culpa É das Estrelas, é capaz de criar narrativas sensíveis e envolventes sobre a passagem da adolescência ao mundo adulto. Em "Cidades de Papel", o adolescente Quentin nutre uma paixão platônica por sua vizinha. Certa noite, ela o leva a uma série de aventuras e, no dia seguinte, desaparece. Quentin faz de tudo para achá-la. Ao final, entenderá que o fundamental não era o destino, e sim a jornada de autodescobrimento até lá. Cidades tem uma levada agridoce que faz lembrar Conta Comigo, baseado em Stephen King, em que um crime leva ao amadurecimento do protagonista. Como King no começo de carreira, Green é um best-seller questionado em seus méritos artísticos. Mas "Cidades de Papel" reforça a tese de que seu sucesso não tem a ver apenas com marketing." (Ricardo Calil)
- DirectorMark OsborneStarsJeff BridgesMackenzie FoyRachel McAdamsA little girl lives in a very grown-up world with her mother, who tries to prepare her for it. Her neighbor, the Aviator, introduces the girl to an extraordinary world where anything is possible, the world of the Little Prince."O Pequeno Príncipe", do francês Antoine de Saint-Exupéry, é um dos livros infantis mais vendidos da história. Foi adaptado para o cinema em 1974 por Stanley Donen, de Cantando na Chuva, e os franceses o elegeram o livro do século 20. Tudo isso passou pela cabeça do diretor Mark Osborne (Kung Fu Panda) quando aceitou criar uma nova animação baseada no livro, destaque do festival Anima Mundi, no Rio e em São Paulo. Não senti nada além de pressão desde o início do projeto, diz o diretor americano em Cannes, onde o filme fez sua estreia mundial, em maio. Levei nove meses apenas para chegar ao ponto em que notei que poderia dar o passo final e dizer que poderia adaptar a obra sem desonrá-la. Mas também percebi que teria de assumir riscos para criar algo inesperado e novo. E esses riscos estão na própria origem da adaptação escrita por Osborne e Irena Brignull (Os Boxtrolls). "O Pequeno Príncipe" não é uma transposição extremamente fiel, mas é esperta em suas mudanças. A começar pela história no tradicional 3D que serve de moldura para os contos fantasiosos de Saint-Exupéry: uma garotinha (voz de Mackenzie Foy) é treinada pela mãe (Rachel McAdams) para ingressar em uma escola rígida, mas falha em sua prova de fogo. Minha intenção era tocar nos temas e nas ideias presentes no livro, mas de uma forma diferente, porque o livro pode ser interpretado de tantas maneiras que é impossível de ser traduzido para o cinema. Tentaram fazer isso nos anos 1970 e não funcionou. Osborne diz que até considerou mudar o nome do filme, já que os fãs mais radicais podem chiar com as alterações. É um filme sobre como um livro pode mudar sua vida e esse é o espírito do original", diz o diretor, que precisou apresentar essas ideias para os representantes do espólio do escritor francês. Meu coração estava saindo do peito", recorda-se Osborne. Pensava como tudo poderia acabar naquele momento caso não gostassem. Mas amaram e entenderam os riscos que eu estava correndo com as mudanças. Mas "O Pequeno Príncipe" retoma o caminho tradicional quando a garotinha conhece um vizinho (Jeff Bridges), que começa a contar suas histórias do tempo de aviador, inclusive um encontro com um Príncipe Alienígena (Riley Osborne, filho do diretor). Neste momento, o filme, que deve estrear no Brasil em 20/8, dá um pulo de qualidade, trocando o estilo mais comum das produções da Pixar pelo stop-motion em 2D, baseado nas ilustrações em aquarela de Saint-Exupéry. Senti que poderia ser um belo contraste para representar a imaginação da garotinha quando ela olha para os desenhos originais. Ela tenta fazê-los mais reais e por isso entramos na outra técnica. Isso faz os adultos voltarem a ser crianças, assim como o livro." (Rodrigo Salem)
- DirectorTodd PhillipsStarsBen StillerOwen WilsonSnoop DoggTwo streetwise cops bust criminals in their red and white Ford Gran Torino, with the help of a police snitch called "Huggy Bear".''Fazer longas de cinema baseados em antigas séries de TV é um dos filões mais equivocados de Hollywood. Quase sempre os personagens são modificados (As Panteras), quem era mocinho vira bandido (Missão Impossível), o que era ação vira comédia (O Besouro Verde), e por aí vai. Os resultados são desastrosos, os fãs das séries odeiam. "Starsky & Hutch" é diferente. E não é porque respeitou a série. Pelo contrário. Seriado policial violentíssimo (para padrões dos anos 1970), as aventuras de dois tiras (eles se chamavam assim) viraram um pastelão divertido no cinema. Méritos para Ben Stiller e Owen Wilson, dois atores com boa química de comédia comprovada. Eles seguram o roteiro, que virou tanto a série do avesso que escapou das comparações mais diretas. Esqueça o nome. É tão diferente que poderia se chamar Smith & Jones.(Thales de Menezes)
''Vendo daqui de longe, os anos 70 eram um inóspito planeta à parte, habitado por seres que lembravam os humanos, mesmo usando camisetas vagabundas de nylon, ouvindo rock ruim e com os piores cabelos da história. Essa cara de documentário sociológico engraçado é que difere esse "Starsky & Hutch", que entra em cartaz, das outras adaptações de uma série clássica da TV de 30 e tantos anos atrás.Enquanto Missão Impossível e As Panteras optaram pela transposição do seriado aos dias de hoje, "Starsky & Hutch" fincou pé na era do cabelo grande encaracolado e desapegou do lado "sério" do semipopular programa de TV para também beber da onda nostálgica dos anos 70. Onda essa que, se depender deste "Justiça em Dobro" (o nome-apêndice do filme), dá pinta de que chegou ao fim, pelo menos dentro da cultura pop. Os dois detetives do título, Starsky e Hutch, Ben Stiller e Owen Wilson, o moreno e o loiro, o inteligente e o bonitão, são bem eficientes, mas também os maiores problemas da polícia de uma área de Los Angeles. Cada um com suas diferenças, acabam se tornando parceiros de ronda. Starsky é o tira honesto viciado em trabalho e em seu Ford Gran Torino. Hutch é o policial malandro que quer se dar bem, seja no trabalho e/ou principalmente com as mulheres. Ambos estão à caça de uma dupla traficante de cocaína, a novidade do comércio ilegal. As gags tiradas dessas diferenças afastam o filme da ação pura tal qual era nos anos 70 e o mergulha numa comédia de gosto assim-assim; não dá para rir o tempo todo dos passinhos de dança da disco music e das jaquetas supercoloridas usadas pelos detetives-palhações. O que carrega o filme até o final, sem machucar (muito) quem o está vendo, é a química entre Stiller e Wilson, parceiros de longa data no cinema (Tenenbaums, Zoolander). O diretor Todd Phillips até que se esforça em enfeitar a trama com um figura como o rapper Snoop Dogg (em uma era pré-hip hop) e com citações a filmes contemporâneos, como Poderoso Chefão, Os Embalos de Sábado à Noite. Se "Starsky & Hutch'' for encarado mais como um "Austin Powers" do que como uma refilmagem de um seriado velho, dá para emprestar uns sorrisos ao filme. Mas muito mais porque é um Stiller & Wilson do que por ser "Starsky & Hutch"." (Lucio Ribeiro) - DirectorMaya ForbesStarsMark RuffaloZoe SaldanaImogene WolodarskyA father struggling with bipolar disorder tries to win back his wife by attempting to take full responsibility of their two young, spirited daughters, who don't make the overwhelming task any easier."Sentimentos que Curam" é mais do que a curiosa tradução brasileira para um título em inglês (no original, Infinitely Polar Bear, ou Infinitamente Urso Polar). É uma moral já pronta e embalada para o espectador. Porque é exatamente disso que o filme trata: um homem bipolar "salvo" pelo amor. No começo do longa, o tal homem, Cameron (Mark Ruffalo), tem um grave ataque de nervos, é obrigado a deixar a mulher Maggie (Zoe Saldana) e as duas filhas pequenas e se mudar para um apartamento simples – apesar de pertencer a uma rica e tradicional família americana. Quando Maggie decide fazer faculdade em outra cidade, as filhas do casal vão morar com Cameron. A partir daí, o filme se concentra nas enormes dificuldades que um pai bipolar tem para criar as meninas – e como as adversidades do cotidiano o ajudam a enfrentar seu transtorno. "Sentimentos que Curam" é um filme autobiográfico. A diretora Maya Forbes se baseou na história real de seu pai, Donald Cameron Forbes. Além disso, ela é interpretada no filme por sua filha na vida real. Maya quis fazer um retrato afetuoso do pai. E conseguiu. Mas, como efeito colateral, o resultado traz também uma visão edulcorada da bipolaridade. O Cameron de Mark Ruffalo (ator especializado em personagens desajustados e, talvez por isso, um tanto superestimado) é apresentado sobretudo como um excêntrico. E a relação de Cameron com a mulher e as filhas tem episódios tumultuados, mas que sempre se encerram com demonstrações de fofura explícita. Em certos momentos, Maya parece endossar o título em português do filme, insinuando que bons sentimentos são suficientes para curar um transtorno gravíssimo. Mas de bons sentimentos o inferno do cinema está cheio." (Ricardo Calil)
2015 Sundance - DirectorYang ZhangStarsHuanshan XuTian-Ming WuBin LiA moving road movie about two retired bus drivers, old Zhou and old Ge, who find themselves in the same retirement home and decide to escape for one final escapade with a gang of other senior citizens.''Sensível" é um adjetivo tão desgastado que usá-lo para descrever um filme já deixa o público mais exigente com um pé atrás. Logo, recomenda-se a quem desenvolveu resistência ao "cinema sensível" abster-se de "O Ciclo da Vida". A produção chinesa conduzida com habilidade por Zhang Yang (revelado, em 1999, com Banhos) faz parte do gênero atualmente em profusão de filmes sobre a velhice. O público maduro manteve o hábito de ir ao cinema. Direcionadas a esse nicho, surgiram de toda parte histórias com protagonistas da chamada terceira idade. Os brasileiros Copacabana e Chega de Saudade, o argentino Elsa & Fred, refilmado nos EUA em 2014, os britânicos O Exótico Hotel Marigold 1 e 2 e o francês E se Vivêssemos Todos Juntos? são exemplos desses filmes capazes de atrair mais essa parcela do público do que as fatigantes aventuras de super-heróis. Tal como a maioria dos títulos dessa popular série de longas, "O Ciclo da Vida" é um filme-coral, ou seja, concentra-se em um grupo e, assim, agrega diversidade de situações. O recurso dramatúrgico se justifica para demonstrar que a velhice não é uma coisa só, que a idade pode ocasionar múltiplas dificuldades e também oferecer outras experiências de alegria. O que distingue o longa chinês é a abordagem mais direta dos problemas. O próprio cenário, uma casa de repouso, evidencia a recusa do filme de fantasiar soluções como hotéis exóticos e comunidades idílicas. Os protagonistas mais jovens de "O Ciclo da Vida" estão na faixa dos 70 anos, e os mais maduros afirmam ter 90 e poucos - roubam um pouco dos números para dizer que ganharam outras coisas. Para eles, trapacear a idade tem o sentido de afirmar uma vitalidade e uma força consideradas atributos exclusivos da juventude. Seus personagens não estão no fim da vida, mas no início de uma aventura em que embarcam para competir numa disputa de um reality show na TV. Um está com câncer e quer viver algo inédito como ver o mar. Outro enfrenta a dor de um longo ressentimento do filho. Alguém precisa de cadeira de rodas para se mover. Uma senhora que não sofre de nada junta seu entusiasmo à vantagem de amar de novo. Só não embarca na trupe um senhor cuja demência já o libertou de qualquer controle. Os filhos e a responsável pela clínica querem impor limites e regras, mas os idosos liberam-se por meio de ações rebeldes e trapaças, afirmam uma desobediência que num filme chinês não deixa de ser política. Mesmo que no final "O Ciclo da Vida" exceda o limite de sensibilidade e se torne ultrameloso, as múltiplas visões que ele projeta do envelhecimento podem fazer muito bem à saúde.'' (Cassio Starling Carlos)
- DirectorTony GatlifStarsCéline SalletteRachid YousDavid MurgiaSouth of France. In the sultry August heat, Geronimo, a young social educator, tries to ease tensions between the youngsters of the St Pierre neighborhood. The mood changes when Nil Terzi, a teenage girl of Turkish origin, flees an arranged marriage, running to the arms of her gypsy lover, Lucky Molina. Their escape sparks hostilities between the two clans. When the jousting and the musical battles begin, Geronimo struggles to quell the ensuing unrest around her.''Os problemas sociais franceses servem de matéria-prima de diversos filmes, consolidando um subgênero muito comum no cinema francês desde a década de 1980. Com "Geronimo", Tony Gatlif, de ascendência argelina e cigana e um dos principais diretores a explorar o filão em filmes que problematizam a inserção social dos ciganos, passa também pelo tema das brigas entre gangues. Estamos no litoral sul da França, e o filme se inicia com uma noiva correndo na rua, uma turca de 16 anos que escapa de um casamento equivocado. De outro lado, um rapaz cigano numa motocicleta corre a mil para encontrá-la. Essa união não realizada irá deixar um rastro de descontentamento que causará a ruptura entre gangues rivais de diferentes etnias, que andavam em trégua temporária. Vemos a trama sob o ponto de vista da catalã Geronimo (Céline Sallette), jovem educadora com nome de guerreiro apache. Ela tenta contornar a animosidade e fazer com que se respire novamente um ar pacífico no local. "Geronimo" é uma espécie de Amor, Sublime Amor, de Robert Wise, misturado com Vidas Sem Rumo, de Francis Ford Coppola, sem nunca chegar perto da qualidade de seus modelos. Enquanto os jovens se escondem, unidos e se amando como se não houvesse amanhã, ou separados, mas sempre com medo das consequências, seus familiares lutam por meio da dança e da música. O filme é melhor nos momentos ternos do casal e nas tentativas de Geronimo de contornar o problema. Quando se concentra nas danças e na histeria dos jovens revoltados o tom parece exagerado demais. No meio dessa indecisão, há uma participação curiosa de Sergi López, como o pai de Geronimo que abriga a jovem noiva em fuga. Fora isso, apenas a surpresa que é a atuação de Sallette, principalmente nos momentos calmos, quando está contida e carismática. Nas cenas de tensão, sua atuação se desequilibra com o filme." (Sergio Alpendre)
- DirectorElie WajemanStarsPio MarmaïCédric KahnAdèle HaenelDrug dealer Alex finds hope for a new start when his cousin offers him a job in Israel. Now he must make the final score while balancing a new romance, a past lover, a lifelong friendship, and his brother's addiction. In French w/English subtitles. Official Selection: Cannes FF Directors' Fortnight.''Alex (Pio Marmaï), jovem de família judia que mora em Paris, quer largar a vida de pequeno traficante de drogas e tentar a sorte em Israel. A chance aparece quando um primo lhe conta que vai abrir um restaurante em Tel Aviv. Para se juntar ao primo, Alex precisa de duas coisas: passar por entrevistas realizadas pelo governo israelense, para comprovar seu comprometimento com o judaísmo (processo conhecido como aliyah, que dá título ao filme e envolve testes básicos de hebraico e conhecimentos de cultura judaica) e levantar € 15 mil para entrar na sociedade do restaurante. Uma das condições básicas para obter o visto de residência em Israel é não ter antecedentes criminais. Para juntar os € 15 mil, no entanto, ele precisa intensificar a atividade de traficante –e torcer para não ser pego. Mas essa questão dramática (Alex será ou não será pego?) está longe de ser o principal fio de tensão do longa-metragem de estreia de Elie Wajeman. "Aliyah" não é um filme de suspense, apesar de o suspense fazer parte da teia de emoções que envolvem essa decisão obstinada de Alex. Não serão o irmão problemático, vampiresco, que lhe chantageia emocionalmente e lhe rouba o dinheiro (interpretado pelo cineasta Cédric Kahn) nem a nova e sincera paixão pela jovem Jeanne (Adèle Haenel) que demoverão Alex de sua decisão, profundamente questionada pela família e pelos amigos. Não há dado preciso que justifique a escolha de Alex por Israel. Não sabemos bem o que pesa mais para ele (o desejo de viver lá ou a vontade de deixar a França). Mas entendemos seu desejo, que é o desejo de tantos: uma inquietude que, muitas vezes, não tem explicação e que torna os movimentos migratórios uma das forças mais incontroláveis da humanidade, para desespero das instituições de controle. Elie Wajeman, estreante na direção de um longa (exibido na Semana da Crítica do Festival de Cannes de 2012), conduz com correção esse mergulho na alma do personagem, sem psicologismos ou sociologia baratos. O filme pode não ter revelado um gênio, mas traz, sem dúvidas, um diretor com controle sobre as ferramentas de linguagem e sobretudo um bom diretor de atores. Uma estreia respeitável e um nome a se ficar de olho, enfim." (Pedro Butcher)
2012 Palma de Cannes - DirectorAudrey DanaStarsIsabelle AdjaniAlice BelaïdiLaetitia CastaA story about 11 women living in Paris. Each of them has her own problems: career, love life, children. Every woman has her complexes and virtues. They always look elegant, hiding their inner feelings. Will they reach all their goals and overcome all their difficulties?''Caso o título "O que as Mulheres Querem" terminasse com um sinal de interrogação, o filme poderia até ser visto como uma versão feminina de fenômenos cômicos, na linha macho-trash da franquia "Se Beber, Não Case!". Mas a frase afirmativa escolhida para traduzir o francês Sous les Jupes des Filles (debaixo das saias) tem como efeito repetir os antiquados estereótipos das mulheres histéricas, maníacas e obcecadas por uma única solução para todos os problemas femininos: ter um homem. A proposta da diretora Audrey Dana, também roteirista e atriz do filme, foi inverter a dominação masculina no controle da produção cinematográfica sobre/para mulheres e criar um retrato autenticamente feminino. O resultado demonstra que não basta mudar a chave de gênero para modificar ou suprimir a perspectiva sexista. No material de divulgação do longa, o desejar feminino aparece resumido aos temas paixão, liberdade, sucesso, beleza. No elenco tilintam os nomes de divas de ontem e de anteontem, como Laetitia Casta, Vanessa Paradis e Isabelle Adjani, assim como de atrizes prestigiosas do cinema francês atual, como Marina Hands e Sylvie Testud. Enquanto a diversidade de gerações e de tipos de beleza cumpre a função de representar múltiplos ideais e problemas, os temas que condensam as tramas tornam o filme um catálogo constrangedor de dependências e obsessões. Esse efeito fica ainda mais irritante com a narrativa em forma coral, um vaivém entre diversos focos que se cruzam e que em separado reiteram certezas do mais puro pensamento machista, como mulher bem-sucedida é, no fundo, frustrada e solitária, as feministas não passam de lésbicas enrustidas ou atenção, pois toda amiga está de olho no seu homem. Em poucos momentos, o filme alcança o riso, quando decide zombar dos clichês do feminino e desafiar os limites do bom gosto com assumida grossura. Ou quando dá espaço para a formidável Marina Hands fazer um show burlesco com um número de vingança de mulher submissa. Pena que esses esforços para extrapolar sejam logo domesticados, reutilizados para apaziguar a guerra dos sexos e terminem projetando uma imagem pós-feminista do universo feminino que mais parece pré-histórica." (Cassio Starling Carlos)
- DirectorChris ColumbusStarsAdam SandlerKevin JamesMichelle MonaghanWhen aliens misinterpret video feeds of classic arcade games as a declaration of war, they attack the Earth in the form of the video games.''Em 2010, quando jogos de videogame saíram voando de uma tela de TV e invadiram Nova York no curta francês "Pixels", de Patrick Jean, os olhos de Hollywood brilharam. A combinação de cultura nerd, saudosismo, bons efeitos visuais e ideia original parecia boa demais para só dois minutos e meio de duração. Cinco anos depois, com Adam Sandler no elenco e dirigido pelo rei dos filmes família, Chris Columbus – de Esqueceram de Mim, Uma Babá Quase Perfeita e os dois primeiros Harry Potter –, o resultado não poderia ser diferente: o longa "Pixels" é muito ruim. Tudo o que havia de original no curta francês acabou diluído em mais um filme do Adam Sandler. Seus clichês estão todos lá: do perdedor destinado a algo maior às piadas sem graça que parecem não saber quando acabar. Além disso, o roteiro, cheio de buracos, praticamente ignora, por mais da metade do filme, um dos antagonistas, o ótimo Peter Dinklage (o Tyrion de Game of Thrones). Não foi por falta de aviso. Quando hackers vazaram milhares de arquivos da Sony Pictures, no final de 2014, documentos internos de 2012 revelaram enorme descontentamento de funcionários com as produções do estúdio. Por que continuamos atrelados a esses filmes mundanos e pouco originais do Adam Sandler?, um deles perguntava, enquanto outro implorava à Sony que parasse de produzir os mesmos filmes seguros e sem alma. Infelizmente, parece que ninguém levou as reclamações a sério. Mesmo com diretor relativamente competente e premissa divertida, "Pixels" nunca empolga. Os 105 minutos dedicados a exaltar o mundo dos videogames antigos seriam mais bem gastos jogando "Pac-Man" na minúscula tela de um celular do que sofrendo diante da projeção enorme de uma sala de cinema." (Douglas Lambert)
- DirectorGregory JacobsStarsChanning TatumJoe ManganielloMatt BomerThree years after Mike bowed out of the stripper life at the top of his game, he and the remaining Kings of Tampa hit the road to Myrtle Beach to put on one last blow-out performance.Sequência de Magic Mike é só para fãs de barriga tanquinho. É inegavel que as coreografias são atléticas, difíceis mesmo, mas, sem um bom roteiro para ligá-las, não formam um filme.
"Magic Mike XXL", continuação de um grande sucesso de bilheteria, poderia ser um péssimo filme, mas não é. Porque não chega a ser um filme. É só péssimo. Seu antecessor não era grande coisa. Uma história sobre strippers masculinos com humor, drama e evidentes atrativos para fãs de barrigas tanquinho. Sua continuação deixa de ser um filme sobre esses personagens e esse mundo peculiar. MMXXL (como o filme é divulgado em redes sociais) é só uma sucessão de strip-tease, com menos criatividade do que o original. Sobressaem coreografias de sexo simulado, com os rapazes fogosos se esfregando sem parar em suas fãs mais fogosas ainda. Por mais que quesitos básicos como roteiro, edição e atuação sejam desprezados, o filme está fadado ao sucesso. O motivo é Channing Tatum, que lidera a corrida pelo posto de gostosão de Hollywood. Atuando em longas bacanas como Foxcatcher ou superproduções como O Destino de Júpiter, ele dedica atenção especial à franquia Magic Mike, na qual usa o que aprendeu em seu passado como stripper. É inegável que as coreografias de Mike são atléticas, difíceis mesmo, e Tatum faz todas com vigor. Mas, sem um bom roteiro para ligá-las, não formam um filme. Existe um fiapo de história, que é a viagem dos strippers do filme anterior (sem Matthew McConaughey, fora desta continuação) para sua última participação numa convenção da categoria. No caminho, param em vários lugares e o strip-tease rola fácil. Magic Mike tinha elementos para garantir mais atenção, como a presença de McConaughey e a direção de Steve Soderbergh, diretor um tanto supervalorizado, mas capaz de filmes instigantes. Sem isso, sobrou um audiovisual de homens sarados dançando sem roupa. Para quem prefere meninas, a namorada de Mike é interpretado por Amber Heard, sra. Johnny Depp, hoje o rosto mais luminoso de Hollywood." (Thales de Menezes) - DirectorDaniel AlfredsonStarsJim SturgessSam WorthingtonRyan KwantenThe inside story of the planning, execution, rousing aftermath, and ultimate downfall of the kidnappers of beer tycoon Alfred "Freddy" Heineken in 1983, which resulted in the largest ransom ever paid for an individual.''Baseado no best-seller do jornalista investigativo Peter R. de Vries, este drama conta a história do sequestro do magnata holandês Freddy Heineken (Anthony Hopkins), dono da cervejaria homônima, em 1983, crime que teve enorme repercussão na Europa. O diretor é o sueco Daniel Alfredson, responsável pelos dois últimos filmes da trilogia Millenium, com alguma experiência em filmes de ação. Em meio à crise econômica que reinava na Europa no início da década de 1980, cinco jovens empreendedores pedem um empréstimo bancário, mas este é recusado. Frustrados com a negativa, resolvem levantar dinheiro sequestrando o empresário, um dos homens mais ricos da Holanda na época, exigindo um resgate milionário. O roteiro dá bastante espaço à preparação do crime. Depois de roubar um banco de forma espetacular para financiar o rapto, na melhor cena de ação do filme, o grupo se dedica à logística do sequestro e à estratégia de confundir a polícia fazendo-a acreditar que o crime é iniciativa de uma organização de extrema esquerda. Apesar de haver muito a contar, o roteiro é confuso e raso, não conseguindo engendrar uma narrativa convincente. As motivações do grupo soam frívolas, a tensão psicológica - entre os sequestradores e Freddy Heineken, e principalmente entre os próprios sequestradores – nunca têm a intensidade reclamada pela ousadia do crime. Essas debilidades decorrem em boa parte do fato de os personagens dos sequestradores terem sido caracterizados apressadamente. Os conflitos que surgem entre eles durante o longo cativeiro do empresário aparecem como algo distante. Não há suspense, não há ritmo, tudo é previsível. Em meio a tanta inconsistência, não espanta que de Vries tenha ficado decepcionado com o filme. O que espanta mesmo é a presença de um ator como Anthony Hopkins numa mixórdia dessas." (Alexandre Agabiti Fernandez)
- DirectorAri SandelStarsMae WhitmanBella ThorneRobbie AmellA high school senior instigates a social pecking order revolution after finding out that she has been labeled the DUFF - Designated Ugly Fat Friend - by her prettier, more popular counterparts.''Os filmes recentes para adolescentes têm levado muito a sério a ideia de que aos 15 anos tudo é para sempre. "D.U.F.F." tem a vantagem de tomar a direção contrária. A comédia adapta o livro homônimo da americana Kody Keplinger, que trata das típicas dificuldades de Bianca, uma jovem fora do padrão. Uma busca pelo nome da escritora no Google revela um tipo de físico que costuma ser alvo de bullying, antes, durante e depois do ensino médio, e indica que Bianca deve ser a autora refletida na ficção. Bianca logo descobre que é uma ''D.U.F.F.'', acrônimo para a expressão em inglês Designated Ugly Fat Friend, que em português soa ainda mais ofensiva como a típica amiga feia e gorda. Ou seja, a menina sem graça que tem amigas lindas e é usada como trampolim para chegar nas outras, já que, por ser feia, ela é mais fácil. Ou aquela que não pega nada e compensa tirando as melhores notas e se tornando no gosto e na aparência mais estranha ainda. O apelido vale também para meninos magricelas, góticos, gays, professores e até carros, pois a(o) D.U.F.F. é comum a todo grupo, o desvio do modelo que valoriza o que está ao lado. Em vez de adotar o ponto de vista da vítima e assumir o tom rancoroso de denúncia, "D.U.F.F." prefere desmontar o preconceito por meio de risadas. Quando Bianca se torna alvo de cyberbullying, o filme mostra os vícios virtuais de cada colega, a mania de viralizar e a obsessão com o tamanho do eu nas redes de um ângulo divertido, que expõe a maioria ao ridículo. Sem reduzir os adolescentes a idiotas nem protegê-los com a aura de criaturas mais especiais que todas, "D.U.F.F." trata seus personagens seguindo o mestre dos teen-movies, John Hughes: como diferentes, mas sem levá-los muito a sério. Pena que no final, quando decide passar uma mensagem do tipo "os desajustados também amam", o filme adote a linguagem dos manuais de autoajuda e esqueça que quem ri por último, ri melhor." (Cassio Starling Carlos)
- DirectorKen LoachStarsBarry WardFrancis MageeAileen HenryDuring the Depression, Jimmy Gralton returns home to Ireland after ten years of exile in America. Seeing the levels of poverty and oppression, the activist in him reawakens and he looks to re-open the dance hall that led to his deportation.Diretor britânico anunciou que vai abandonar os longas de ficção após 'Jimmy's Hall', biografia de líder irlandês.
''Jimmy's Hall" foi anunciado pelo diretor britânico Ken Loach, 79, como seu último trabalho de narrativa de ficção, ao ser apresentado na competição do Festival de Cannes do ano passado. Nesse contexto, o filme pode ser visto como o balanço de um percurso que chega a um ponto final, assim como um último ato de afirmação de ideais, como o impulso à rebeldia e a oposição a toda forma de manifestação de autoritarismo, recorrentes na filmografia de Loach desde seus primeiros trabalhos na década de 1960. Depois de conquistar respeitabilidade na TV e como documentarista, a trajetória de Loach na ficção se adensou a partir dos anos 1980, com uma fidelidade admirável à ideia de cinema político. Político aqui não se resume aos temas, mas também torna explícito o engajamento por meio de uma forma. No caso do cinema politizador de Loach, esta se resume ao tratamento realista de evidente inspiração documental, a narrativas conduzidas pela emoção de personagens motivados por ideais e ao feitio clássico que distingue com total clareza os justos dos exploradores. Em "Jimmy's Hall'', Loach ainda retoma a estrutura bem-sucedida que utilizou nos longas em que propôs um mergulho no passado para identificar quais e como certas forças resistiram à derrota histórica ou ao anacronismo. Tanto Terra e Liberdade como Ventos da Liberdade reconstituíram episódios de luta na Guerra Civil Espanhola e na Guerra Civil Irlandesa e, em meio a isso, examinaram como indivíduos foram alçados à condição de heróis libertários. Jimmy Gralton, interpretado por Barry Ward em "Jimmy's Hall", combina a faceta do homem combativo com o retrato social, outro aspecto predominante nos filmes de Loach. Depois de viver anos como imigrante nos Estados Unidos, o retorno à Irlanda natal posto na abertura do filme é mostrado como consequência da Grande Depressão do início dos anos 1930. As imagens que acompanham os créditos de apresentação exibem os efeitos do crack de 1929 nas ruas e nas faces, deixando assim de ser um impessoal acontecimento histórico. Quando Gralton, movido por apelos de um grupo de jovens, decide reinaugurar seu antigo salão, agora com função comunitária, no qual se pode aprender literatura e artes de dia e vivenciar o lazer e o prazer de músicas e danças à noite, seu papel de liderança é interpretado como uma forma de subversão. Se a derrota do personagem serve como metáfora para a própria decisão de Loach de jogar a toalha num momento em que o cinema se encontra refém da lógica exclusiva do entretenimento, o modo como o diretor encena o fim como um legado demonstra como ele acredita que toda luta continua." (Cassio Starling Carlos)
2014 Palma de Cannes - DirectorAnne FontaineStarsFabrice LuchiniGemma ArtertonJason FlemyngAfter moving to the French countryside with her husband, the British beauty Gemma Bovery draws the attention of a local baker who finds in the moving couple a resemblance to the heroes of Madame Bovary.''O subtítulo brasileiro recriado para o original "Gemma Bovery" afirma que "A Vida Imita a Arte". Conversa fiada, pois o que o filme dirigido pela francesa Anne Fontaine tenta é imitar a arte alheia, a saber, o romance Madame Bovary, de Gustave Flaubert, exemplo máximo de como a ficção pode revelar a vida. O longa é adaptado de uma graphic novel da britânica Posy Simmonds, autora também de Tamara Drewe, já transposto para o cinema por Stephen Frears com uma verve mais irônica e eficaz. A trama sobre tédio matrimonial, adultério e morte com que Flaubert desenhou um quadro cruel da vida comum inspira o enredo de Gemma Bovery com base num jogo de coincidências. Além da proximidade sonora do nome, Gemma (Emma no livro) é casada com Charlie (versão inglesa do Charles do romance). O casal se muda para uma pequena cidade na Normandia, onde conhece um vizinho, Martin, produtor dos melhores pães locais e obcecado por literatura. Martin (o sempre eficiente Fabrice Luchini) identifica a sincronicidade entre a bela recém-chegada e a protagonista de seu romance favorito e passa a projetar um enredo romanesco em torno de Gemma. Enquanto se entrega a uma paixão platônica pela vizinha, o padeiro-literato descobre o envolvimento dela com um jovem rico e entediado. Por meio de Martin, ao mesmo tempo personagem e narrador, o filme introduz o que os franceses denominam mise en abyme, uma narrativa dentro da narrativa em que as situações se refletem como num labirinto de espelhos. Martin projeta no corpo carnudo de Gemma seus fantasmas literários, mas é ele quem mais reproduz a Bovary de Flaubert, ao buscar escapar do casamento tedioso seduzido por promessas ilusórias. O filme, no entanto, desperdiça a ironia dessas sobreposições com um tratamento fascinado demais pelo texto, pela confusão de palavrório com complexidade. Em vez de ser fascinado pelo que a arte desvela da vida, o espectador acaba como um aluno que assiste com cara de conteúdo a uma aula maçante sobre jogos de linguagem. " (Cassio Starling Carlos)
- DirectorMarie Amachoukeli-BarsacqClaire BurgerSamuel TheisStarsAngélique LitzenburgerJoseph BourMario TheisAn aging nightclub hostess decides to settle down and get married.''Party Girl" é um objeto estranho e não é. Seu centro é a vida de Angélique, uma ex-dançarina e prostituta já entrada em anos. Nem sempre Angélique está de bem consigo mesma. Às vezes bebe demais. Às vezes sente-se só. Num desses momentos é que procura Michel, mineiro aposentado, antes cliente fiel e agora sumido. Conversa vai, conversa vem, sabemos que os dois são até amigos e se dão muito bem. Tão bem que Michel propõe casamento a Angélique. É uma bela cena, a do pedido de casamento, é verdade, mas o melhor está por vir e é o que marca a originalidade do filme. Primeiro, a intriga: como se comportarão os filhos (quatro) de Angélique diante de um evento dessa natureza? Segundo, como Angélique reagirá a tal mudança na própria vida? Pois a velha dama indigna contraria o clichê e sente-se absolutamente bem em sua profissão. Logo na primeira noite ao lado de Michel na condição de noiva, sente-se inibida. Inibidíssima. A família também contraria o clichê: eis filhos que amam sua mãe e a apreciam como ela é. Essa é a história –até onde pode ser contada. O que se põe depois é uma questão de forma. A opção por uma forma documental (não um documentário) é fundamental para que "Party Girl" seja o que é. Trabalha-se com atores amadores, que improvisam fartamente os seus papéis. Como acontece com frequência nesses casos, cenas conduzidas de modo que parece amador alternam-se com outras bem felizes (as cenas amadorísticas podem acontecer seja por pressão do tempo, seja para não perder atitudes espontâneas dos atores). Estamos, em princípio, perto de um cinema praticado com frequência, em vários níveis: de Éric Rohmer a Abbas Kiarostami. O que "Party Girl" tem de particular é buscar atores amadores (como Kiarostami, por exemplo) que representam suas próprias histórias (no que o filme se aproxima do método Rohmer). A combinação dos dois procedimentos é interessante por vários motivos, sendo que alguns extravasam a cena. O principal: Angélique Litzenburger, ex-prostituta, atriz e personagem, é a mãe de Samuel Theis, ator, corroteirista e codiretor de "Party Girl". É de sua vida passada que trata o filme: fato incontornável, seja pela premiação que recebeu –levou em 2014 o Caméra d'Or, prêmio de melhor primeiro filme concedido pelo Festival de Cannes–, seja pela própria publicidade do longa, que é em torno disso, de sua veracidade. Fato inquietante. Pois a veracidade suposta contrasta com o caráter ficcional do filme, afirmado, aliás, pelo próprio Samuel Theis. Onde estará então a verdade de "Party Girl": em seu aspecto documental ou no ficcional? O tempo é que poderá esclarecer melhor esse tipo de dúvida. Por ora temos diante de nós um filme anticonvencional em vários níveis, não raro bem-sucedido e interessante sempre.'' (* Inácio Araujo *)
''Mas existe hoje a hipótese de mudar um pouco de direção, com "Party Girl". Não o célebre filme de Nicholas Ray, mas a recente incursão de três diretores franceses em torno da vida de uma prostituta. Angélique é uma senhora de seus 60 anos a quem um cliente antigo propõe casamento. Ela até topa. Depois, porém, vêm as dúvidas: ela gosta de ser prostituta, de ir ao bar, de conhecer pessoas... Suportará a vida acanhada de mulher do lar? O longa ganhou o prêmio Camêra d'Or de primeiro filme e prêmio da mostra Um Certo Olhar, em Cannes. De seus três realizadores, não custa lembrar, um deles é filho de Angélique (que interpreta seu próprio papel).'' (** Inácio Araujo **)
2014 Palma de Cannes / 2015 César - DirectorSusan StromanStarsNathan LaneMatthew BroderickUma ThurmanAfter putting together another Broadway flop, down-on-his-luck producer Max Bialystock teams up with timid accountant Leo Bloom in a get-rich-quick scheme to put on the world's worst show.''Seria a comédia um gênero superior? Pode ser. A comédia libera ao surpreender com mais frequência do que os filmes violentos. Daí "Os Produtores" me parecer mais estimável do que, digamos, Old Boy - Dias de Vingança, embora este último seja assinado por Spike Lee, que já teve seus dias... Old Boy traz para a América a história, originalmente de um filme coreano, do homem raptado e preso por 15 anos que, ao se libertar, quer ao mesmo tempo vingar-se de quem o prendeu e descobrir por que esteve preso. E sangue correrá. Já "Os Produtores" trata de uma dupla disposta a montar um musical nazista. A ideia é fracassar de imediato e lucrar com isso. O problema: a peça vira um sucesso, um cult. Inesperado para eles e, em certo sentido, para nós. Eis o que faz rir, num filme bem simpático.'' (* Inácio Araujo *)
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''Os Produtores" retoma a saga de uma antiga comédia de Mel Brooks sobre dois produtores teatrais. Desta vez temos Nathan Lane como um produtor e seu novo associado, um contador vivido por Matthew Broderick. A ideia quem fornece é o contador, claro: trata-se de produzir o pior musical do mundo, um fracasso certo. A peça é de um neonazista, chama-se Primavera para Hitler e é de um momento em que ditador tenha menos repercussão do que hoje. O truque consiste em levantar mais dinheiro do que o necessário (muito mais, se possível). Depois, com o fracasso, eles não precisarão reembolsar os investidores (velhinhas desprotegidas e similares). Terão apenas de embolsar o dinheiro excedente e serão felizes para sempre. Um mecanismo contábil bem bolado e com poucos riscos. Mas e se os poucos riscos de repente começam a crescer? Daí vem a graça. '' (* Inácio Araujo *)
63*206 Globo - DirectorEric LavaineStarsLambert WilsonFranck DuboscFlorence ForestiOn his 50th birthday, a man who's been watching his weight, health and temper all his life suffers a heart attack. He's been doing everything he was told he should do and it still didn't help. He decides to turn the page and let loose.''Filme sobre um grupo de amigos é um subgênero particularmente em voga no cinema francês contemporâneo. Dá margem a sátiras sociais, estudos sobre o caráter, mas também pode ser palco de vinganças e mesquinharias. Ou apenas de gozações. A figura central de "Sobre Amigos, Amor e Vinho" é Antoine (Lambert Wilson), cuja voz participa como instância narradora, fazendo comentários constantes sobre sua vida. Logo de cara, sentencia: Estava de saco cheio. Os amigos, o trabalho, o aborrecem. Ele engana a mulher com outras bem mais jovens, que também o aborrecem. Logo depois sofre um enfarte, do qual se recupera. Mas, como estava cheio de tudo, decide dar uma guinada e começa a curtir a vida como um hedonista: abandona o trabalho maçante, passa a beber e a comer alimentos gordurosos, deixa de praticar atividade física. Também passa a dizer o que pensa dos amigos. O grupo se conheceu na faculdade e desde então se reúne em churrascos, jantares, corridas de rua e durante as sacrossantas férias anuais. A turma compõe uma fauna variada e arquetípica. Laurent (Lionel Abelanski) vive tenso por conta de problemas financeiros; Yves (Guillaume de Tonquédec) é o chato que acha que sabe de tudo; Olivia (Florence Foresti) é expansiva e desencanada, mas não consegue se entender com Baptiste (Franck Dubosc), seu ex-marido, que está desempregado, deprimido e quer reatar com ela. E há ainda Jean-Michel (Jérôme Commandeur), sempre disponível e fazendo gafes, o único que não fez faculdade. Conheceu a patota pois trabalhava no restaurante universitário. Eles vão passar as férias de verão numa bela casa isolada, com piscina e paisagens de tirar o fôlego. Mas essa longa convivência logo provoca conflitos e ajustes de contas mais embaraçosos do que propriamente engraçados. Formado por figuras tão caricatas e heterogêneas, o grupo não convence. Não dá para acreditar que pessoas tão diferentes e sem muita coisa em comum possam ser amigos durante décadas. O humor se baseia em gags onipresentes, sempre feitas em detrimento de alguém. Jean-Michel, o ingênuo, é o alvo preferido das gozações. Piadas machistas e homofóbicas também aparecem. Além do humor rasteiro e de personagens estereotipados, o filme tampouco brilha com a narrativa, convencional e previsível. Como Antoine, o espectador se aborrece. O melhor são os desempenhos de Wilson e Foresti, que apesar dos diálogos pouco inspirados, conseguem destilar alguma ironia." (Alexandre Agabiti Fernandez)
- DirectorOleg StepchenkoStarsJason FlemyngAndrey SmolyakovAleksey ChadovAn eighteenth century English cartographer, Jonathan Green, sets out on a journey to map the uncharted lands of Transylvania, only to discover the dark secrets and dangerous creatures hidden in a cursed, fantastical Romanian forest."Império Proibido" é um filme estranho: uma produção russa dublada em inglês e estrelada por um ator britânico, desperdiça uma história de terror sensacional de Nikolai Gógol numa montanha de efeitos especiais e num roteiro confuso. Dirigido por Oleg Stepchenko, o filme é baseado na história "Viy", de Gógol, sobre um jovem filósofo que é convocado a uma aldeia remota para tentar expurgar demônios do corpo de uma jovem, que ele descobre ser uma bruxa. Mas o filme usa a história apenas como ponto de partida, adicionando uma montanha de elementos que acabam por enfraquecer a trama. Jason Flemyng (X-Men: Primeira Classe) faz um cartógrafo inglês que sonha em criar mapas perfeitos de terras longínquas. Em 1701, ele esbarra na tal aldeia, onde o corpo da bruxa repousa numa igreja abandonada, e vê monstros assustando o lugar. Parece complicado, e é mesmo. Depois de meia hora você nem lembra o fio da meada, e a história vira uma mistura insana de efeitos especiais de computação gráfica, perseguições e criaturas voando pelos céus, tudo num ritmo vertiginoso de videogame. Nada faz muito sentido, e qualquer alusão ao rico folclore russo e a tradições místicas locais acaba soterrado em efeitos visuais exagerados. Parece que a tônica dos filmes de horror/aventura esses dias é empilhar o máximo de referências visuais e cenas impactantes no menor tempo possível, sem dar ao espectador a chance de pensar no que está vendo. E de preferência, em 3D. Menos, por favor." (Andre Barcinski)
- DirectorElizabeth BanksStarsAnna KendrickRebel WilsonHailee SteinfeldAfter a humiliating command performance at The Kennedy Center, the Barden Bellas enter an international competition that no American group has ever won in order to regain their status and right to perform.''No cinema americano, encontramos inúmeros filmes que são reprovados pela razão, mas não pela emoção, essa traiçoeira. "A Escolha Perfeita" é um deles. A combinação música mais romance colegial compensa a dose abissal de clichês e a escatologia que parece obrigatória nas comédias de hoje. É um mau filme que vemos com certo interesse até o fim. Em "A Escolha Perfeita 2", o desafio é percorrer o mesmo caminho sem danar a coisa toda. Infelizmente, podemos dizer que a continuação é ainda pior, e é penoso chegar ao desfecho da trama. As Barden Bellas são agora tricampeãs do concurso anual de grupos vocais. Num show em homenagem a Barack Obama, acontece um acidente bobo, e a intimidade da gordinha fogosa Fat Amy (Rebel Wilson) fica exposta. Então elas caem em desgraça. São suspensas do torneio, mas resolvem competir mundialmente, mesmo sabendo que nunca um grupo americano venceu na Europa. Ganhar o mundo significaria a redenção definitiva. Aos problemas anteriores, somam-se os pessoais. A líder Beca (Anna Kendrick) pensa mais no futuro profissional do que no grupo vocal. Mas o maior problema é do próprio filme. O mínimo encanto que tínhamos com essas doidas adoráveis se perdeu. Agora elas são apenas chatas ou tolas. E os pares românticos são mais chatos ainda. Uma única escolha sábia foi tirar a escatologia. Tudo bem que aí perdemos a dose de loucura que tornava o primeiro filme uma divertida bobagem." (Sergio Alpendre)
- DirectorTonie MarshallStarsSophie MarceauPatrick BruelAndré WilmsRomantic comedy about Lambert, an ex-sex addict turned marriage counselor who hires the sultry, sex-crazed Judith as his assistant. Will her unbridled sexuality derail Lambert's newfound realization that love must come before sex?''A imagem de intelectual e autoral que acompanha o cinema francês sempre esconde a montanha, que eles também produzem, de filmes banais e que prometem apenas um par de horas de divertimento. "Sexo, Amor e Terapia" oferece esse entretenimento embalado numa receita mais de mil vezes testada e aprovada. Um casal de atores maduros satisfaz a vontade de reconhecimento dos pares que vão ao cinema em busca do prazer garantido da identificação. A quarentona Sophie Marceau, que parece ter encontrado a poção da beleza eterna, encarna uma mulher decidida em seu apetite sexual e disposta a deitar com qualquer homem que lhe abra portas. O cinquentão Patrick Bruel interpreta um psicólogo charmoso que tenta controlar seu vício em sexo enquanto aconselha casais em crise com o declínio do desejo. A reunião desses tipos opostos tira sua força do atrito e da inversão, já que a mulher é atirada e voraz, e o homem ocupa um lugar passivo, obrigado a resistir ao impulso feminino. A veterana diretora Tonie Marshall explora esse material de maneira irônica, joga com o avesso dos estereótipos dos gêneros em busca das nuances, buscando desnudá-los das marcas prontas. Sua abordagem depende da eficácia química entre Marceau e Bruel, que duelam o tempo todo a fim de adiar o momento tão esperado pelo público em que finalmente aceitam a concórdia. Com esse recurso clássico de Hollywood, "Sexo, Amor e Terapia" oferece um produto que não tem nada de memorável, apenas se consome como um filme agradável." (Cassio Starling Carlos)
- DirectorRonit ElkabetzShlomi ElkabetzStarsRonit ElkabetzSimon AbkarianGabi AmraniAfter a lukewarm marriage of over twenty years, a woman appeals to her husband's compassion to obtain the desirable divorce document in front of a court, which proves to be more challenging than she would expect.''É quase uma reinvenção do filme de tribunal. Ao mostrar o longo processo de divórcio entre Viviane (Ronit Elkabetz) e Elisha (Simon Abkarian), "O Julgamento de Viviane Amsalem" revela-se um belo drama entre quatro paredes sobre o patriarcado em Israel. Essas quatro paredes não são as de um tribunal convencional, do tipo que vemos frequentemente no cinema, mas de uma sala bem iluminada onde juízes rabinos tentam alguma solução para uma pendenga que só o marido pode solucionar. A atriz principal, Elkabetz (protagonista do ótimo Casamento Arranjado, dirige o filme, acompanhada de seu irmão Shlomi Elkabetz. É o terceiro longa que comandam juntos. O início é forte. O advogado encara Viviane, que ainda não foi revelada pela câmera. Em seguida, dirige-se aos juízes, resumindo o problema: Viviane pediu o divórcio há três anos e saiu de casa. Só agora o marido resolveu aparecer a uma audiência. E é justamente ele que vemos em seguida. Seu rosto inspira piedade. É um homem de traços fortes, mas parece gentil demais para ser um vilão (impressão que será modificada várias vezes). Elisha fala com Viviane, implora para ela voltar, e ela não responde. Por isso, a câmera não a mostra ainda. O advogado dela, Carmel Ben Tovim (Menashe Noy), conversa com o juiz principal, mas só vemos o marido, desapontado. Sabemos onde Viviane está, mas não sabemos como ela reage por enquanto. A renúncia temporária em nos mostrar o outro lado faz com que demoremos para tomar conhecimento de tudo que está em jogo. E, assim, somos manipulados pela direção. Quando Viviane finalmente aparece, ela encara Elisha com um olhar firme, mas ressentido. É um olhar que nos faz pender para seu lado. Ao mesmo tempo, Elisha só nos é antipático porque não quer ceder o divórcio. Ele detém o poder. Absurdamente, os juízes não podem fazer nada. Não somos desnorteados apenas pelo que a câmera escolhe mostrar. Estamos o tempo todo sem saber como será a próxima cena, qual será o próximo movimento narrativo. Sabemos apenas que a coisa beira o surreal. O processo todo demora mais quatro anos, com várias audiências, as paredes da sala envelhecendo com os personagens. As testemunhas se multiplicam, muitas vezes fornecendo alívio cômico ao drama de Viviane. A força do filme vem dessa maneira singular de mostrar uma situação demasiadamente injusta." (Sergio Alpendre)
72*2015 Globo - DirectorDoug EllinStarsAdrian GrenierKevin ConnollyJerry FerraraMovie star Vincent Chase, together with his boys Eric, Turtle, and Johnny, are back - and back in business with super agent-turned-studio head Ari Gold on a risky project that will serve as Vince's directorial debut.''Se o valor de um filme pudesse ser calculado pela quantidade de celebridades fazendo uma ponta, "Entourage: Fama e Amizade" seria uma obra-prima. Um Cidadão Kane das agendas telefônicas. Ronda Rousey, Pharrell Williams, Mike Tyson, Liam Neeson, Kelsey Grammer, Mark Wahlberg, Jessica Alba e dezenas de outros famosos aparecem no longa. Mas, como a ostentação de bons contatos em Hollywood ainda não virou critério artístico, Entourage precisa ser encarado pelo que ele é: derivação desnecessária de uma série de TV de sucesso que não acrescenta nada ao original. A estratégia é a mesma dos longas derivados de Sex and the City: aproveitar a nostalgia dos fãs para faturar. Dessa vez, o astro de cinema Vincent Chase (Adrian Grenier) se arrisca a dirigir seu primeiro filme, com a ajuda de sua entourage e a produção de seu ex-agente e agora chefe de estúdio Ari Gold. Os problemas começam quando o orçamento estoura, e os financiadores se recusam a dar mais dinheiro. Mas os conflitos da trama são tão fugazes quanto as participações. A moral da história: num meio cheio de tentações sexuais, monetárias e egóicas, a amizade deve prevalecer. Oito temporadas de série eram mais que suficientes para dar conta de uma lição tão básica." (Ricardo Calil)
- DirectorElio PetriStarsGian Maria VolontèMariangela MelatoGino PerniceA conscientious factory worker becomes embroiled in political activism after accidentally cutting off his finger while working a machine.''O cinema político do italiano Elio Petri (1929-1982) é refinado, mesmo sem escapar da classificação de filme panfletário. Sua obra-prima é Investigação sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita, no qual Gian Maria Volonté é um policial que comete um crime para ver se seus colegas descobrirão sua culpa. Mas o ótimo lançamento em DVD é outra parceria Petri-Volonté, este "A Classe Operária Vai ao Paraíso", de 1971. Volonté vive o operário exemplar Lulu, favorito dos patrões e hostilizado pelos colegas. Ao perder um dedo em uma máquina, passa a se envolver com política, sindicatos, greves e sofre pressões no ambiente familiar. Petri fala do homem usado como peça no jogo político. A atuação de Volonté é magistral." (Thales de Menezes)
1971 Palma de Cannes - DirectorDavid Robert MitchellStarsMaika MonroeKeir GilchristOlivia LuccardiA young woman is followed by an unknown supernatural force after a sexual encounter.''Em seu segundo longa, o americano David Robert Mitchell tenta renovar o subgênero do slasher, terror com assassinos que trucidam aleatoriamente vítimas. Mitchell inventou um registro original, combinando os códigos do subgênero com a crônica adolescente, na qual a sexualidade tem lugar importante. Jay (Maika Monroe), uma estudante de 19 anos, tem uma experiência sexual com um rapaz e em seguida passa a ter visões nas quais é perseguida por uma estranha entidade decidida a matá-la. O rapaz diz a ela que a única maneira de se livrar da maldição é transmiti-la a alguém pelo sexo. Jay precisa então decidir se segue o conselho do rapaz ou se enfrenta a entidade com a ajuda de amigos. Como rezam os códigos do subgênero, as vítimas são adolescentes, os momentos de suspense são desenvolvidos por meio de perseguições, a trilha sonora emula a música eletrônica repetitiva das obras de John Carpenter –referência desse tipo de filme. Mas o diretor inova fazendo do assassino uma misteriosa entidade –e não um psicopata –, que assume sucessivamente as feições de uma mulher nua, crianças e idosos. Outra novidade é que somente Jay pode vê-la, o que multiplica sua angústia. Ao adotar o sexo como via de contágio da maldição, como algo ao mesmo tempo libertador e punitivo, Mitchell alude ao temor adolescente em relação às doenças sexualmente transmissíveis e critica de passagem o puritanismo da sociedade americana. Apesar das novidades, o resultado não empolga: os atores são limitados e a manipulação do suspense tem altos e baixos, o que não ajuda o sobressalto do espectador." (Alexandre Agabiti Fernandez)
2014 Palma de Cannes - DirectorBong Joon HoStarsChris EvansJamie BellTilda SwintonIn a future where a failed climate change experiment has killed all life except for the survivors who boarded the Snowpiercer (a train that travels around the globe), a new class system emerges.''As visões do futuro nunca foram tão sombrias. Parece que todos esperam um mundo cada vez pior, e não há motivos para pensarmos no contrário. Estamos mesmo no século da distopia. "Expresso da Manhã", de Joon-ho Bong, é mais um filme pós-apocalíptico que estreia agora no Brasil, com inexplicáveis dois anos de atraso. Para um filme com Chris Evans (Capitão América), Jamie Bell (o eterno Billy Elliot –filme ruim é como sarna) e os interessantes Tilda Swinton, John Hurt e Ed Harris é surpreendente essa demora. Na trama, um experimento climático deu errado, provocando uma nova era glacial. Só sobreviveram os poucos que embarcaram num gigantesco trem, uma espécie de arca mecânica (em referência à arca de Noé). Nesse lar sobre trilhos, contudo, estão reproduzidos os mesmos conflitos de classe de antes, com uma maioria escravizada, que vive no fundo do trem e é tiranizada por uma minoria insana. Curtis (Evans) e Edgar (Bell) estão entre aqueles que resolvem se rebelar. Para tentar mudar as coisas, precisam chegar ao primeiro vagão do trem. Devem enfrentar uma série de obstáculos e passar por diversos níveis, como numa mistura de videogame com excursão escolar (passam por uma estufa de plantas, um restaurante-aquário, um vagão-escola, entre outras esquisitices). O roteiro do próprio Joon-ho Bong e de Kelly Masterson, baseado na graphic novel francesa Le Transperceneige, não faz questão de esconder que tudo não passa de uma bobagem. Mas a história em si não interessa em cinema. O que importa é a maneira como a história é contada. O diretor sul-coreano chega a seu quinto longa-metragem, o primeiro com elenco multinacional, repetindo a atmosfera de tensão que caracterizou seu melhor trabalho até aqui: O Hospedeiro. Em alguns momentos, chega perto da excelência. Em outros, beira o infantil. Mas não deixa de ser interessante sua visão de mundo, em que o sadismo encontra um humor inusitado, e sua habilidade em trabalhar num cenário exíguo com uma galeria de personagens bizarros. O elenco de apoio está muito bem. Principalmente Tilda Swinton, caracterizada como uma vilã de desenho animado, cheia de cacoetes e com jeitão de cientista maluca. Ed Harris também impressiona como o grande vilão Wilford, que só aparece nos minutos finais do longa. "Expresso do Amanhã" está longe de ser um grande filme, mas não se pode dizer que é esquecível." (Segio Alpendre)
- DirectorCiarán FoyStarsJames RansoneShannyn SossamonRobert Daniel SloanA young mother and her twin sons move into a rural house that's marked for death.''O pôster de "A Entidade 2", destaca: dos mesmos produtores de "Atividade Paranormal", Sobrenatural e Uma Noite de Crime. Em comum, são franquias de terror com um primeiro filme de sucesso e continuações que parecem feitas no piloto automático –sem cuidado no roteiro ou originalidade na direção, com pressa para capitalizar o êxito anterior. Em seus primeiros 30 minutos, "A Entidade 2" parece fugir a essa sina com uma combinação equilibrada entre suspense, drama familiar e a sanguinolência gore de filmes como Jogos Mortais. Em relação ao original de 2012, com Ethan Hawke, permanece a premissa dos personagens que se mudam para uma casa assombrada e descobrem filmes caseiros mostrando assassinatos brutais. Também permanece o personagem do delegado interpretado por James Ransone, coadjuvante no original elevado aqui a protagonista. Em suas investigações sobre casas assombradas, ele chega aonde mora uma mulher (Shannyn Sossamon) que fugiu de um marido abusivo com seus filhos gêmeos. Um deles vê fantasmas de crianças mortas, que foram obrigadas por um espírito mal a cometer crimes terríveis contra os pais e a gravar tudo em filmes caseiros. Até aí, "A Entidade 2" vai bem. Diferentemente de outras continuações, o filme tem ideias e não se baseia nos sustos fáceis. De um lado, há o suspense discreto da investigação pelo delegado. Do outro, o gore sensacionalista dos filmes caseiro – com cenas fortes e criativas de assassinatos envolvendo crocodilos ou ratos. Há ainda um jogo interessante entre violência sobrenatural e outra, real, de um homem contra a ex-mulher e filhos, muito mais assustadora. Infelizmente, o filme se perde no excesso de ideias, amarradas de forma abrupta, forçada. E a promessa de um terror original não se cumpre. "A Entidade 2" estreia na semana da morte de Wes Craven, de Sexta-Feira 13 e Pânico, e nos deixa com saudades de quando se fazia o segundo filme de uma franquia com o mesmo cuidado artesanal do primeiro.'' (Ricardo Calil)
- DirectorBenoît JacquotStarsLéa SeydouxVincent LindonClotilde MolletA scheming servant works for a wealthy couple in France during the late 19th century.''Os vestidos, os cenários e a recriação detalhista de época dão a primeira impressão de que "O Diário de uma Camareira" é mais um daqueles filmes históricos feitos para satisfazer o espectador com fascínio decorativo. Dramas ambientados no passado são uma constante na obra do diretor francês Benoît Jacquot. Por isso, não surpreende o interesse do cineasta em filmar uma história já levada ao cinema antes por monstros sagrados do porte de Jean Renoir (numa adaptação satírica em 1946) e Luis Buñuel (numa apropriação fetichista em 1964) sem temer inevitáveis comparações. Mas as qualidades desta terceira adaptação do romance de Octave Mirbeau, publicado em 1900, não se resumem à fidelidade maior ao texto original. Como se trata de uma releitura, seu interesse depende de como o cineasta revela aspectos subjacentes e projeta o livro no presente. O tema social da exploração e da revolta, fundamento do livro do escritor e polemista francês, ressurge conectado a questões de fundo político não apenas francês. O filme conta o percurso de Célestine (Léa Seydoux), jovem empregada que consegue um posto numa casa aburguesada. Lá, passa a ser submetida à mesquinhez da patroa e ao assédio do patrão, enquanto observa a revolta reprimida e a subserviência calada dos outros empregados. O material original tinha como principal intenção denunciar a crueldade da luta de classes, enfatizando o poder escravizador da burguesia sobre seus domésticos. Jacquot não descarta essa possibilidade, mas a trata de modo caricatural, mostrando a patroa tal como a rainha má da Branca de Neve. O foco da releitura, no entanto, não se limita ao tema da opressão e se interessa também pelos efeitos distorcidos da repressão. A servidão voluntária de Célestine emerge como um modo de compensar uma sexualidade insatisfeita, enquanto o antissemitismo de Joseph (Vincent Lindon) revela uma perturbação que se descarrega contra o primeiro alvo que lhe aparece. Depois de mostrar a Revolução Francesa do ponto de vista de uma criada de Maria Antonieta no formidável Adeus, Minha Rainha, não é por acaso que o cineasta escolheu a mesma atriz, Léa Seydoux, para o papel de camareira. O intervalo de um século entre aquela história e esta reafirma a vigência da fórmula algo deve mudar para que tudo continue como está, célebre sentença de O Leopardo. Apesar de ambientado no início do século passado, "O Diário de uma Camareira" de fato ausculta um presente em que o cultivo do ódio volta à normalidade, como se a história não fosse mais que uma maldição pronta a se repetir." (Cassio Starling Carlos)
2015 Urso de Ouro - DirectorTal GranitSharon MaymonStarsZe'ev RevachLevana FinkelsteinAliza RosenResidents of a retirement home build a machine for self-euthanasia in order to help their terminally ill friend, though they are faced with a series of dilemmas when rumors of the machine begin to spread.'Tema cada vez mais presente na sociedade, a eutanásia, com suas múltiplas implicações, vem sendo discutida pelo cinema. "A Festa de Despedida", da dupla de roteiristas e diretores israelenses Sharon Maymon e Tal Granit, aborda o assunto pelas lentes do absurdo e do humor negro. Engenheiro aposentado, Yehezkel (Ze'ev Ravach) vive numa casa de repouso em Jerusalém e sofre com a situação de Max (Shmuel Wolf), seu amigo, doente terminal que deseja morrer em paz. Instado por Yana (Aliza Rozen), a mulher de Max, Yehezkel decide construir uma máquina de eutanásia para pôr fim ao drama do amigo. Ajudado por idosos que vivem na mesma casa de repouso, Yehezkel logo monta a engenhoca, que libera um produto letal mediante um comando dado pelo próprio doente, configurando um suicídio assistido, prática considerada crime na imensa maioria dos países. Quando os rumores sobre a existência da máquina começam a circular, outros idosos se interessam por ela, dando lugar a várias peripécias, e o grupo passa a viver um dilema moral. Essa conjuntura delicada é encarada com humor e autoderrisão, sem nunca resvalar no gratuito. As situações tragicômicas e os diálogos cheios de irreverência são costurados com respeitosa sensibilidade, sem cair na farsa nem no sentimentalismo, conduzindo os personagens e o próprio espectador a uma reflexão sobre suas relações com o sofrimento, a velhice e a morte. Tais assuntos ainda são tabus e, por isso mesmo, costumam ser tratados com a condescendência do politicamente correto ou são alvo de pudores e interdições – muitas delas relacionadas com a religião, que o filme destaca muito bem ao ambientar as ações numa sociedade em que a religião tem grande peso como a israelense. A narrativa apresenta de maneira verossímil uma realidade complexa, sobre a qual lança um olhar humanista. Ajudar o doente a morrer, a pedido deste, torna o grupo de idosos uma gangue de criminosos ou uma confraria de amigos corajosos e sinceros? As divergências e debates entre os amigos também proporcionam vários momentos engraçados. E até a hora h, mesmo estando sempre carregada de emoção, às vezes assume contornos hilariantes, como quando a falta de energia elétrica faz com que a paciente com câncer acabe mudando de ideia. O roteiro de Maymon e Granit é um dos pontos fortes do filme, mesmo que algumas situações não funcionem muito bem, como a cena em que os idosos cantam um réquiem dentro do carro. Outro destaque são os atores – muito populares em Israel – que encontraram o tom justo, despertando imediata empatia no espectador." (Alexandre Agabiti Fernandez)
2014 Lion Veneza - DirectorVivian QuStarsYulai LüWenchao HeYong HouIn a southern city of China, a digital mapping surveyor encounters a mysterious woman on an unmappable street.''Os bons cineastas chineses mantêm viva a ideia original do cinema como um instantâneo da realidade, de imantar suas ficções com dramas que fazem do banal algo extraordinário. A estreante Vivian Qu lança-se em "Rua Secreta" num exercício que poderia resultar em pouco mais que divagação de estilo ou exercício teórico feito para impressionar em festivais. O que alcança, porém, é uma agulhada política que os melhores artistas chineses têm como cerne de suas propostas. Seus personagens são Li, um jovem cartógrafo que mapeia ruas para inserir em GPS e complementa o orçamento fazendo bicos de instalador de câmaras de vigilância. No alvo dele, surge no primeiro minuto uma garota enigmática que o atrai e depois desaparece, como as mulheres fatais dos antigos filmes noir. A trama se enrola na tal rua do título, um local que some em mapas e que é uma espécie de buraco negro urbano. Um laboratório situado nela representa o papel de face oculta da sociedade, um aparato policial que controla e pune desvios, um pesadelo paranoico. A aposta da diretora é abordar esse material que acumula situações fantásticas, românticas e metafóricas de um modo direto e realista, inspirando-se no modo como Kafka representou a dominação sem nunca elevar o tom. As cenas envolvem quase sempre episódios de trabalho, são feitas nas ruas, em lojas, no interior de casas e em parques, projetam o cotidiano e captam o comum. O lado heroico de Li combina a curiosidade pelo segredo e a vontade de ter uma garota inalcançável. No entanto, ele é apenas um zé ninguém, refém de trabalhos precários e despojado de futuro. Em torno dele, os colegas e pais também nada são ou deixaram de ser. "Rua Secreta" extrai seu vigor desse contraste, interpondo situações fantásticas e românticas num universo cuja fragilidade e miséria se tornam quase irreais." (Cassio Starling Carlos)
2014 Lion Veneza - DirectorErnesto DaranasStarsAlina RodríguezYuliet CruzArmando Miguel GómezAging teacher Carmela has a special heart for pupils from broken homes and is challenged by the headmaster to follow up 12 year old Chala which is infatuated in Yeni. They are both poor, and has severe home troubles.''No vaivém da produção ficcional vira e mexe a escola reaparece como um microcosmo da sociedade, uma representação condensada que dá a ver com clareza o que se passa num país. "Numa Escola de Havana" encaixa-se nessa categoria ao projetar um retrato irônico e lírico da vida em Cuba hoje. O terceiro longa do diretor Ernesto Daranas adota dois polos, o dos adultos, com seu papel pedagógico e poder de decisão, e o das crianças, com seus horizontes abertos. A figura central do polo adulto é Carmela, uma professora veterana, adorada pelos alunos e que concentra os afetos de grande mestra, avó e autoridade. A atuação excepcional de Alina Rodríguez agrega profundidade à personagem e impede transformá-la numa caricatura maternal. O polo infantil gira em torno de Chala, que o ator mirim Armando Valdes Freire valoriza com uma interpretação de intensidades, oscilando entre o malandro e a vítima, o apaixonado e o bruto. Chala mora com a mãe, jovem alcoólatra que vive à margem e deixa o menino à deriva. Por causa disso, uma assistente social que acompanha o caso decide que o garoto tem de ser levado para um reformatório. O menino também protagoniza o universo infantil da escola, ao lado de amigos, em confronto com um inimigo, apaixonado pela doce Yeni (Amaly Junco), garota cuja situação familiar amplifica o retrato da precariedade social exibido pelo filme. Se este resumo sugere que o enfoque de "Numa Escola de Havana" seja a vitimização, o filme não se esgota no vampirismo da miséria. Carmela, por exemplo, carrega consigo a história do projeto cubano por outro modelo social. Por causa do que viu e viveu, ela reage com ironia à resistência desses ideais, sem deixar de ser idealista. O pequeno papel da diretora no drama também permite mapear o desajuste entre as leis e a realidade, a entender a situação contemporânea de Cuba sem a confusão provocada pelas paixões ideológicas. Daranas retoma um método aplicado por Manoel de Oliveira, Vittorio De Sica e Luis Buñuel, entre tantos outros que tomaram emprestado o ponto de vista infantil para enxergar com outro olhar a crueldade da realidade. Sem deixar de lado a fantasia, "Numa Escola de Havana" mostra o que sobrou do projeto comunista tropical e nos impede de visitar a ilha como turistas." (Cassio Starling Carlos)
- DirectorLuca GuadagninoStarsTilda SwintonMatthias SchoenaertsRalph FiennesA famous rock star's vacation in Italy with her boyfriend is disrupted by the unexpected visit of an old friend and his daughter.''A chamativa Tilda Swinton emudece e o discreto Ralph Fiennes dança de forma espalhafatosa em "A Bigger Splash", de Luca Guadagnini, um dos filmes que competem pelo Leão de Ouro no Festival de Cinema de Veneza. Marianne (Swinton) é uma rock star que resolve descansar numa ilha isolada ao sul da Itália. Mas recebe a visita do produtor musical Harry (Fiennes), com quem teve um envolvimento anos antes e que irá bagunçar seu sossego e seu relacionamento com Paul (Matthias Schoenaerts). O universo de gente abastada é parecido com aquele já abordado por Guadagnini em seu longa-metragem anterior, Um Sonho de Amor, também protagonizado pela atriz inglesa. Foi de Tilda a ideia de que a personagem não falasse no filme: a desculpa dada na história é que ela pretende preservar a sua própria voz. Todos no filme parecem lutar contra o fato de que não conseguem se comunicar muito bem, então esse detalhe parecia interessante, disse a atriz depois da exibição do filme na mostra italiana. E era desafiador para compor uma personagem cuja carreira é pautada pela voz. No polo oposto, como o falastrão que irá chacoalhar tudo está Fiennes. Numa das cenas mais comentadas, ele faz uma dancinha extravagante ao som de Emotional Rescue, dos Rolling Stones. Treinei o dia todo ao som do iPad, comentou o ator inglês, 52, que fez a cena debaixo do sol mediterrâneo da ilha de Pantelleria, na Sicília. A mesma região aparece de forma oposta – sombria, escurecida, quase claustrofóbica – no drama L'Attesa, do também italiano Piero Messina, estreante em longas. O filme traz Juliette Binoche no papel de Anna, mulher solitária que recebe a visita da namorada do filho e é incapaz de dizer à garota que ele está morto. É uma pessoa ambivalente: ela sente um desespero, mas que não pode demonstrar, disse a francesa, premiada duas vezes em Veneza pela atuação em "A Liberdade é Azul", em 1993." (Ghilherme Guinestretri)
2015 Lion Veneza - DirectorManoel de OliveiraStarsChiara MastroianniPedro AbrunhosaAntoine ChappeyA well-bred, lovely, spiritual, sad young woman marries an attentive physician who loves her. She feels affection but no love. Soon after, without design, she falls in love with Pedro Abrunhosa, a poet and performance artist. He also loves her. She keeps her distance from him, confessing her love to a friend who is a nun and, later, to her husband. Hunger for her love and jealousy consume him; she attends him as he wastes away. With his death, she can marry and express her passion, but what she does and how she explains herself, particularly to her cloistered friend, is at the heart of the film. Glimpses of convent life and of Abrunhosa on stage give contrast and mute comment.''Talvez o juízo mais profundo sobre Madame de La Fayette venha de Camus, que vê em seus livros uma forte desconfiança do amor. O amor é perigoso, acredita ela. Ao límpido estilo da autora de A Princesa de Clèves corresponde o límpido estilo de Manoel de Oliveira ao trazer seu texto para o cinema. Em "A Carta", Oliveira adapta a história com liberdade e fidelidade totais: a princesa é uma rica senhora casada. O homem que a ama e é correspondido, um roqueiro. Com humor, o cineasta transfere o drama do amor para as diferenças sociais. Com mais humor, introduz uma solene negação do tempo, quando a sra. de Clèves busca conselhos espirituais com sua amiga religiosa. Religiosa jansenista... Os jansenistas são coisa do tempo de Mme. de La Fayette, do século 17. Mas Oliveira está certo: há níveis em que o tempo não passa.'' (* Inácio Araujo *)
1999 Palma de Cannes - DirectorAmos GitaiStarsIschac HiskiyaYitzhak HizkiyaPini MittelmanItzhak Rabin's murder ended all efforts of peace, and with him the whole left wing of Israel died. The movie shows the last of his days as prime minister, and what led to his murder."O Estado de Israel nunca mais será o mesmo. A fase de toada pessimista domina o longa "Rabin, the Last Day", que o diretor israelense Amos Gitai levou ao Festival de Cinema de Veneza. O thriller reconstitui a investigação do assassinato, a tiros, do premiê israelense Yitzhak Rabin, em 1995, por um extremista judeu contrário aos acordos de paz firmados com os palestinos. Rabin é o centro e o buraco negro do filme: a trama gira em torno dele, mas não quis retratá-lo, não quis competir com sua figura, disse Gitai, que já abordou os conflitos na região em filmes como O Dia do Perdão. O crime é reconstruído por gravações da noite em que ministro foi alvejado, num comício pela paz em Tel Aviv. Em seguida, Gitai encena a comissão que apurou a morte, expondo as falhas da segurança e o atendimento médico, e o universo do atirador. Documentos e testemunhos embasaram cenas como as dos rituais religiosos em que rabinos incitavam a morte do premiê, invocando o princípio ortodoxo do din rodef, a permissão ao homicídio contida no Talmude. Gitai descarta comparações com JFK, de Oliver Stone, sobre a morte de Kennedy. Não foi conspiração do caso de Rabin, cuja morte era anunciada nos muros. Ela foi cometida para desestabilizar a democracia. Para o diretor, lançar o longa 20 anos após o caso faz pensar o presente. Olhamos o passado não por sentimentalismo, e sim para entender uma época de uma breve esperança de diálogo entre e israelenses e palestinos. Gitai reafirmou sua opinião de que os territórios da Cisjordânia e da Faixa de Gaza são terra dos palestinos. Temos que conviver com eles. Para se ter paz, você tem de considerar o outro. Sobre o assassino, hoje preso, diz que foi só a mão que empunhava a arma, e por isso não é o centro do filme. Numa edição pouco política – a atriz Tilda Swinton e o diretor Tom Hooper citaram de passagem a questão dos refugiados–, Gitai pediu um minuto de silêncio por Riham Dawabsheh, palestina atacada por extremistas israelenses e que teve a morte anunciada nesta segunda.'' (Guilherme Genestretri)
2015 Lion Veneza - DirectorEugène GreenStarsFabrizio RongioneChristelle ProtLudovico SuccioAt the height of his career, Alexandre decides to set off for Italy with the idea of completing of a book on Borromini. Along with his wife Alienor feels her relationship with Alexandre is gradually slipping away. Along the way they meet siblings Goffredo and Lavinia. Gofffredo is about to embark in architectural studies. A story of rediscover the joys of life and overcoming anxiety.''O grande tema de Eugène Green, diretor americano naturalizado francês, é a transmissão de conhecimento e o encantamento pelas mais nobres formas artísticas. Isso se torna mais evidente em seu terceiro longa, A Ponte das Artes, no qual um jovem prestes a se matar desiste da ideia ao ouvir a voz celestial de uma cantora em Lamento della Ninfa, de Claudio Monteverdi, precursor do barroco musical italiano. Em seu quinto longa, "La Sapienza", Green mostra novamente o encanto pela arte e a transmissão de conhecimento de um homem para um jovem estudante. Alexandre Schmidt (Fabrizio Rongione), arquiteto francês renomado, viaja pela Itália com sua mulher, Aliénor (Christelle Prot, atriz constante nos filmes do diretor). Num passeio, eles encontram os irmãos adolescentes Goffredo (Ludovico Succio) e Lavinia (Arianna Nastro). Alexandre e Aliénor vivem no tédio, também porque não se encaixam em um mundo em que o dinheiro sempre fala mais alto. O filme mostra, então, a revitalização da relação do casal por meio do encontro com Goffredo e Lavinia: a juventude e sua sede de aprendizado. Propõe também uma interessante discussão sobre a arquitetura barroca italiana: Gian Lorenzo Bernini era o arquiteto racional, que se submetia às regras e hierarquias do poder, enquanto Francesco Borromini era livre, místico, aberto às experiências humanas. O estilo de Green é simples, baseia-se sobretudo na recusa ao naturalismo. Os atores falam com impostação, muitas vezes olhando diretamente para a câmera e com o corpo quase imóvel. Não são robôs, pois a emoção está sempre presente em seus olhares, mesmo quando o tédio predomina em cena. Esse tipo de encenação destaca o valor do texto, da palavra, e propõe uma forma diferente de apreensão por parte do espectador, que jamais é ludibriado pela engrenagem narrativa. Pelo contrário: está o tempo todo consciente de presenciar uma autêntica obra de arte. Essa relação entre criador e espectador é fundamental para entendermos o cinema único e sublime de Eugène Green, cineasta muito distante da habitual pobreza do cinema contemporâneo." (Sergio Alpendre)
"No princípio era o verbo. Esta fórmula mítica, na qual a filosofia e a religião ocidentais fundaram suas primeiras verdades, é a fonte à qual Eugène Green retorna com seu cinema na contramão do espetáculo. A obra relativamente breve deste cineasta nascido nos EUA e naturalizado francês é um dos destaques do Indie. O festival apresenta os cinco longas e três curtas filmados por Green, desde sua estreia tardia no cinema, aos 54 anos, em 2001. De Todas as Noites a "La Sapienza" , trabalho estreado há um mês em Locarno, Eugène Green aproxima-se da tradição que vê na palavra algo além de suporte da comunicação. Como nos filmes de Manoel de Oliveira, do casal Jean-Marie Straub e Danièle Huillet ou de Marguerite Duras, o que se diz é fundamento da encenação. Neles, o espectador passa a ver na medida em que se deixa guiar pela escuta. Em "La Sapienza" , a fala começa como tagarelice, nos discursos oficiais e na vulgaridade das conversas ao celular. Seu oposto surge na incomunicabilidade de um casal que perdeu o poder afetivo das palavras. Aos poucos, a cura de uma jovem doente passa por sua capacidade de dizer. Enquanto isso, um arquiteto maduro e um jovem aspirante descobrem em seus diálogos que saber e sabedoria são experiências distintas e até mesmo contraditórias. A primeira impressão que "La Sapienza" provoca é de um experimento anticinematográfico. A câmera fixa registra, de modo aparentemente monótono, atores posicionados de frente. Eles dialogam olhando para a lente, o que nos desloca do lugar de voyeur que ocupamos confortavelmente no cinema e nos torna interlocutores. A depuração formal, contudo, não é um fim em si, como na obra dos cineastas contemporâneos encantados pela inteligência de seus conceitos. A redução à essência, que Green busca com tanta disciplina, faz parte de um processo para chegar a um cinema que tem o que dizer." (Cassio Starling Carlos) - DirectorCamille DelamarreStarsEd SkreinLoan ChabanolRay StevensonIn the south of France, former special-ops mercenary Frank Martin enters into a game of chess with a femme-fatale and her three sidekicks who are looking for revenge against a sinister Russian kingpin.''O título repaginado é novidade que nem deve chamar a atenção dos fãs da franquia Carga Explosiva. Para eles, o quarto filme traz o mesmo tanto de correria e pancadaria dos três primeiros, mas a troca do protagonista mostra que mesmo o cinema feito como latas de sardinha precisa ter alguma personalidade. Depois de servir como trampolim para o ator Jason Statham entrar na lista de ídolos musculosos e sedutores, o papel do mercenário Frank Martin passa para Ed Skrein. Enquanto o ar canalha de Statham ajudava a injetar cinismo e distinguir os primeiros Carga Explosiva da infinita linha de similares, seu substituto de cara amarrada não ajuda muito. Como sempre, a trama gira em torno de garotas protegidas por Frank, o mercenário bom de luta e de cama. O francês Luc Besson, criador da franquia e co-roteirista, surrupia o espírito aventuresco de Os Três Mosqueteiros para as moças, movidas pelo desejo de vingança contra o mafioso que as escravizou como prostitutas. Breves referências à degradação e à exploração dos migrantes na Europa visam emprestar um mínimo de conteúdo, mas quem busca esse tipo de filme não está muito a fim de conversa. Para estes, a direção do montador Camille Delamarre resolve tudo pisando no acelerador. Já quem prefere cinema pode ficar cansado de assistir a um comercial de carros Audi e de relógios Omega por uma hora e meia." (Cassio Starling Carlos)
- DirectorJohn Francis DaleyJonathan GoldsteinStarsEd HelmsChristina ApplegateSkyler GisondoRusty Griswold takes his own family on a road trip to "Walley World" in order to spice things up with his wife and reconnect with his sons.''A morte de Harold Ramis, diretor do primeiro "Férias Frustradas", e a decadência dos irmãos Peter e Bobby Farrelly deixaram um vácuo na comédia hollywoodiana. Há uns dez anos, talvez mais, não surge uma comédia de alto nível no cinema americano. A ordem do dia é algum personagem vomitar em cena, e pouco se pensa na inteligência do espectador. Foram os irmãos Farrelly, por sinal, que colocaram a escatologia como pauta da comédia americana. Porém, em filmes como Quem Vai Ficar com Mary?, excreções aparecem de maneira harmônica com a narrativa, não só como ingredientes de choque. Este novo "Férias Frustradas", de John Francis Daley e Jonathan Goldstein, bem que tenta mudar o cenário, apesar de também mostrar uma personagem vomitando. Confirmando o tom nostálgico do cinema atual, vemos a mesma viagem do filme original até o parque Walley World, retomada aqui pelo filho do casal formado por Chevy Chase e Beverly D'Angelo. Ed Helms, famoso graças aos três filmes da franquia Se Beber, Não Case!, interpreta Rusty Griswold, enquanto Christina Applegate é sua mulher, Debbie. Como Rusty herdou do pai o talento para se meter em confusões, essa viagem vai se tornar uma autêntica prova de amor e união para o casal e seus filhos, James e Kevin. Um dos melhores momentos do longa é quando Rusty encontra sua irmã Audrey (Leslie Mann), que se casou com o grosseiro Stone (Chris Hemsworth, no papel de sua vida), garanhão que faz questão de mostrar o tempo todo seus dotes físicos. Outra boa cena é o encontro de Rusty com os pais. É quando retomamos o contato com Chase, que está quase irreconhecível, mas ainda tem uma rara presença cômica. Enquanto está em cena, domina o filme com facilidade." (Sergio Alpendre)
- DirectorPeter SollettStarsJulianne MooreElliot PageSteve CarellNew Jersey police lieutenant Laurel Hester and her registered domestic partner Stacie Andree battle to secure Hester's pension benefits when she is diagnosed with terminal cancer.''Cinco vezes indicada ao Oscar e atual dona da estatueta de melhor atriz por Para Sempre Alice, a americana Julianne Moore entra novamente na corrida pelo prêmio mais famoso do cinema, em um papel dramático que a Academia dificilmente deixará passar despercebido. Em "Freeheld", de Peter Sollett, filme apresentado neste domingo (13) no Festival de Toronto –considerado como principal plataforma de lançamentos de filmes do Oscar– a atriz faz o papel verídico de Laurel Hester, policial que serviu em uma pequena comunidade de Nova Jersey. Laurel travou uma batalha jurídica contra uma espécie de conselho municipal para garantir a pensão à sua companheira, Stacey Andree (Ellen Page). Isso porque no meio do relacionamento – escondido da polícia– ela descobriu ter câncer terminal. Apesar de ter vivido uma mulher com Alzheimer em Para Sempre Alice, algo que certamente contará na premiação, Julianne Moore diz que não se preocupou pelo fato de viver outra vítima de doença em "Freeheld". Os dois filmes são inteiramente diferentes, não apenas em tom, mas na mensagem em si. Não pensei duas vezes em aceitar o papel, porque a história de Laurel e Stacey é muito importante, conta a atriz à Folha. O projeto surgiu com um filme homônimo de Cynthia Wade que ganhou o Oscar de 2008 de melhor documentário em curta-metragem. "Freeheld", por sua vez, não deve faturar muitos prêmios para além da performance dos atores. O longa traz também grandes atuações de Page e Michael Shannon, como o parceiro de Laurel na polícia, mas Sollett não conseguiu se desvencilhar totalmente das armadilhas que esse tipo de projeto proporciona. O romance entre as duas mulheres é carregado de sentimentalismo e o poder da mensagem por igualdade entre os sexos toma conta de cada segundo da película o que não favorece ao avanço da trama. Com outros filmes de temática LGBT como fortes candidatos, como Carol, About Ray e A Garota Dinamarquesa, o Oscar 2016 pode ser um marco na luta pelos direitos iguais. Acho que as premiações servem para colocar uma luz nestas obras. Quando filmes com temas LGBT provam que podem ser comerciais, o benefício é para todos, afirma Ellen Page, que se assumiu gay há um ano. O público tem mais acesso a histórias diferentes e situações que eram tabus começam a virar normais." (Rodrigo Salem)
''Outro dia ela teve Alzheimer, agora sofre de câncer. Será que Julianne Moore decidiu se especializar em papeis de mártires? A vencedora do Oscar de melhor atriz em 2015 assume o risco de fatigar seu público ao emendar os apagamentos de Para Sempre Alice aos padecimentos de "Amor por Direito", melodrama sobre um casal de mulheres que luta pela igualdade civil. A intenção foi explorar o prestígio da atriz para defender a causa das implicações legais e civis do casamento gay. Estamos diante de um filme de mensagem, gênero simpático, porém limitado. Moore é uma policial que decide, enfim, assumir sua homossexualidade quando conhece uma garota mais jovem (Ellen Page, em química perfeita com a veterana). O diagnóstico de câncer inviabiliza o felizes para sempre e dá início à luta para que a companheira receba a pensão a que viúvos(as) têm direito. A partir daí, Moore e Page assumem papeis de coadjuvantes e o filme transforma-se em uma bem montada peça de marketing político. A entrada em cena de Steve Carell, advogado gay animador de manifestações, dá humor e leveza e torna o resultado facinho de assistir. O problema desse tipo de filme está no desajuste entre a mensagem e seu alvo. Quem já é simpático torna-se mais simpático, mas dificilmente ouviremos falar de igrejas distribuindo ingressos para seus fieis assistirem a uma história que demonstra que o direito ao amor também é universal." (Cassio Starling Carlos) - DirectorDavid Gordon GreenStarsSandra BullockBilly Bob ThorntonAnthony MackieA battle-hardened American political consultant is sent to help re-elect a controversial president in Bolivia, where she must compete with a long-term rival working for another candidate.''A consagração do cinema de Venezuela, Argentina e, em menor grau, Brasil em Veneza não foi o único destaque latino no fim de semana cinematográfico. No Festival de Toronto, o filme "Our Brand Is Crisis", com Sandra Bullock no meio das eleições presidenciais da Bolívia, em 2002, foi exibido no sábado. Apesar de baseado no documentário homônimo de Rachel Boynton, o longa ficcional de David Gordon Green (Segurando as Pontas) pouco tem a ver com o original. A premissa é a única coisa não alterada: o candidato da oligarquia boliviana contrata um grupo americano para tentar tirar os 20 pontos de vantagem que o candidato populista possui nas eleições. É isso. Não há nomes verídicos ou situações tensas. É uma comédia caricata que certamente vai desagradar o povo boliviano, mas que pode funcionar no mercado estrangeiro, principalmente por causa de Sandra Bullock. A atriz tomou o papel que seria de George Clooney, como uma consultora neurótica, competitiva e alcoólatra que passa a trabalhar para o candidato Castillo (o português Joaquim de Almeida), que seria a versão ficcional de Gonzalo Sánchez de Losada. Surpreendentemente, não há muito debate político, considerando que Clooney e Grant Heslov são produtores (politizados) do longa e que o material original permaneceu batizando a ficção, fica estranha a escolha de tom. Não queríamos fazer nenhuma declaração política com esse filme, disse Clooney em Toronto. Obviamente, estávamos interessados no processo eleitoral, mas não procurando algo somente sobre política. O longa é sobre a condição humana e como estamos embalando e vendendo tudo de maneira específica." (Rodrigo Salem)
- DirectorEmmanuelle BercotStarsCatherine DeneuveRod ParadotBenoît MagimelA juvenile judge and a special educator are convinced that they can save the young delinquent Malony from himself and his violent ways.''Duas mulheres discutem a respeito da guarda de um pequeno garoto. Não se veem suas faces, apenas se ouve um diálogo ríspido. No centro da cena, o menino reage turbulento enquanto nos encara com um olhar inquisidor: de quem é a culpa? A situação serve de prólogo a "De Cabeça Erguida", filme da francesa Emmanuelle Bercot que atraiu a atenção ao ser escolhido para abrir o Festival de Cannes deste ano. A violência contida da cena também anuncia um drama de insubordinação, da rebeldia como modo de expressão, da violência como resposta à violência. Esta característica tem no Antoine Doinel, protagonista de Os Incompreendidos, de François Truffaut, uma matriz cuja influência persiste no cinema. Por meio de elipses que intensificam e lançam o drama, "De Cabeça Erguida" revela a transformação de Malony da criança indefesa vista no primeiro momento em um adolescente selvagem e criminal. Em torno dele, a mãe inepta e drogada (Sara Forestier) e uma juíza de menores (Catherine Deneuve) se confrontam a respeito de saídas para arrancar o jovem do destino ao qual parece condenado. Bercot põe em contraste os efeitos da liberdade ilimitada com a função das leis de enquadrar e coibir. O discurso moral, no entanto, não pesa nem sobrecarrega o filme na medida em que a direção prefere seguir o desempenho do estreante Rod Paradot no papel de Malony, personagem que provoca respostas ambíguas, ao qual reagimos com aversão e afeto. Como Jean-Pierre Léaud em Os Incompreendidos ou Sandrine Bonnaire em Aos Nossos Amores, primeiros trabalhos de ambos atores, Paradot magnetiza todas as cenas e, assim, desloca o foco do drama social para sua atuação. O efeito colateral dessa proeza é que "De Cabeça Erguida" estica e puxa um pouco demais as situações, reitera para subjugar o espectador com a performance abundante do protagonista. Se tivesse meia hora a menos, o filme venceria mais pela força do que pelo cansaço." (Cassio Starling Carlos)
- DirectorNils MalmrosStarsJakob CedergrenHelle FagralidIda DwingerDanish filmmaker Nils Malmros tells about his manic-depressive wife killing their baby, how he met her, a teacher, two years earlier in 1981 and the time after.''Entre os diretores dinamarqueses que despontaram nos anos 1980, o mais experiente é Gabriel Axel, que começou na década de 1950; o mais acadêmico, Bille August (Pelle, O Conquistador); e o polemista é Lars von Trier (O Elemento do Crime, muito melhor que as bobagens que cometeu recentemente). O melhor desses diretores, contudo, permaneceu desconhecido fora da Dinamarca: Nils Malmros. Sua grande fase aconteceu nos anos 1980, quando realizou filmes inesquecíveis como A Árvore do Conhecimento e Arhus by Night. O mundo das crianças e dos adolescentes e o trabalho de um cineasta são dois dos principais motivos de seu cinema, geralmente em histórias autobiográficas. Seu estilo conjuga precisão e elegância. Isso fica claro no belo "Tristeza e Alegria", seu mais recente trabalho. É um filme invernal que começa com uma tragédia: o diretor de cinema Johannes (Jakob Cedergren) chega em casa e descobre que sua esposa Signe (Helle Fagralid) matou a pequenina filha do casal. O que iremos acompanhar, então, é a história do relacionamento entre Johannes e Signe, contada por Johannes para um terapeuta, e a luta pela superação da tragédia, enquanto Signe está internada num hospital psiquiátrico. Johannes dirige filmes sobre adolescentes, parecidos com os que o próprio Malmros dirigiu. No momento da crise aguda de Signe, ele finalizava um longa sobre um pai que tem paixão reprimida pela filha de 16 anos. A cena em que Signe toma consciência do tipo de olhar que o diretor, seu marido, reserva à jovem atriz é a comprovação de que Malmros não é um cineasta qualquer." (Sergio Alpendre)
- DirectorAsif KapadiaStarsAmy WinehouseMitch WinehouseMark RonsonArchival footage and personal testimonials present an intimate portrait of the life and career of British singer/songwriter Amy Winehouse.*****
Obra revela o que há de belo e de falho na existência humana.
''Quando as coisas começaram a dar errado? Foi quando ela se apaixonou por um cara chamado Blake e entrou em uma relação de dependência e destruição? Ou foi antes disso: quando os pais se divorciam com ela ainda criança? Ou quando ela desenvolveu bulimia por se achar gorda na adolescência?Pode também ter sido mais tarde: quando ela disse não para o rehab? Ou ainda quando ela fez um sucesso para o qual não estava preparada e passou a ser vergonhosamente perseguida por paparazzi? Em que momento a vida de Amy deixou de ser promessa para se tornar um fardo? Essa é a questão que martela ao longo do tristíssimo "Amy" – e que o documentário tem a sabedoria de não responder. O diretor inglês Asif Kapadia evita impor um olhar pessoal ao seu personagem e deixa as perguntas –e a impossibilidade das respostas – ao espectador. Seu método é reunir todo o arquivo e o máximo de vozes possível sobre o tema e editar o material de forma quase sempre cronológica, sacrificando a originalidade em nome da ordem. Quando "Amy" fica com cara de telefime (sobretudo no uso de música dramática para acentuar passagens dramáticas), a força do personagem carrega o documentário. ''Amy'' foi aquilo que o crítico Jean-Claude Bernardet chama de "pessoa-laboratório", um ser que concentra as contradições humanas em níveis radicais para que nós possamos vivê-las de forma razoável. Nesse sentido, seu drama é específico (garota judia com talento sobrenatural e pendor para a autodestruição) e universal (revela o que há de belo e falho na existência humana). Como ''Amy'', mas em menor grau, todo mundo brilha e se desespera. E ao ver (e rever) uma Amy doente ser perseguida por paparazzi e ridicularizada nós nos tornamos cúmplices de uma sociedade do espetáculo igualmente dodói. ''Amy'' só tem uma. E somos todos ''Amy''. Em ambos os casos, um espetáculo bonito e devastador. Quando as coisas começaram a dar errado?" (Ricardo Calil)
2015 Palma de Cannes - DirectorFerdinando Vicentini OrgnaniStarsVincenzo AmatoPietro SermontiDaniela VirgilioIt all started with the first wine sip Giovanni Cuttin had in his life. A Marzemino, a wine mentioned by Lorenzo da Ponte in his libretto for Mozart's Don Giovanni. Since then, the shy clerk becomes the bank director, a lady-killer and the most revered wine expert in Italy. But soon he will be charged for his wife's murder. Being grilled by Inspector Sanfelice, Giovanni reflects on the last 3 years of his life, dominated by an only mad passion: wine. Gradually the investigation becomes more and more caught between the boundaries of reality and its dreamlike counterpart. What if Giovanni, like Faust, met a diabolic force that made his life very special, only to settle the score later?''No longa italiano "O Vinho Perfeito", de Ferdinando Vicentini Orgnani, a derivação é regra. Desde o início, com a mulher misteriosa e a revelação da estrutura baseada em flashbacks, tudo remete a filmes europeus de prestígio. O ambiente corporativo de competição e inveja por todos os lados remete a O Capital, de Costa-Gavras. O interrogatório é quase um plágio de Uma Simples Formalidade, o melhor filme de Giuseppe Tornatore. Finalmente, alguns ambientes pelos quais circula o protagonista, um profundo conhecedor de vinhos, lembra os de A Grande Beleza, de Paolo Sorrentino. Com a exceção deste último, propaganda interminável de aperitivo alcoólico, os modelos são mais interessantes do que "O Vinho Perfeito". Vejamos sua trama de maneira linear. Giovanni (Vincenzo Amato) é um bancário que tem uma vida medíocre e um relacionamento sem graça com a esposa Adele. Quando conhece um misterioso professor, passa a adquirir dons especiais, dos quais o mais evidente é o de reconhecer qualquer vinho existente no planeta. Como num passe de mágica, ele vira gerente do banco e gasta dinheiro em vinhos raros de leilões. Depois, torna-se um playboy profissional. Um assassinato o transforma em principal suspeito, e como o investigador de polícia, também queremos saber o que realmente aconteceu. Não convém querer muito, vale dizer, pois as respostas reveladas são frutos da mais frágil imaginação." (Sergio Alpendre)
- DirectorSean EvansRoger WatersStarsRoger WatersDave KilminsterSnowy WhiteDetails one of the most elaborately staged theatrical productions in music history as Pink Floyd frontman Roger Waters performs the band's critically acclaimed album The Wall in its entirety.''Roger Waters tinha 36 anos quando, em 1979, fez The Wall com Bob Ezrin, David Gilmour e James Guthrie, um dos mais influentes e mais vendidos álbuns da banda inglesa Pink Floyd. Waters não para e, 36 anos depois, revive as emocionantes letras e as memoráveis cenas de fantasias do longa "Pink Floyd The Wall", dirigido por Alan Parker em 1982. Desta vez o filme é uma bem cuidada edição da turnê "Roger Waters - The Wall", que passou pelo Brasil e foi vista no mundo por mais de 4 milhões de pessoas. Um avião avança sobre o público. É o começo da ópera-rock com reminiscências da Segunda Guerra Mundial e de tragédias recentes. É Waters quem conduz o enredo do filme. Num cenário manchado pelo sangue da iluminação avermelhada, caminha pelo palco com sapatos brancos, sugerindo paz. Pessoas de todo o mundo que foram vítimas do terror ou de ações desastrosas de autoridades políticas e policiais surgem no telão. Entre eles, o brasileiro Jean Charles de Menezes, morto pela polícia de Londres no metrô, confundido com um terrorista. Quem presenciou algum dos shows da turnê se surpreende no filme com o drama familiar do músico inglês, apenas sugerido no palco, mas escancarado na tela. No longa, Waters entra em um cemitério e toca uma corneta cujo som marca o adeus a soldados mortos em combates. Entre as lápides, aparecem as do avô, que morreu na Primeira Guerra, quando o pai de Waters tinha dois anos, e também a de Eric Fletcher Waters, pai do músico, morto na Segunda Guerra, quando o cantor tinha cinco meses. Efeitos visuais e sonoros, uma das marcas do espetáculo, estão mantidos. São fortes e chocantes e guiam sobretudo a solidariedade às vítimas das guerras, da fome, da loucura de mandatários obcecados pelo poder, do apartheid. Consagra o que os shows da turnê apresentaram: flashes sobre acontecimentos históricos mostrados em animações computadorizadas, cujos movimentos são determinados pela música. Na plateia, o público jovem chama a atenção. São fiéis ao trabalho de Waters, que em 1965, com os colegas Syd Barrett, David Gilmour, Nick Mason e Richard Wright, fundou o Pink Floyd. "Roger Waters - The Wall" é uma produção para fãs e para não fãs de Waters e do Pink Floyd, dissociados no papel, mas não na essência. A produção prende a atenção, faz refletir, assusta, constrange, leva a sentir vergonha alheia, faz chorar os sensíveis. A edição e as montagens são impecáveis. E a trilha sonora... Estamos falando de The Wall, álbum que consagrou o Pink Floyd e Waters." (Fabio Mora)
- DirectorXavier BeauvoisStarsBenoît PoelvoordeRoschdy ZemSéli GmachTwo friends decide to steal Charlie Chaplin's body, right after his death, for ransom.''A sobrecarga dramática que deu sustentação aos cinco longas do francês Xavier Beauvois não prenunciava a guinada satírica que o diretor adota em "O Preço da Fama". Aqui, trata-se de reconstituir o sequestro do caixão de Charles Chaplin, um fato registrado dois meses após a morte do astro, no Natal de 1977, mas que Beauvois não trata como reconstituição histórica fiel e enfadonha. De fato, em março de 1978, um polonês e seu colega búlgaro se improvisaram como ladrões de defunto com o objetivo de levantar capital para abrir uma oficina mecânica. "O Preço da Fama" reinterpreta esse fait divers já nas primeiras notas da música de Michel Legrand, que deslocam a faceta criminal do acontecimento para a fantasia. O reencontro de Osman (Roschdy Zem), um imigrante argelino, com Eddy (Benoît Poelvoorde), um trapaceiro belga que acaba de sair da prisão, é acompanhado com desconfiança por Samira (Séli Gmach), filha de Osman. Se a menina, que vive com o pai num trailer (como Chaplin e Paulette Godard em Tempos Modernos), reage com temor à aproximação de um ex-detento, logo sua curiosidade de criança é atraída pelo temperamento desligado da realidade de Eddy, que o rosto-máscara de Poelvoorde torna irresistível. O filme explora as semelhanças entre a situação precária em que vivem Osman e Eddy e o status marginalizado de Carlitos. Se Chaplin era na realidade um milionário que vivia numa mansão, a imagem do personagem que ele eternizou é a do excluído. Beauvois, no entanto, evita reiterar esse parentesco mimetizando o estilo visual de Chaplin ou falsificando uma estética passadista. Ele prefere evocá-la por meio dos atores, que se inspiram no espírito chapliniano para nos fazer acreditar que o mundo é um lugar de ordens que precisam ser desfeitas.'' (Cassio Starling Carlos)
2014 Lion Veneza - DirectorDavid JungStarsShane JohnsonElla AndersonCara PifkoAfter poor advice from a psychic leads to the death of his wife, a man vows to disprove the existence of the paranormal by allowing himself to be possessed by demons.''O cinema de terror já foi metafísico, barroco, alegórico, erótico, engajado, fez crítica social e desafiou nossos limites de suportar a violência e o medo. A avalanche recente de produções do gênero parece apenas fascinada pelos dispositivos digitais e se esquece do poder assombroso da imaginação. Em "A Possessão do Mal", por exemplo, estamos diante da enésima variação do found footage, o filme que simula ser o registro feito por alguém que foi meter o nariz onde não devia e se deu mal. O coitado da vez é um tal Michael King, um jovem documentarista que registra sua felicidade familiar num plácido domingo no parque para ter a certeza de que sempre poderá revivê-la. No instante seguinte, a morte súbita de sua mulher espatifa seus sonhos. A partir daí, ele decide realizar um documentário em primeiro pessoa, um equivalente a Super Size Me - A Dieta do Palhaço, para demonstrar que o espiritualismo e as crenças religiosas não passam de embromações para distrair as almas dos ingênuos. Na primeira parte do filme, o realizador assume uma postura cética e cínica durante entrevistas com uma vidente, um padre exorcista internado num asilo e um casal que se dedica ao ocultismo demonológico. Ao se submeter a um estranho teste de São Tomé, Michael passa a ouvir vozes, mergulha numa insônia permanente e seu transtorno obsessivo-compulsivo só piora. As câmeras e gravadores de que ele se cerca com a confiança de que servem para registrar a realidade passam a ser controlados pelas tais forças do mal, comandam atos que escapam à vontade dele e exigem o sacrifício de Ellie, a pequena filha que Michael venera. Nessa segunda parte, o filme se torna uma sucessão mecânica de torturas físicas, mutilações e sanguinolências na qual falta a substância própria do gênero terror: medo. Numa cena de deformação física de Michael, os efeitos visuais são tão toscos que nossa primeira reação é a de quem assiste a um terror. Mas o filme se leva bem a sério, estica e puxa seus 83 minutos até que Michael, numa variação da duplicidade de O Médico e o Monstro, encontre Ellie escondida e possa decidir se ainda é o pai bonzinho ou a marionete movida por forças malignas. O roteiro e direção assinados pelo estreante David Jung não anunciam nenhum talento especial, apenas nos deixam prevenidos para evitar um reencontro com seu nome em breve." (Cassio Starling Carlos)
- DirectorPablo LarraínStarsAlfredo CastroRoberto FaríasAntonia ZegersA crisis counselor is sent by the Catholic Church to a small Chilean beach town where disgraced priests and nuns, suspected of crimes ranging from child abuse to baby-snatching from unwed mothers, live secluded, after an incident occurs.''Em menos de uma década, o nome do realizador chileno Pablo Larraín emergiu e conquistou espaço e premiações em importantes festivais com releituras de fantasmas da ditadura de Pinochet que desconcertaram pela inovação de seus pontos de vista. Com "O Clube", vencedor do Urso de Prata no Festival de Berlim deste ano, o diretor de No aborda o tema do abuso sexual por padres católicos. Ao tomar distância da questão histórica que atraiu a atenção e deu forma a seu cinema, Larraín não perde nada de sua capacidade de incomodar. O título irônico refere-se a uma casa, num vilarejo perdido à beira -mar, onde se isolam quatro padres acusados de pedofilia e uma religiosa que cuida da rotina doméstica e assegura o isolamento. A estabilidade do grupo é garantida pela imposição de uma lei do silêncio, por hábitos monásticos e pelo bloqueio a qualquer contato com a pequena comunidade próxima à casa. A repressão do desejo homossexual estende-se à mortificação dos afetos. O único sentimento que eles se autorizam é por um cão galgo, cujas vitórias em corridas são apreciadas pelo grupo à distância. Essa ordem, no entanto, logo será perturbada pela chegada de um novo hóspede, pela intromissão de uma de suas vítimas e pela entrada em cena de um religioso, diretor de consciência, que passa a questionar, impor responsabilidades e atribuir culpas. O ambiente claustrofóbico intensifica o sufocamento moral ao qual os personagens parecem condenados. O papel do diretor de consciência, anunciado como um anjo negro de grande beleza, será equivalente ao do visitante em Teorema, de Pier Paolo Pasolini: confrontar cada indivíduo a sua verdade e a suas sombras. Do mesmo modo que em No a aparência de vídeo antigo da imagem agregava uma temporalidade e um distanciamento à história, em "O Clube" a fotografia também provoca um efeito narrativo especial. Seja em externas ou em interiores, em cenas diurnas ou noturnas, faça chuva ou faça sol, a luminosidade opaca que banha cada segundo do filme dificulta a visão clara da face dos personagens, impede de enxergar com clareza o que os move e, sobretudo, nos impossibilita distinguir o bem do mal. Essa opacidade só amplifica o sentimento misto de repulsa e consideração que sentimos pelos personagens, em sua miséria, em sua humanidade, em sua queda. Sem sensacionalismo, sem melodrama e sem condenação a priori, Pablo Larraín consegue fazer com "O Clube" um filme cujo fascínio brota do desconforto que ele provoca." (Casio Starling Carlos)
2015 Urso de Ouro - DirectorEli RothStarsKeanu ReevesLorenza IzzoAna de ArmasA devoted husband and father helps two stranded young women who knock on his door, but his kind gesture turns into a dangerous seduction and a deadly game of cat and mouse.''A casa é um lugar tão clássico do cinema de terror e de suspense que ninguém que tenha o costume de assistir a esse tipo de filmes abre a porta para estranhos sem antes sentir um ligeiro calafrio. "Bata Antes de Entrar" busca reviver a experiência clássica desse pesadelo consagrado em filmes como Halloween ou Pânico, mas acaba reproduzindo a visão puritana de Atração Fatal, no qual o adultério aparecia como o pior dos pecados e exigia punição. Talento não falta ao diretor Eli Roth quando decide, como aqui, se dedicar menos a apavorar com amputações e sanguinolências, como fez tanto em O Albergue ou Canibais. Na primeira parte de "Bata Antes de Entrar", o diretor constrói climas de suspense com habilidade, explora a dúvida e a suspeita e filma a casa como espaço confortável e sob controle que de repente pode virar uma câmara de torturas. Ali, sozinho durante um feriado e na ausência de sua família perfeita, o arquiteto quarentão Evan Webber (Keanu Reeves) cria um novo projeto, fuma maconha e ouve músicas para melhor se inspirar. A chegada de Genesis, interpretada por Lorenza Izzo (Canibais) e Bel (Blind Alley), papel de Ana de Armas, uma dupla de jovens gostosas e perigosas, começa perturbando de leve a ordem e aos poucos desmantela todo o equilíbrio privado construído pelo protagonista. Para funcionar, a trama precisaria provocar uma empatia pela vítima que a imagem pouco frágil do ator Keanu Reeves (Matrix) impede que aconteça. Enquanto as intérpretes das garotas passam do simulado ao cruel com uma intensidade histérica. Em vez de seguir a sugestão inicial, da ameaça vaga que progride até o terror absoluto, Eli Roth prefere o caminho dos saltos. Depois que abandona a tortura psicológica e passa para a ação física, o diretor coloca o filme no piloto automático e se preocupa apenas a provocar sustinhos.'' (Cassio Starling Carlos)
- DirectorJuan Manuel CoteloStarsJohn BruchalskiSilvia BusoClara CoteloThe Devil's Advocate receives a new mission: to fearlessly investigate those who still trust Heaven's formulas. Are they swindlers? Swindled? If he discovers that their beliefs are bogus, our lives will remain the same. But - what if they're not a fairy tale?''Há 52 anos, a Igreja Católica aprovou o decreto Inter Mirifica (entre as maravilhas), no Concílio Vaticano 2º. A Igreja, que à época ainda discutia se as missas deveriam ser rezadas apenas em latim, concluiu que negar a modernização da linguagem era inútil. A duras penas, é verdade, pois nem todos na instituição se maravilharam com aquele texto pró-meios de comunicação. Mas imperou a máxima: Se você não pode vencer seu inimigo, una-se a ele. Para estar entre as maravilhas da linguagem de 2015, a equipe de "Terra de Maria" divulgou no Facebook uma selfie de elevador que incluía padres e freiras sorridentes. O filme da produtora espanhola Infinito Más Uno fez o dever de casa. Vale-se de tiradas engraçadinhas e embalagem jovial para corroborar dogmas de uma instituição de mais de dois milênios. Diretor e protagonista da obra, Juan Manuel Cotelo vive uma espécie de James Bond que bebe suco de laranja (batido, não mexido). Ele investiga a fé cristã, um movimento que seria de pessoas insignificantes", mas mais poderoso do que "Napoleão, comunismo, capitalismo e até futebol. Para a missão, o agente adota uma persona: diz ser o advogado do diabo. Seus entrevistados são pessoas reais que se converteram, como a colombiana que foi de "top sensual a top espiritual" após se arrepender de um aborto. Hoje, a modelo associa a prática a males como bulimia e depressão. É nessa mescla de documentário, drama e comédia que "Terra de Maria" peregrina. E a sinopse já diz a que veio esse filme: Era uma vez Deus. Este é o fim da história. Prega para convertidos: difícil imaginar um cético que saia da sessão convencido. Cotelo, com trejeitos de repórter do CQC e Steve Carell (o chefe de The Office), tem timing" cômico. Arrancou gargalhadas da plateia lotada no cinema do shopping Santa Cruz, em SP, no feriado de Nossa Senhora Aparecida (dezenas ficaram sem ingresso). O agente indaga se não era mais acurado dizer que Jesus está vivo na memória coletiva, como o Michael Jackson. Em várias cenas, o filme questiona se há uma lavagem cerebral mundial. Até menciona padres pedófilos, corruptos e mulherengos. A mea culpa, contudo, soa como gambiarra intelectual, como se fosse uma inflexão do rocambolesco discurso de "dobrar a meta" da presidente Dilma: Vamos deixar a culpa aberta, mas quando atingirmos a mea culpa, vamos dobrar a culpa.... Afinal, ainda que cite escândalos na Igreja, "Terra de Maria" relativiza: Desde quando dependemos da mídia pra saber a verdade?. Há momentos inesperados, como o do missionário com camisa na qual o nome de Jesus imita o logo da Harley-Davidson. Entre as prostitutas que evangeliza está uma travesti devota da Virgenzinha – que, ao menos na cópia dublada, refere-se a si mesma no masculino (fui mesquinho). Já ele a chama de irmãzinha. Em geral, a obra não dá muita margem para debater dogmas eclesiásticos –como o próprio papa Francisco vem fazendo em temas como LGBT e divórcio. Para a maior instituição religiosa do planeta, mudar a forma de entregar a mensagem é um começo. Mudar o conteúdo pode vir em slow-motion. Quem ficar por último é mulher do padre." (Ana Virginia Ballloussier)
- DirectorJohn Erick DowdleStarsLake BellPierce BrosnanOwen WilsonIn their new overseas home, an American family soon finds themselves caught in the middle of a coup, and they frantically look for a safe escape from an environment where foreigners are being immediately executed.''Mais habituados aos registros da comédia, Owen Wilson e Lake Bell são os protagonistas deste "Horas de Desespero", drama de ação cheio de tensão e violência. Os dois até que se saem bem como um casal que chega com as duas filhas ao sudeste da Ásia, onde ele vai trabalhar como engenheiro, mas logo se vê no olho do furacão por conta de um golpe de Estado. São caçados por hordas de rebeldes enfurecidos e devem se superar para sobreviver. Nessa epopeia, o casal conta com a ajuda providencial do britânico Hammond (Pierce Brosnan), um tipo tão enigmático quanto cabotino, que conhece bem o país. Experiente como diretor de filmes de horror e suspense, John Erick Dowdle cria uma atmosfera opressiva, transformado a cidade num labirinto diabólico onde as ameaças estão por toda parte. Paralelamente, usa velhas receitas para incensar a coragem do casal, como na cena mais emblemática, quando Jack (Owen Wilson) obriga a família a pular do teto de um edifício até o prédio vizinho. Aqui, o recurso fácil da câmera lenta acentua a dramaticidade da situação e o heroísmo do pai. A trilha funciona da mesma forma. Mas os clichês do filme não são nada quando comparados à indigência do roteiro, um monumento ao maniqueísmo em que todos os preconceitos sobre o estrangeiro, segundo o ponto de vista americano, se materializam. Nossa família modelo está num país que sequer é nomeado, suas especificidades geopolíticas são ignoradas, colocando tudo no nível mais rasteiro do delírio de perseguição e dos velhos mitos do perigo amarelo –angústias tipicamente norte-americanas. A única saída frente a tanta desfaçatez é encarar esse festival moralmente desonesto de absurdos como uma comédia." (Alexandre Agabiti Fernandez)
- DirectorDavid TruebaStarsJavier CámaraNatalia de MolinaFrancesc ColomerIn Spain in 1966, an English teacher picks up two hitchhikers on his quest to meet John Lennon.''Em 1966, John Lennon passou uma temporada em Almeria, sul da Espanha, rodando como ator o filme Como Ganhei a Guerra, uma comédia de humor negro dirigida por Richard Lester (Help!). Fanático pelos Beatles, um professor espanhol foi ao encontro de Lennon e lhe fez um pedido – que teria sido atendido e levado a uma sutil mudança na forma como o grupo inglês lançava seus discos. Para descobrir essa novidade, é preciso esperar o final de "Viver é Fácil com os Olhos Fechados", que tira seu título de uma frase da canção Strawberry Fields Forever (living is easy with eyes closed).
Dirigido por David Trueba (Soldados de Salamina, irmão do cineasta Fernando Trueba) e ganhador de seis prêmios Goya, o filme parte desse fato real para criar uma história ficcional sobre a viagem do professor até Lennon. No longa, Antonio (Javier Cámara) é um professor que ensina seus alunos a falar inglês a partir das músicas dos Beatles e que, ao saber da presença de Lennon em terras espanholas, pega seu carro e dirige até Almeria. No caminho, dá carona a dois jovens: Belén (Natalia de Molina), garota que escapa de uma casa onde é escondida para ocultar sua gravidez do mundo, e Juanjo (Francesc Colomer), adolescente que foge de um pai autoritário que não aceita seu cabelo comprido. O subtexto dessa fábula agridoce é o choque entre o discurso progressista de Lennon, que tem em Antonio um porta-voz, e a mentalidade conservadora da Espanha franquista, representada pelos pais de Belén e Juanjo e pelos habitantes de Almeria. Como em outros road movies, os personagens vão se transformando internamente à medida que se modifica a paisagem externa. Sob a batuta do sonhador Antonio, Belén e Juanjo descobrem possibilidades menos conformistas para suas vidas. Libertário na mensagem, "Viver é Fácil com os Olhos Fechados" é conservador na estética. Um filme que parece ter sido realizado antes do surgimento dos Beatles. Mas, dentro de uma proposta de linguagem acadêmica, David Trueba entrega um filme correto e, em alguns momentos, tocante –com a ajuda do sempre eficiente Javier Cámara (o enfermeiro de Fale com Ela). A favor do filme é preciso dizer também que ele cresce muito no final, quando a onipresente e melancólica trilha incidental é substituída por Strawberry Fields Forever.'' (Ricardo Calil) - DirectorSólveig AnspachStarsKarin ViardBouli LannersClaude GensacFollowing a botched job interview, Lulu decides not to return home, leaving her husband and their three children in the lurch. She premeditated nothing; it all happened quite simply. She steals a few days of freedom for herself, alone, on the coast with no other purpose in mind than to take full advantage of the moment, without feeling guilty about it. On the way, she crosses paths with a variety of people who, like herself, are at the edge of the world: a strange guy protected by his brothers; an old woman who is bored to death; a female employee hassled by her female boss. Three decisive encounters that will help Lulu rediscover an old acquaintance she's not seen for years: herself.''A sensação de déjà-vu é inevitável no começo de "Lulu Nua e Crua". A ideia da mulher que abandona tudo e cai no mundo para se redescobrir tem ecos de Pão e Tulipas, Shirley Valentine, Bagdad Café, Ela Vai etc. Mas, de forma lenta e por vezes titubeante, o filme da diretora Sólveig Anspach, baseado em HQ de Étienne Davodeau, consegue driblar os clichês que a situação põe em seu caminho e firmar uma personalidade própria. A protagonista é Lucie (Karin Viard), chamada de todos por Lulu, talvez por sua canina bonomia. Na primeira cena, ela se dá mal em uma entrevista de emprego em uma cidadezinha francesa, a alguma distância de sua casa. De sopetão, Lulu decide não voltar para o lar, deixando marido e filhos à espera. O motivo nunca fica claro – um marido desinteressado, o desejo de mudança –, e essa ambiguidade se revela como um dos trunfos do filmes. Em suas perambulações, Lulu encontra um simpático ex-detento que se apaixona por ela (Bouli Lanners), uma senhora que não quer morrer solitária (Claude Gensac), uma garçonete abusada pela patroa (Nina Meurisse). São todos personagens claramente simbólicos, representações de caminhos que se abrem para Lulu: a paixão (e um novo compromisso), a solidão (ou a fuga dela), o abuso (ou a sua recusa). Lulu vaga sem rumo entre essas possibilidades –e essa indefinição por vezes contamina Lulu. Há, por exemplo, toda uma subtrama bufona, ligada aos dois irmãos do ex-detento, deslocada em relação ao eixo do filme. Mas, no resto da narrativa, a atuação afinada de Viard segura o prumo de "Lulu Nua e Crua", dá um rosto peculiar ao filme e garante o encanto de sua mensagem final, de um feminismo discreto, mas determinado." (Ricardo Calil)
2014 César - DirectorEran RiklisStarsTawfeek BarhomRazi GabareenYaël AbecassisA Palestinian-Israeli boy named Eyad is sent to a prestigious boarding school in Jerusalem, where he struggles with issues of language, culture, and identity.''Já foi o tempo em que assistíamos a filmes de outros países para conhecer estéticas e narrativas diferentes. Ver uma produção chinesa, indiana ou africana significava mergulhar em sensibilidades e estilos distantes dos nossos. Hoje o cinema globalizado conseguiu padronizar quase tudo numa estética de novela de televisão. Não interessa onde se passa a história: tudo vai parecer familiar. É o caso de "Os Árabes Também Dançam", uma coprodução israelense, francesa e alemã, adaptada de um romance do escritor israelense de família árabe Sayed Kashua: os elementos locais estão lá, mas tudo é embalado numa estética publicitária. O resultado é um filme que desperdiça uma boa história com uma narrativa comum. O protagonista é Eyad, um palestino nascido em Israel que vai estudar em uma rígida escola israelense e sofre com o preconceito de colegas e professores. Eyad é um menino-prodígio que soluciona uma charada impossível em um programa de TV e é o orgulho do pai, que anos antes foi preso por um atentado. As coisas pioram na escola quando Eyad se apaixona por uma colega de classe, Naomi, e precisa manter o romance em segredo. Ele também faz amizade com Yonatan, um rapaz que usa cadeira de rodas. Yonatan é o tipo sensível e complexo. Para deixar isso claro, o diretor Eran Riklis faz questão de colocar o personagem ouvindo a banda pós-punk Joy Division, hino de dez entre dez adolescentes sensíveis. Além de recorrer a todos os clichês, o roteiro abusa do tom didático, com diálogos e imagens de telejornais que explicam para o espectador, como se ele tivesse 12 anos, o conflito árabe-israelense. A tônica do moderno cinema globalizado é essa: transformar toda história em novela de TV." (Thales de Menezes)
- DirectorFrancis LawrenceStarsJennifer LawrenceJosh HutchersonLiam HemsworthKatniss Everdeen is in District 13 after she shatters the games forever. Under the leadership of President Coin and the advice of her trusted friends, Katniss spreads her wings as she fights to save Peeta and a nation moved by her courage.''Após um começo tateante dirigido por Gary Ross, a franquia "Jogos Vorazes" passou a ser assinada por Francis Lawrence, que fez um belo segundo episódio com um sugestivo subtítulo: "Em Chamas". O terceiro e último episódio tem duas partes, o que transforma a série numa tetralogia. Katniss Everdeen (Jennifer Lawrence) é cooptada por uma organização de rebeldes liderada por Alma Coin (Julianne Moore), que visa a destruição da capital governada pelo tirano Snow (Donald Sutherland). Ao mesmo tempo, Katniss quer resgatar seu novo amor Peeta Mellark (Josh Hutcherson), com a ajuda de Haymitch (Woody Harrelson) e Plutarch (Philip Seymour Hoffman, a quem o filme é dedicado). O diretor insere elementos interessantes: apesar da doçura de Alma Coin, a organização rebelde parece uma célula fascista; Katniss está cada vez mais perturbada; por fim, nada parece ser real. A pulga foi suficientemente bem colocada atrás de nossas orelhas, deixando-nos ansiosos pelo próximo longa." (Sergio Alpendre)
*2015 Globo - DirectorRobert AltmanStarsSusannah YorkRene AuberjonoisMarcel BozzuffiWhilst writing a children's book, a woman interrupted by images unsure if they may, or may not be real''É essencial que possamos acompanhar e entender a obra de um grande cineasta, como o foi o americano Robert Altman, também por filmes que talvez representem desvios de percurso em relação àqueles que o consagraram. É o caso destas "Imagens'', que funcionam como música de câmara em relação à coralidade e às múltiplas narrativas de obras-primas como Nashville ou Short Cuts. Trata-se de música invadida por sons estranhos, tensa, perturbadora... Fascinante, embora os anos tenham roubado um pouco de seu brilho experimental, que outros autores, como David Lynch, se encarregaram de refinar. O diretor flerta com o terror psicológico e o suspense ao focar a escritora Cathryn (Susannah York) e seu marido numa casa de campo isolada. O mergulho no processo de escrita de um livro para crianças (À Procura de Unicórnios, da própria York) leva Cathryn (e o filme) a abraçar certa esquizofrenia latente e erotizada, que desagrega os limites do real." (Roberto Alves)
45*1973 Oscar / 30*1973 Globo / 1972 Palma de Cannes - DirectorPeter BogdanovichStarsImogen PootsOwen WilsonJennifer AnistonOn the set of a playwright's new project, a love triangle forms between his wife, her ex-lover and the call-girl-turned-actress cast in the production.''O espectador que entrar na sala durante os créditos de "Um Amor a Cada Esquina" pode pensar ter ido assistir a um filme tradicional de Woody Allen com Jennifer Aniston no papel de isca. A abertura ao ritmo de Cheek to Cheek embalada por Fred Astaire evoca o mesmo tipo de aura nostálgica das comédias de Allen. A velocidade e a verve do primeiro diálogo ressurgem a cada cena mais absurda que a outra e reafirmam o parentesco. Só que se trata mais de uma herança comum do que de imitação. O diretor de "Um Amor a Cada Esquina" é Peter Bogdanovich, hoje mais reconhecido como o Dr. Elliot de Família Soprano. Ele foi um dos nomes centrais da chamada "nova Hollywood", o momento dos anos 1970 em que jovens realizadores injetaram ideias e revitalizaram a encarquilhada indústria do cinema da época. Como Scorsese, Coppola, Friedkin e o próprio Allen, Bogdanovich é um cineasta embriagado de cinema. Viu, leu e escreveu compulsivamente sobre a obra de grandes diretores. Quando passou para trás das câmeras, tanta cultura contaminou as falas, as situações e, sobretudo, o espírito de seus filmes. Em "Um Amor a Cada Esquina", ele evoca e homenageia o humor de duplo sentido das comédias de Ernst Lubitsch e de Billy Wilder (1906-2002), cineastas de origem germânica que, a partir da década de 1920, divertiram as plateias com piadas mais subversivas do que Hollywood parecia tolerar. No jogo do parece, mas não é, "Um Amor a Cada Esquina" é uma típica comédia maluca que mistura uma atriz que sobrevive como garota de programa, um juiz que transgride leis em vez de determinar sua execução e uma psiquiatra mais perturbada que todos os seus clientes juntos. Apesar de continuar um diretor fiel a referências e citações, Bogdanovich não faz um filme elitista e exclusivo para públicos intelectualizados. Apenas demonstra que o humor inteligente não usa só o pastelão para dar o prazer das risadas." (Cassio Starling Carlos)
- DirectorMax JosephStarsZac EfronWes BentleyEmily RatajkowskiCaught between a forbidden romance and the expectations of his friends, aspiring DJ Cole Carter attempts to find the path in life that leads to fame and fortune.''Feito para os fãs de Zac Efron, este drama musical retrata a fútil juventude branca californiana, cujos interesses se resumem a batidas da música eletrônica, sexo e drogas num festival de hedonismo e despreocupação. Caladão e meio indolente, Cole Carter (Efron) é um jovem DJ iniciante cujo sonho é fazer sucesso na cena da música eletrônica de Los Angeles. Aliás, a obsessão pela popularidade acomete quase todos os personagens. Mas a concorrência é dura. Cole conhece James (Wes Bentley), um DJ experiente e blasé, que resolve ajudá-lo a compor a faixa sonora que lhe abrirá as portas da fama. Mas ele se sente atraído por Sophie (Emily Ratajkowski), a namorada de James. Paralelamente, Cole trabalha no centro de atendimento telefônico da empresa de um agente imobiliário, ao lado de seus amigos de infância. Não estudam, seu projeto de vida é a diversão. Entre incontáveis raves, algumas filmadas em câmera lenta, e abundantes números musicais, essa narrativa previsível avança aos tropeços. A indigência existencial da turma exige pouco. Zac Efron até tenta emprestar um ar de gravidade ao seu personagem, enquanto Emily Ratajkowski passa o tempo fazendo caretas com seus lábios hipertrofiados, mas ela é modelo, não atriz. O melhorzinho do trio é Wes Bentley. O roteiro ainda traz uma antologia de bobagens que soam engraçadas de tão ridículas, como as teorias pseudocientíficas sobre os efeitos da música no corpo humano, e máximas com pretensões edificantes como Você só compreenderá a vida quando te acontecer alguma coisa irreversível". No fim dos 96 minutos de projeção, a única coisa que permanece é o zumbido nos ouvidos."(Alexandre Agabiti Fernandez)
- DirectorMélanie LaurentStarsJoséphine JapyLou de LaâgeIsabelle CarréCharlie is an average French suburban teenager, but when she becomes fast friends with Sarah, the rebellious new girl at school, she discovers there's nothing average about how she feels.''Existem diversas maneiras de mostrar as confusões da adolescência no cinema. Diretores como Nils Malmros ou Maurice Pialat fizeram maravilhas com esse tema. Mas é difícil, quase impossível, filmar algo novo dentro da linguagem do cinema narrativo contemporâneo. Mélanie Laurent, a jovem atriz de Bastardos Inglórios (ela interpretou a fugitiva Shosanna), não alcançou isso em "Respire", seu segundo longa como diretora. E talvez nem quisesse. Ao inserir elementos de um profundo desespero, chegando até a um tipo de horror psicológico bem característico de nossos dias, a cineasta tempera o tema de maneira habilidosa, sem a preocupação de inventar a roda. Charlie (Joséphine Japy) é uma garota razoavelmente popular e querida por seus amigos de colégio. Quando surge na sala de aula a nova aluna Sarah (Lou de Laâge), o acaso promove uma armadilha metafórica: a professora pede que a melhor amiga de Charlie mude de lugar e que Sarah o ocupe. Inicia-se assim uma amizade intensa, até obsessiva, com certa tensão erótica mal resolvida. Aos poucos, contudo, Charlie percebe que há alguma coisa muito estranha com Sarah. E a partir de uma revelação, a amizade não terá mais como ser a mesma. A própria Mélanie, com a ajuda de Julien Lambroschini, escreveu o roteiro, baseado em best-seller escrito por Anne-Sophie Brasme aos 16 anos. Seu maior pecado, no entanto, é insistir na tremedeira da câmera, esse tique desagradável de boa parte do cinema atual, mesmo nos momentos calmos, em que as garotas se divertem com amigos ou familiares. Por outro lado, na segunda metade da história, a intensidade dos acontecimentos coloca o filme em outra esfera de exigência dramática, e tanto a diretora quanto as atrizes se comportam de maneira bem interessante." (Sergio Alpendre)
2014 Palma de Cannes / 2014 César - DirectorRob LettermanStarsJack BlackDylan MinnetteOdeya RushA teenager teams up with the daughter of young-adult horror author R.L. Stine after the writer's imaginary demons are set free on the town of Madison, Delaware.''O adolescente Zach Cooper (Dylan Minnette) muda-se para uma pequena cidade americana e se encanta por sua vizinha Hannah (Odeya Rush). Ele descobre que o pai de Hannah, figura misteriosa e autoritária, é o escritor R. L. Stine (Jack Black), que existe na vida real, é chamado de Stephen King da literatura infantil e escreveu a série de terror Goosebumps. Há um bom motivo para a estranheza de Stine: os monstros de seus livros são reais e precisam ser mantidos dentro dos livros. Mas Zach acidentalmente os liberta – e eles passam a aterrorizar a cidadezinha onde vivem. No início, "Goosebumps: Monstros e Arrepios" lembra, de forma incômoda,Jumanji e Uma Noite no Museu – baseados no conceito das figuras que ganham vida. E, assim como esses filmes, Goosebumps se torna uma montanha-russa baseada na sucessão de cenas de ação frenéticas e no excesso de monstros. Mas, aos poucos, o filme firma uma personalidade própria. O diretor Rob Letterman (Monstros vs Alienígenas) pode buscar o susto fácil, mas procura também o riso de forma inteligente, sabendo brincar, por exemplo, com as comparações entre Stine e King, com os paralelos entre realidade e ficção. Entre uma cena de terror aqui, outra de humor acolá, o filme encontra tempo para ser um romance de formação – sobre a passagem de Zach da adolescência à vida adulta – e uma defesa do poder da imaginação da literatura. Para um filme hollywoodiano dirigido ao público infanto-juvenil, não é pouco." (Ricardo Calil)
- DirectorRadu JudeStarsTeodor CorbanMihai ComanoiuToma CuzinSet in early 19th century Romania, a policeman, Costandin, is hired by a nobleman to find a Gypsy slave who has run away from his estate after having an affair with his wife.''O cinema romeno contemporâneo foi supervalorizado por muitos críticos. É certo que filmes interessantes surgiram nos últimos anos, alguns até bons, mas nada que mereça maior entusiasmo. Mais um bom filme é "Aferim!", de Radu Jude, premiado com o Urso de Prata de melhor diretor no último Festival de Berlim, e o escolhido pela Romênia para disputar uma indicação ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Filmado em preto e branco e no formato super horizontal do scope (a tela inteira é ocupada), este é o quarto longa de Jude, e o primeiro dele a ser exibido na Mostra de SP. Na década de 1830, o policial Costadin é contratado por um nobre local para capturar um escravo cigano foragido. Seu crime: dormiu com a esposa do nobre e se mandou. Cena do filme "Aferim!",Costadin tem a ajuda de seu filho, que durante a perseguição aprende bastante sobre as injustiças da vida e os preconceitos da sociedade (a escravidão será abolida na Romênia alguns anos depois). O filme pode passar a impressão de rigor formal, com planos longos e a composição de suas imagens contrastadas, mas creio não ser bem isso que melhor o caracterize. Trata-se, na verdade, de uma direção equilibrada, com a câmera perseguindo os atores na maior parte do tempo, ou descrevendo um cenário pelo qual eles irão passar. "Aferim!" nos ensina algumas coisas sobre a vida na Romênia da primeira metade do século retrasado (quando o feudalismo parecia ainda prevalecer) e sobre a relação entre os povos do país. Há espaço também para o humor, presente em alguns diálogos entre pai e filho e num encontro de ambos com um padre que, de maneira hilária, discorre sobre as diferenças entre os povos. Muitas falas, segundo um letreiro no final do filme, são provenientes de documentos históricos. Radu Jude foi assistente de direção de Costa-Gavras em Amém e também trabalhou com Cristi Puiu em A Morte do Sr. Lazarescu – este, sim, um filme romeno contemporâneo supervalorizado." (Sergio Alpendre)
2015 Urso de Ouro - DirectorLaurie AndersonStarsLaurie AndersonArchieJason BergMultimedia artist Laurie Anderson reflects on her relationship with her beloved terrier Lolabelle.''Laurie Anderson era garota quando levou seus irmãos para passear sobre um lago congelado. Um buraco se abriu no gelo, e os dois pequenos submergiram no negrume da água gelada. Ela não titubeou: mergulhou, salvou um. Depois mergulhou, salvou outro. Ao chegar em casa, contou a história para a mãe e esperou sua reação. Ela a elogiou muito – especialmente por suas habilidades como nadadora e mergulhadora. Laurie registrou o momento como o de maior conexão e amor com sua mãe, com quem teria uma relação conflituosa. Com memórias e reflexões sobre a vida – e a inevitável convivência com a morte –, a multiartista desenvolve com criatividade "Coração de Cachorro". É um filme diferente, denso, com pedacinhos de humor e críticas ao cotidiano nos Estados Unidos depois do 11 de Setembro. A cadela Lolabelle em "Coração de Cachorro", de Laurie Anderson. Artista performática, compositora de músicas experimentais, criadora de instrumentos, escultora, Laurie Anderson inova também no cinema. Mescla com sensibilidade diferentes recursos gráficos com filosofia, histórias, música. Sentir a tristeza sem ser triste. É o caminho que ela diz buscar. Sim, tem o cachorro. Sua cadela Lolabelle, uma fox terrier, a acompanha por caminhadas em campos. Era uma forma de enfrentar a angústia e perplexidade com as transformações que aconteciam nos EUA – que foi se tornando cada vez mais militarizado e preocupado em espionar cidadãos. Em sua trajetória, Lolabelle vira artista: faz esculturas, pinta, toca. Laurie trabalha seus laços com a pequena, filma com a perspectiva dela. Até que ela se vai. Quem tem cachorro sabe do que se trata. Mas o filme não é só sobre a dor da morte de Lolabelle ou sobre o desaparecimento da mãe. O que permeia tudo é o universo de Laurie Anderson após a morte de Lou Reed, seu companheiro por duas décadas. O músico é presença sutil, mas intensa. Sua composição Turning Time Around amarra, no final, todo o filme. Calma, a fita vai se derramando e criando uma atmosfera reflexiva. Mesmo quem não se identifica com os princípios filosóficos e religiosos da artista ganha minutos para simplesmente pensar na vida – com tudo incluído: alegrias, perdas e a necessidade de seguir adiante. Por isso, o documentário existe e vale." (Eleonora Lucena)
''Quase 30 anos depois de Terra de Bravos, a multiartista Laurie Anderson está de volta ao longa-metragem. O documentário "Coração de Cachorro" foi concebido a partir de três perdas sucessivas que a marcaram: da mãe, do marido, Lou Reed, e de sua cadela Lolabelle. Cheio de lirismo e de uma liberdade de tom que contempla o humor, o filme é uma espécie de fluxo de consciência, uma viagem no tempo que tece uma meditação sobre a existência, a identidade, o amor, a memória, a linguagem e seus limites e a morte. Mas também aborda o comportamento dos animais, o budismo e a sociedade de controle pós-11 de setembro. A cineasta recorre a uma grande variedade de imagens – como trechos de filmes super-8 de sua infância, desenhos de sua autoria, vídeos da cadela, fotografias– muitas delas fora de foco, tratadas por filtros ou salpicadas por gotas d'água, que lhes dão ares oníricos. Na faixa sonora, uma colagem de obras de Anderson – que variam da música eletrônica ao quarteto de cordas – dialoga com as reminiscências das imagens e com sua voz serena que rememora momentos de sua vida e conduz à reflexão. É a partir da afinidade com o animal – com o qual Anderson estabelece uma relação maternal, como mostra a bela sequência de animação da abertura – que ela fala da relação com a mãe, marcada por conflitos. Tudo isso conduz ao luto pela perda do marido (jamais mencionado, mas cuja presença paira por todo o filme) que se concretiza na cena final, quando sua voz irrompe cantando a emblemática canção "Turning Time Around", que fala do amor e do tempo. Apesar de autorreferente o tempo todo, não há sinal de narcisismo ou pretensão nesse filme poético e sensível." (Alexandre Agabiti Fernandez)
2015 Lion Veneza) - DirectorMichel FrancoStarsTim RothSarah SutherlandRobin BartlettA home care nurse works with terminally ill patients.''Pode um filme inteiro ser arruinado por uma única imagem? Em "Chronic", Michel Franco nos mostra que sim – e comprova, por tabela, como o cinema é arte frágil. Franco não está sozinho, é claro. Outros filmes já foram destruídos pela insistência de seus diretores em acrescentar algum detalhe que, em geral, tem o objetivo de impor sua visão de mundo – uma espécie de capricho autoral que tem a força de anular tudo o que havia sido dito até aquele momento (como Lars Von Trier e o desfecho niilista de Ninfomaníaca, por exemplo; ou Maiwenn e o apelativo fim de Polisse). Único filme da América Latina na lista de Cannes 2015, mas é falado em inglês. Sobre um enfermeiro que ajuda quem está no leito da morte. O caso de "Chronic", primeiro longa em língua inglesa do mexicano Michel Franco (Depois de Lucia), é bastante parecido e igualmente doloroso. Assim como em Ninfomaníaca e Polisse – ainda que em níveis bem diferentes, é claro –, qualidades genuinamente sólidas, ligadas principalmente ao evidente trabalho e à notória dedicação dos atores, acabam destruídas por uma única decisão infeliz do diretor. "Chronic" narra a vida de um enfermeiro (interpretado por Tim Roth) que trabalha como acompanhante de doentes terminais. Franco preenche seu filme com um olhar cuidadoso sobre a rotina desse personagem e sua relação com os pacientes, optando por ser bem menos detalhado ao abordar a vida pessoal do protagonista. Inicialmente, a decisão por uma narrativa elíptica parece uma forma interessante de economia dramática, mas aos poucos se mostra apenas um recurso fácil no sentido de prender a atenção do espectador e tentar criar mistério. O roteiro solta algumas informações, mas omite sempre as que seriam as mais importantes – uma estratégia tão batida quanto eficiente ("Chronic" recebeu o prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes). Menos que uma estratégia: um truque que se mostra com clareza na imagem derradeira, que não poderia ser mais impactante e boba. E mais: não é possível dizer que esse desfecho, de tão infeliz, possa ser classificado como spoiler." (Pedro Butcher)
2015 Palma de Cannes - DirectorAleksey German Jr.StarsLouis FranckViktoriya KorotkovaMerab NinidzeEpisodic, spiritual and existentialistic look at the state the Russia is in in 2017, exactly one hundred years after the communist-led Russian Revolution. The future looks gloomy, since the world is on the brink of yet another world war.''Aleksei German Jr. precisou fazer um intervalo nas filmagens de "Sob Nuvens Elétricas" quando, depois de muitos anos, conseguiu recursos para terminar Hard to Be a God (difícil ser Deus), filme que seu pai, o mestre do cinema russo Aleksei German – de Meu Amigo Ivan Lapshin (1985)– deixou inconcluso ao morrer, em 2013. Seria de se esperar, portanto, que "Sob Nuvens Elétricas" fosse um trabalho profundamente marcado pelo signo de Hard to Be a God. Mas, ainda que guarde algo do espírito ambicioso e iconoclasta do pai, neste seu terceiro longa, German Jr. se confirma como um diretor de personalidade e força próprias. O cineasta situa sua história em um futuro bem próximo (a Rússia de 2017, ano do centenário da revolução) e organiza sua narrativa em capítulos, escolhendo como cenário principal o esqueleto de um prédio nunca terminado. Por ali circulam artistas, moradores de rua, empresários corruptos e advogados do mundo imobiliário. Os personagens representam facetas de um país em estado caótico, mas o resultado não é propriamente uma alegoria da Rússia atual, aproximando-se mais de um retrato fragmentado que não forma necessariamente uma totalidade e não procura tirar conclusões determinantes e inflexíveis sobre o país. Visualmente excitante, sem que a beleza plástica se torne um peso –o filme ganhou o prêmio de contribuição artística por sua fotografia, no último Festival de Berlim –, "Sob Nuvens Elétricas" sofre as consequências de sua grande ambição. Mas quando está perigosamente próximo de um tom demasiadamente solene, o diretor recorre ao antídoto do humor, quase sempre com efeitos bem desconcertantes. No fim das contas, German Jr. consegue fazer com que sua ambição não se torne uma pretensão absoluta, impedindo que comprometa o filme. Ao contrário, hoje pode ser considerado mais do que bem-vindo, um filme que busque voos mais altos." (Pedro Butcher)
2015 Urso de Ouro - DirectorBrian De PalmaStarsCliff RobertsonGeneviève BujoldJohn LithgowA wealthy New Orleans businessman becomes obsessed with a young woman who resembles his wife.''Brian de Palma surgiu nos 1970 como um grande talento, dirigindo filmes pequenos e inventivos, como O Fantasma do Paraiso e Carrie. Depois se perdeu em projetos grandiosos e não tão interessantes como Os Intocáveis. De sua primeira e mellhor fase, "Trágica Obsessão" é angustiante. Clif Robertson interpreta um homem que surta ao descobrir uma mulher parecida com sua esposa morta. Um grande filme, para público maduro." (Thales de Menezes)
49*1977 Oscar - DirectorSam EsmailStarsJustin LongEmmy RossumKayla ServiSet in a parallel universe, Comet bounces back and forth over the course of an unlikely but perfectly paired couple's six-year relationship.''Produto típico da geração de Sundance, ou seja, do cinema falsamente independente feito nos últimos anos, "Eu Estava Justamente Pensando em Você", de San Esmail, mostra que a decadência do cinema americano atinge todas as suas frentes, não apenas o blockbuster. O filme mostra o relacionamento conturbado entre Dell (Justin Long, em atuação afetada) e Kimberly (Emmy Rossum), mas os eventos são embaralhados, e muitas vezes filmados como se pertencessem a uma outra dimensão. Parte da ideia é justamente provocar o desnorteamento do espectador, que é emaranhado por uma rede de informações propositadamente desconexas. A matriz óbvia é Wong Kar-Wai, principalmente dois filmes celebrados na década passada, Amor à Flor da Pele e 2046. Trata-se, assim, de um trabalho que privilegia sensações e procura entender, em momentos dispostos sem qualquer didatismo, uma relação entre duas pessoas que se gostam e se repelem. No campo formal, o enquadramento desloca as principais informações para as laterais da tela, o que faz com que campos e contracampos pareçam mostrar os atores interagindo com a borda da tela. O efeito não é novo. Vem de Michelangelo Antonioni, de Jean-Marie Straub e Danielle Huillet, da nouvelle vague japonesa, muito antes de Wong Kar-Wai. E se olharmos para a vanguarda dos anos 1920, encontraremos experiências semelhantes. O filme exige paciência do espectador, que se conseguir resistir aos horrendos primeiros minutos, pode até embarcar nesta brincadeira disfarçada de coisa séria." (Sergio Alpendre)